Direção do PSD nega cansaço mas diz estar pronta para mudanças

Dirigentes nacionais encaram com naturalidade que Passos faça uma renovação mas não subscrevem a tese de Balsemão
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É ponto assente na direção do PSD: cansaço é algo que, para já, não existe, mas a renovação que várias vozes sociais-democratas têm sugerido é para levar a sério. E vai mesmo acontecer no Congresso de abril, em Espinho.

Na sexta-feira, Francisco Pinto Balsemão afirmou no programa A Três Dimensões, da Rádio Renascença, que o "cocheiro" Pedro Passos Coelho está "frustrado" por ter ganho a corrida eleitoral de 4 de outubro e "não ter tido os louros" dessa vitória e ainda que entre os seus mais próximos havia "cavalos um pouco cansados".

Ora, na direção de Passos ninguém acusa o toque das declarações do antigo primeiro-ministro e fundador dos sociais-democratas, mas todos estão cientes de que o presidente do partido vai mexer no seu inner circle. Sem que isso resulte de pressões exteriores. "Ele [Passos] vai dar a volta ao país, fazer a sua própria análise e tomar as suas decisões. Mas quem acha que ele é influenciável está enganado. Ele é muito pouco influenciável. Agora, mudanças vai haver de certeza", diz um vice-presidente "laranja" ouvido pelo DN.

O mesmo interlocutor sublinha que "pode haver mais ou menos renovação" mas avisa quem tenha a tentação de se pôr em bicos de pés para vir a fazer parte da Comissão Permanente ou da Comissão Política Nacional ao salientar que é "cedo" e que tentarem abrir esse caminho só os poderá "queimar" aos olhos do líder do PSD.

Já Carlos Carreiras, também vice-presidente do partido, sublinha que "não pondo em causa o líder, há muito defendia uma renovação profunda". Não por cansaço, tese que rebate, mas porque "uma coisa é o PSD suportar o governo, num momento difícil para o país, outra é estar na oposição".

Incluindo-se também nos que podem deixar a direção - frisa que a margem de atuação do líder é grande e que Passos "pode manter todos ou mudar todos" -, o presidente da Câmara de Cascais realça que ex-primeiro-ministro tem de ter ao seu lado pessoas que "o ajudem a preparar-se para voltar a ganhar as eleições e para futuras responsabilidades". Assim, vaticina: "Não sabemos quando mas sabemos que vamos voltar ao governo."

Sobre potenciais candidatos ao núcleo duro do líder, Carreiras não arrisca um nome. "Há tantos e tão bons dirigentes, que seria uma injustiça para os restantes mencionar quem quer que fosse", explica.

Recorde-se que o próprio Passos, no dia 4, já sinalizou que quer fazer mexidas na direção. De forma lacónica, limitou-se a afirmar numa conversa informal com os jornalistas que "o PSD não irá cristalizar-se". Os seus mais próximos assinam por baixo.

De fora, esses ventos de mudanças também são aplaudidos. Nuno Morais Sarmento é parco em palavras e diz não concordar nem discordar de Balsemão - "não entro na conversa dos liftings", diz.

"Por princípio, é sempre bom fazer alguma renovação mas sempre entendi que cabe às lideranças definirem as suas direções", afirma o ex-ministro da Presidência de Durão Barroso e Santana Lopes.

Com mais ou menos caras novas - e decisões finais só "lá para o final de março", até porque Congresso está marcado para 1, 2 e 3 de abril -, Passos já prepara a moção de estratégia global. Ao seu livro Mudar, publicado em 2010, estará a ir buscar algumas inspirações.

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