Milhares de espanhóis vindos de todo o país protestaram este domingo no centro de Madrid contra o esperado perdão do Governo de esquerda aos líderes independentistas catalães a cumprir penas de prisão que consideram uma "traição".."As pessoas que pretendiam dar um golpe de Estado não podem ser perdoadas", disse António, à agência Lusa, ao mesmo tempo que agitava uma bandeira espanhola..As medidas de segurança contra a pandemia de covid-19 levou a organização da concentração a declarar "lotação esgotada" e a fechar as entradas na praça de Colón (Colombo) logo no início do evento, às 12:00 (11:00 de Lisboa)..Segundo a polícia e a delegação do Governo na região de Madrid, cerca de 25.000 pessoas estiveram na concentração organizada por uma ex-militante socialista, Rosa Diez, que a partir de 2007 evoluiu para posições conservadoras..Vindo de Alicante, no sul do país, António estava desiludido com o número de pessoas à sua volta, explicando que na última concentração da direita, em 2019, antes da pandemia, estavam mais pessoas..Os líderes do Partido Popular (direita), Pablo Casado, do Vox (extrema-direita), Santiago Abascal e do Cidadãos (direita-liberal), Inês Arrimadas, ficaram entre os manifestantes, fazendo declarações à imprensa de forma separada e sem terem subido ao palco central..Casado e Arrimadas não quiseram repetir a conhecida "foto de Colón" em que apareciam ao lado de Abascal e que foi aproveitado pela esquerda para colar PP e Cidadãos à direita radical espanhola..O Governo de esquerda e a oposição de direita estão em rota de colisão há já várias semanas sobre um muito provável indulto a conceder aos políticos catalães a cumprir penas de prisão na sequência da tentativa de independência de 2017..O primeiro-ministro, Pedro Sánchez, pediu na quarta-feira à sociedade espanhola "confiança, compreensão e magnanimidade" para a possibilidade de serem concedidos perdões aos líderes pró-independência, porque acredita que "o objetivo vale a pena"..A praça de Colón é conhecida também pela enorme bandeira espanhola que tem hasteada, tendo-se tornado num lugar simbólico para a direita espanhola, e principalmente para os mais radicais desta área política..A maior parte dos presentes empunhava bandeiras ou símbolos monárquicos de Espanha, assim como cartazes com palavras de ordem como "Contra os indultos aos golpistas", "Nós não perdoamos -- Não aos indultos" ou "PSOE traiu-nos, são mentirosos"..O líder do maior partido da oposição, Pablo Casado, do PP, pediu a Sánchez para ser "coerente" com declarações feitas no passado em que assegurava que não iria indultar os políticos catalães presos, preferindo manter a "dignidade e respeitar a unidade nacional"..O chefe do Governo tem de "defender a igualdade de todos os espanhóis e a justiça", realçou Casado a Sánchez, em declarações aos jornalistas quando se dirigia para a praça de Colón..Por seu lado, o presidente do Vox, Santiago Abascal, disse também em declarações separadas aos jornalistas e numa referência à "foto de Colón" que Espanha só se envergonha "de uma fotografia, que é a fotografia do Governo de Espanha com o terrorismo, com o golpe separatista e com o comunismo totalitário"..A líder do Cidadãos, Inês Arrimadas, num outro local da concentração, também exigiu ao Governo que os políticos presos não sejam perdoados, "em nome dos constitucionalistas catalães" e considerou que a foto que tem de ser vista não é a de "Colón", mas sim "a de Pedro Sánchez com os golpistas"..A direita apoia-se num parecer não vinculativo do Supremo Tribunal espanhol, que condenou os líderes pró-independência em outubro de 2019, e agora manifestou-se contra "qualquer perdão parcial ou total"..A mais alta instituição judicial espanhola destacou, entre outras coisas, a falta de "provas ou indicações de arrependimento" por parte dos antigos dirigentes do governo regional ou líderes de organizações pró-independência da Catalunha..Por seu lado, o Governo espanhol, liderado por Sánchez, defende que o indulto é uma decisão meramente política que é da competência exclusiva do executivo..O atual executivo minoritário de esquerda, uma coligação entre o Partido Socialistas (PSOE) e o Unidas Podemos (extrema-esquerda) tem conseguido manter-se no poder, nomeadamente com a ajuda dos partidos independentistas catalães, assim como de formações separatistas ou nacionalistas do País Basco..A provável decisão de conceder indultos é vista, principalmente pela direita, como a moeda de troca que garante a continuação dessa rede de apoios..Os políticos catalães que organizaram em 2017 um referendo ilegal sobre a autodeterminação da região foram julgados em 2019 e estão a cumprir penas que vão até um máximo de 13 anos de prisão, por crimes de sedição e/ou má gestão de fundos públicos..Um grupo de independentistas está fugido no estrangeiro, não tendo ainda sido julgado, entre eles o ex-presidente do executivo catalão Carles Puigdemont, que está na Bélgica, e foi eleito deputado do Parlamento Europeu.