"Dificuldades de comunicação" estragaram fim de semana ao Livre
O desentendimento entre a direção do Livre e a sua única deputada no Parlamento, Joacine Katar Moreira, acabou por estragar o jantar do sexto aniversário do partido, no sábado à noite, na Associação Cabo-Verdiana. E alterar a ordem de trabalhos da assembleia marcada para este domingo.
Joacine saiu muito antes do final da assembleia, sem dizer uma palavra, enquanto os dirigentes se mantiveram reunidos. Isto para depois fazer mea culpa nas dificuldades de comunicação interna e garantir que o partido está unido. Mas negam que tenha existido falta de apoio à deputada ou de empenhamento para a sua eleição, acusações que a mesma fez neste fim de semana.
"Assumimos as dificuldades de comunicação e queremos garantir que estamos a trabalhar em conjunto para as resolver, reafirmando que o partido continua unido e focado em torno do seu programa político e eleitoral", disse o Livre em comunicado.
Sobre a situação concreta de Joacine, não há uma palavra, mas é assumido que existiu falta de comunicação entre a direção, o grupo de contacto e a sua representante na Assembleia da República. Já em relação à falta de apoio de que se queixou a dirigente, garantem não ser verdade.
Aliás, o comunicado começa, precisamente, por recordar "um voto de agradecimento a todos os candidatos e candidatas, membros, apoiantes, independentes e amigos do Livre, de Joacine Katar Moreira e de todos os candidatos que se envolveram na campanha, incluindo à direção de campanha e ao Grupo de Contacto". Voto esse aprovado logo a seguir às eleições, a 12 de outubro.
Um reconhecimento que foi reiterado neste domingo, sublinhando a direção "o grande empenho, entusiasmo e criatividade artística que deram força à campanha e à eleição de Joacine Katar Moreira".
Isto quando a deputada disse ao Observador, precisamente no jantar de aniversário: "Fui eu que ganhei as eleições, sozinha, e a direção quer ensinar-me a ser política."
Declarações, de ambas as partes, que o Livre reconhece terem causado perplexidade em "todos os membros, apoiantes e eleitores".
A dificuldade de comunicação com a direção foi a justificação da deputada para a sua abstenção no voto do PCP de "condenação da nova agressão israelita a Gaza", posição que foi até contra a sua opinião, como explicou posteriormente.
A votação decorreu na sexta-feira e, no sábado, o grupo de contacto manifestou, em comunicado, preocupação com o voto da sua deputada "em contrassenso" com o programa e as posições do Livre.
Joacine Katar Moreira mostrou-se surpreendida com a direção do partido, respondendo que teve "três dias de contacto infrutífero".
Motivou nova reação da liderança partidária, com Pedro Nunes Rodrigues a garantir à Lusa que nunca foi pedido pelo gabinete da deputada qualquer esclarecimento no voto sobre a Palestina.
A troca de acusações parece ter acabado neste domingo, com o grupo de contacto a assumir falhas na comunicação, mas a garantir que não tem faltado apoio à deputada. E a sublinhar, também, que a posição do Livre sobre a Palestina é bem clara: pela "defesa dos direitos humanos e subscrevendo os princípios do direito internacional contra os colonatos ilegais na Palestina".
"Ao longo dos nossos seis anos de existência foram várias as ocasiões em que pudemos dar conta desta posição e da vontade do Livre em defender a causa palestina na Assembleia da República. Nesse sentido, defendemos que a União Europeia, à semelhança do que já foi feito por uma boa parte da comunidade internacional, reconheça finalmente o Estado da Palestina. No entanto, caso esse reconhecimento continue a ser protelado, achamos que Portugal deve avançar em nome próprio e reconhecer a Palestina como um Estado soberano. Para o Livre, apenas este reconhecimento pode permitir um cenário de paz e coexistência na região e condições de vida dignas para os palestinianos", escreveu a direção em comunicado logo após a votação do texto do PCP na AR.