Direita e Marcelo conversam como se eleições antecipadas fossem certas

André Ventura conversou durante 35 minutos com o Presidente, em Belém. Conversas como se a legislatura parlamentar terminasse antes do mandato presidencial.
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Parece uma certeza: o atual Governo não vai chegar ao fim da legislatura. É a ideia que decorre da forma como tem decorrido nos últimos dias a troca pública de recados entre os partidos à direita do PS e o Presidente da República sobre as condições de uma governação alternativa à dos socialistas. Falam todos partindo do princípio que Marcelo terá uma palavra decisiva na formação desse suposto Governo.

Ora a verdade é que o mandato do Presidente terminará em março de 2026. Antes, portanto, do fim do mandato do atual Governo (outubro de 2026). O Presidente só terá uma palavra a dizer se, antes, convocar eleições antecipadas. Por exemplo, na sequência de uma eventual crise política que surja na sequência das eleições europeias (junho do próximo ano).

Esta quarta-feira, André Ventura foi a Belém conversar com Marcelo e saiu da audiência, de 35 minutos, a garantir que o PR não será obstáculo à participação do Chega numa solução de governo - argumento que, lá está, parte do princípio que Marcelo ainda será PR quando esse problema eventualmente se colocar.

"O Presidente da República não será obstáculo a qualquer tipo de participação governamental por parte do Chega, não será o Presidente da República um obstáculo à construção de um governo se os partidos políticos aceitarem formar esse Governo, se as bases dos partidos aceitarem, e se houver essa disponibilidade e essa capacidade de formar uma maioria à direita", afirmou.

André Ventura - que já tinha dito que iria pedir esse esclarecimento a Marcelo Rebelo de Sousa na sequência de notícias divulgadas na semana passada - afirmou que o que ouviu "foi particularmente importante e satisfatório". "Este para nós era um dado muito importante, uma vez que, se queremos que haja uma mudança, se queremos uma haja uma dissolução do parlamento, tem que haver aí mesmo tempo uma alternativa, e era importante esclarecer junto do Presidente da República. Embora sempre fosse esse o meu sentimento, de que o Presidente da República não estava contra uma solução política que envolvesse o Chega ou que fosse liderada pelo Chega à direita", afirmou.

O presidente do Chega agradeceu as "palavra claras" de Marcelo Rebelo de Sousa, classificando-as de "atitude responsável". Questionado se já não acredita que o chefe de Estado obrigou o líder do PSD a dizer que não aceitaria soluções de Governo com o Chega, acusação feita por Ventura na terça-feira, respondeu: "O senhor Presidente da República transmitiu-me de forma clara e direta que nada teve a ver com isso, que a sua posição é esta e que não obstacularizará o Chega no Governo". "O que faz o líder do terceiro partido nestes casos? Não é inventar nem especular, é vir perguntar. Fui esclarecido e estou satisfeito." Na terça-feira, o líder do Chega tinha dito haver uma articulação entre o líder do PSD, Luís Montenegro, e o Presidente da República acusando este último de ter obrigado Montenegro a dizer que com o Chega não haverá acordos de governo. "O PSD tem de se desamarrar do Presidente da República e perceber o que quer autonomamente", desafiou, apontando que o "PSD ou quer governar com o PS ou com o Chega".

Antes da audiência, o próprio PR sentiu necessidade de assegurar que "um Presidente nunca interfere em estratégias partidárias". "A última coisa que deve fazer é estar a influenciar a eleição de líderes partidários, a estratégia dos lideres partidários, a orientação dos lideres partidários. Não é esse o seu papel", disse, falando com jornalistas em Aveiro, à margem das comemorações dos 50 anos do III Congresso da Oposição Democrática.

Enquanto isto, a Iniciativa Liberal afirmou-se disponível para integrar uma solução governativa à direita do PS, dizendo o presidente do partido, Rui Rocha, com quem se pode entender e com quem não se pode. "A IL tem sido muito clara sobre com quem se pode entender e com quem não se entende [o Chega], e eu vejo com bons olhos que essa clarificação esteja também agora a ser feita, ao fim de algum tempo, por outros partidos", afirmou, em declarações aos jornalistas à margem de uma visita a uma creche no concelho de Oeiras.

O líder da IL considerou que o país precisa de "uma transformação", considerando que "a mera alternância não serve". "Não vale a pena trocar um governo por outro se não for para mudar a política, para mudar o país. É isso que a IL garante."

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