Enquanto o governo tenta atrasar o processo de impeachment no Senado Federal e a oposição vai cozinhando um a um os nomes do próximo executivo nos bastidores, à superfície Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB) prosseguem numa guerra de palavras perante as imprensas brasileira e internacional. "É golpe", repetiu ontem a presidente numa cerimónia na Bahia. "Não há golpe", havia dito na noite da véspera Michel Temer aos microfones da CNN.."Que conspiração é que eu estou a liderar? Eu tenho poder sobre 367 deputados? Sobre mais da metade da população do Brasil que, segundo as sondagens de opinião, deseja o impeachment? Com todo o respeito pela opinião da presidente, ela está errada, não há golpe, não há conspiração", disse Temer.."A minha proposta é que haja um governo de salvação nacional, um caminho de pacificação e reconciliação, unindo todas as partes, incluindo a oposição, de forma a que a economia volte a entrar nos trilhos e a que cheguemos às eleições de 2018 sem incidentes." O vice acredita que se formar "um bom gabinete" poderá demover os que também o querem destituído e que são, de acordo com as sondagens, a maioria da população..Horas depois, Dilma afirmou enquanto entregava 2800 unidades habitacionais em Salvador no âmbito do programa Minha Casa, Minha Vida que os crimes de que é acusada - as pedaladas fiscais, ou seja, manobras orçamentais - têm sido usados "por todos os governantes do país desde 1994" mas que "só agora é que se tornaram crime". "E o mais estranho é que quem me julga é um corrupto, com contas no estrangeiro e acusado pelo procurador-geral da República", continuou, a respeito do presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), investigado na Lava-Jato e no Conselho de Ética da própria câmara..[artigo:5142073].Mais tarde disse que "o impeachment é uma tentativa de fazer uma eleição indireta de quem não tem votos, de quem quer chegar ao poder sem eleições". "O que eles querem é chegar e sentar-se na minha cadeira mas sem votos, esse é que é o problema", continuou..Eleições na agenda.As referências a "votos" e a "eleições" podem ser sinal daquilo a que a imprensa brasileira vem dando eco nos últimos dias: de que o PT, consciente da virtual derrota no Senado Federal, onde está agora a ser analisado o processo de impeachment, tenta convencer Dilma a optar pelo discurso das eleições antecipadas. Quase impraticável dos pontos de vista constitucional e jurídico, essa ideia agradaria, no entanto, a 62% da população, segundo sondagem do instituto Ibope, e ao próprio partido do governo, já que em pesquisas de opinião do instituto Datafolha, é Lula da Silva quem segue na frente das intenções de voto na maioria dos cenários..Marina Silva (Rede), também com boas perspetivas nas sondagens, alas do PMDB mais próximas do governo e observadores internacionais têm avançado também com essa solução..Foi num tom eleitoral que, a seguir à presidente, discursou o governador baiano Rui Costa (PT) para quem "o golpe é de uma elite endinheirada e perversa que não gostou que nos governos Lula e Dilma o povo do nordeste tivesse vez, voz, água, comida, dignidade e casa para morar"..[artigo:5130842].Entretanto, no Senado, a comissão de 21 deputados que analisa o impeachment confirmou a eleição de Raimundo Lira (PMDB) e Antonio Anastasia (PSDB) como presidente e relator, respetivamente. O nome de Anastasia, o braço direito do presidente do PSDB Aécio Neves, foi contestado pelo PT mas, por 15 votos a 6, acabou eleito, num sinal de que a oposição controla a votação na comissão da câmara alta, penúltimo estágio para a destituição de Dilma..Por isso, no Palácio Jaburu, residência oficial de Temer, o novo governo já começa a formar-se. A dúvida é se com a participação do PSDB, como defendem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador José Serra, ou sem, como pretendem Aécio Neves e Geraldo Alckmin. Tanto Serra como Aécio e Alckmin são pré-candidatos tucanos às presidenciais de 2018 e por isso calculam milimetricamente cada passo dado até lá..São Paulo