O segundo debate do Estado da Nação desde que António Costa é primeiro-ministro foi tudo aquilo que se esperava, sem surpresas nem surpresas de última hora..O incêndio de Pedrógão e as suas consequências; o desaparecimento de material militar em Tancos; e o Galpgate, que vitimou três secretários de Estados (arguidos por terem recebido da petrolífera viagens a jogos da seleção em França no Euro 2016), deu à oposição PSD-CDS o fôlego que esta precisava para contornar a evolução da economia (que aliás até Passos reconheceu como "boa")..O primeiro-ministro, António Costa, ainda tentou sinalizar que retomara a iniciativa política, depois do inoportuno gozo de férias dias depois dos incêndios e em pleno caso de Tancos, anunciando que nesta quinta-feira entregará ao Presidente da República a lista dos novos secretários de Estado para estes tomarem posse. Ao mesmo tempo revelou que haverá uma nova secretaria de Estado, da Habitação - garantindo também que não remodelará nenhum ministro. Mas isso não impediu nem o PSD nem o CDS de seguirem o guião que tinham definido, atacando contundentemente o governo (e primeiro-ministro em particular)..[destaque:Costa insinuou que Montenegro pode vir a liderar o PSD: "Não sei se no próximo ano não voltarei a tê-lo como interlocutor noutra qualidade..."].Para Luís Montenegro - agora prestes a deixar a liderança da bancada do PSD - todos os acontecimentos das últimas semanas representam uma só coisa: "O governo chega a este debate num processo de degradação indisfarçável. O governo está a colapsar, perde autoridade todos os dias e o país já percebeu que nos momentos difíceis, nas contrariedades, não tem liderança, ou, no mínimo, tem uma liderança muito frágil", acusou.."Agora que ficaram expostas as fragilidades, as contradições, as simulações, o calculismo e o populismo latente, começa a sentir-se que precisamos coletivamente de mais qualquer coisa. O país precisa, pelo menos, de liderança e de objetivos mobilizadores e efetivos", acrescentaria mais tarde Passos Coelho, que voltou a acusar o governo de ter mudado de política económica a meio, pondo "travão a fundo" no investimento e na despesa pública, quando percebeu que a sua receita não funcionava ("caiu a máscara da austeridade", afirmou). "Precisamos, enquanto país, de muito mais", disse, acrescentando que "ficar unicamente à espera de melhores ventos e da sorte não chega"..Costa respondeu dizendo que "o que aqui assistimos não foi a uma descrição do colapso do Estado, foi a uma descrição do colapso do sentido de Estado do PPD-PSD". E depois divertiu-se a insinuar que Luís Montenegro até pode vir a suceder a Passos Coelho (ao lado de quem estava sentado) na liderança do partido: "Não sei se no próximo ano não voltarei a tê-lo como interlocutor noutra qualidade...".O CDS alinhou pelo mesmo diapasão. "O senhor não tem um governo, tem uma sucessão de casos de ministros que o senhor desconsidera e ultrapassa num dia, mas segura no outro, de secretários de Estado que se demitem, oportunamente, com um ano de atraso; tem uma administração com degradação de serviços públicos, da educação à saúde ou aos transportes, tem o governo da austeridade dissimulada", afirmou a líder do partido..Relativamente a Tancos, Assunção Cristas argumentou que o primeiro-ministro disse que "afinal era tudo sucata". E ironizou: "Pela sua lógica, daqui a pouco estamos a agradecer terem roubado o material porque sempre poupamos o custo de o desmantelar.".À esquerda, Bloco e PCP salientaram que o país está melhor do que há um ano por causas das políticas de devolução de rendimentos, mas voltaram a pôr em cima da mesa os respetivos cadernos reivindicativos para a negociação do próximo Orçamento do Estado (OE 2018). Como sempre, aproveitaram para criticar duramente a governação PSD-CDS entre 2011 e 2015, sublinhando como a inversão de políticas não produziu mais resultados económicos, pelo contrário, fez subir o PIB, baixar o défice e o desemprego..Outro inquérito.Bloquistas e comunistas querem mais escalões no IRS, aumento do salário mínimo, descongelamento de carreiras na função pública e a reversão das alterações ao Código do Trabalho introduzidas pela maioria PSD-CDS entre 2011 e 2015. Costa disse que sim a tudo menos a esta última ideia. A política do governo em matéria laboral passa apenas por desbloquear a contratação coletiva, combater a precariedade e o desemprego juvenil..Fora do debate ficou a notícia, divulgada pela SIC já depois de o debate terminar, segundo a qual há uma outra investigação criminal às viagens ao Euro 2016, centrada esta em deputados (do PSD, por exemplo) que viajaram a convite do empresário Joaquim Oliveira (acionista do Global Notícias Media Group, holding dona do DN).