O Facebook ou o Twitter passaram a ser espaços onde é possível discutir ideias - com tudo o que isso tem de bom e de mau. Hoje em dia, o alcance de uma publicação nas redes sociais é bem mais extenso do que as oportunidades disponíveis no mundo analógico - os cartazes estão limitados à sua localização estratégica e dimensões, por exemplo. Uma publicação nas redes sociais? Nem por isso..Também é possível apresentar rapidamente uma petição online, dizendo adeus aos tempos em que precisava de ser assinada porta a porta. E as plataformas digitais trazem outra mudança: a possibilidade de acompanhar aquilo que se passa do outro lado do mundo, em tempo real..Ana Isabel Xavier, professora e investigadora da área de Relações Internacionais na Universidade Autónoma de Lisboa e no ISCTE, destaca que "as redes sociais se assumem como uma forma de mobilização e que podem servir até como megafone daquilo que são as causas". Além disso, o panorama digital traz ainda outro admirável mundo novo: "O cidadão tem a capacidade de influenciar políticas públicas, aceder a sites para ter informação detalhada sobre eleições e sondagens, consultar programas e iniciativas... num simples clique ter o mundo todo.".Nos últimos anos, o mundo digital permitiu a troca de ideias, a criação de comunidades e, de uma forma geral, o acesso à informação de uma forma democratizada. Na última década, são já vários os casos de movimentos que começaram como um simples grupo ou evento nas redes sociais, onde alguém deu uso à voz - mesmo que fosse virtual. Para Ana Isabel Xavier, acontecimentos como a Primavera Árabe, em 2011, são a prova viva de como acontecimentos de outros países foram sentidos em tempo real - "tornaram-se focos de atenção para aquilo que estava a passar-se - e as redes sociais conseguiram uma mobilização sem precedentes", gerando forte empatia noutros países. Por cá, quem é que não se lembra de fenómenos como a manifestação da Geração à Rasca, que juntou milhares de pessoas nas ruas, em 2011?.O protesto saltou das redes sociais, onde mais de 60 mil pessoas confirmaram presença, para manifestações que encheram as ruas de várias cidades portuguesas..Mas nem tudo é positivo no mundo digital. Ana Isabel Xavier reconhece que a tecnologia deu "aos cidadãos a possibilidade de, através de diferentes plataformas e formatos, terem uma voz e influenciar as políticas dos seus Estados e políticas internacionais", mas também tem vindo a sofrer alterações. "O problema é que, nos últimos anos, temos percebido que o digital está a tornar-se um campo de batalha, desde logo pela desinformação. A investigadora prefere o termo "desinformação" a "fake news". "Fake news é uma contradição, se é uma notícia não é falsa", sublinha. "Estar a investir na expressão é estar a dar-lhe força; a primeira forma de lutarmos contra a desinformação é não falar de fake news", diz Ana Isabel Xavier..A professora e investigadora refere que é importante "falar em mais informação e melhor informação", principalmente a um mês das eleições europeias. "A literacia digital é importante para perceber o que é o jornalismo e o que é desinformação", alerta, reforçando que as possibilidades digitais não trazem só "influência no curso da história" - também implicam "uma maior responsabilização dos cidadãos".