A greve às avaliações - cuja marcação ou anulação será anunciada nesta quarta-feira pela "plataforma" que reúne dez organizações sindicais - não está a tirar o sono aos diretores, para os quais muito dificilmente será repetido o cenário do ano passado, em que dezenas de milhares de alunos viram a divulgação das suas notas ser adiada devido ao cancelamento de muitas reuniões de conselho de turma. Mas não deixam de olhar com apreensão para o que falta do ano letivo e para o início do próximo. .No que respeita às avaliações, explica Filinto Lima, da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), a decisão do Ministério da Educação, no ano passado, de aplicar às escolas as regras do Código de Procedimento Administrativo (CPP), impondo a realização das reuniões a partir do momento em que existisse quórum de pelo menos um terço dos docentes de cada turma, acaba por tirar dimensão ao protesto. .Antes, bastava que um professor faltasse à reunião para que esta tivesse de ser reagendada. E isso teve um forte impacto nas escolas. "Era uma greve fácil. Mas o governo mudou as regras", lembra. E agora não será repetir a escala dos protestos de 2018. "Se a luta dos sindicatos é a greve às avaliações, e parece que é isso que está em cima da mesa, esta greve só terá sucesso se acima de dois terços dos professores em cada conselho de turma fizerem greve. E acho muito difícil, em cada nove professores mais de seis fazerem greve", diz. "Viu-se no ano passado quando saiu este novo despacho", lembra. "Os casos em que a greve funcionou a partir daí foram pontuais.".Manuel António Pereira, presidente da Associação Nacional de Diretores Escolares (ANDE), concorda que a aplicação do CPP "é uma condicionante que de alguma forma mata este tipo de greve. Teoricamente, depois daquela alteração que permite que baste estar presente um terço dos professores do conselho de turma, o efeito que se produziu no último ano letivo deverá ser nenhum neste ano", considera.."Vivem-se momentos de grande desmotivação".Mas esta constatação está longe de significar que os diretores esperam tempos mais calmos no futuro próximo. Pelo contrário: o fracasso da votação no Parlamento da devolução dos nove anos, quatro meses e dois diasde tempo de serviço congelado causou "feridas" que, dizem, vão levar muito tempo a sarar. E podem ter consequências nefastas nas escolas.."A greve às avaliações é uma das menores preocupações que temos nas escolas", diz Manuel António Pereira. "O maior problema foi a forma pouco correta como os professores foram tratados nos últimos tempos. Foram maltratados, usados por toda a gente. Toda a gente falou dos professores mas ninguém falou com os professores. E vive-se um momento de grande desmotivação, preocupação e angústia nas escolas", garante. "Os professores sentem que foram maltratados numa altura em que o seu trabalho devia ser valorizado. E era preciso, com urgência, que quem fez este trabalho - o governo, o primeiro-ministro - falasse agora para dentro das escolas.".Quanto aos sindicatos, o presidente da ANDE defende que, mesmo se a greve às avaliações não avançar ou tiver pouco impacto, estes encontrarão outras formas de manter a luta intensa. "Sabemos que os sindicatos são muito imaginativos", lembra. Filinto Lima admite que estes estarão "a apontar muito para o arranque do ano letivo, numa altura em que nos últimos anos até tem havido alguma tranquilidade", podendo também fazer ouvir os seus protestos "durante a campanha eleitoral" para as legislativas de outubro..Os sindicatos, recorde-se, terão ainda de reunir entre si para analisarem e divulgarem as ações de luta a desenvolver no futuro próximo. A divulgação dessas decisões está prevista para esta quarta-feira, numa conferência de imprensa que terá lugar pelas 18.30 num hotel de Lisboa. Confirmada, para já, está uma manifestação nacional no dia 5 de outubro, que é também o Dia Mundial do Professor.