Dias da Música limitados a 'plafond' de 400 mil euros

António Mega Ferreira apresentou ontem as linhas gerais do evento que substituirá a Festa da Música a partir de 2007. O corte financeiro de 600 mil euros imposto pela tutela dita, desde logo, aquela que será uma das principais características do novo festival: o menor número de concertos que o CCB poderá oferecer a públicos que, em muitos casos, ajudou a formar
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Ajudou a criar novos públicos para a música clássica, mas o adeus está consumado: por razões orçamentais, a maratona da Festa da Música não tem data de regresso a Lisboa e, em seu lugar, o Centro Cultural de Belém ( CCB ) passará a apresentar os Dias da Música, formato substancialmente diferente, com um menor número de concertos e um plafond reduzido a 400 mil euros.
Foi num encontro informal com a comunicação social que António Mega Ferreira, presidente do conselho de administração, deu ontem conta das razões que levaram à decisão de suspender, já a partir de 2007, aquele que foi um dos eventos de maior sucesso que o CCB alguma vez conheceu. "Uma decisão dolorosa", disse, mas cujas alternativas não deixavam margem de manobra perante os 600 mil euros de corte no apoio financeiro do Estado à instituição: "Ou se cortava a maior parte da programação do CCB ", comprometendo a restante temporada, "ou se alterava o formato da Festa da Música", porventura condensando-o, via que, considerou Mega Ferreira, equivaleria a desvirtuar o seu espírito, "ritmo e intensidade", "oferecendo ao público gato por lebre".

A correria entre salas, "que era parte integrante do lado lúdico" da iniciativa, dará, assim, lugar a algo diferente. Porventura mais calmo - "todos os concertos se iniciarão à mesma hora" -, mas com um naipe de escolhas mais reduzido: a edição de estreia dos Dias da Música em Belém terá 50 espectáculos, à parte o concerto inaugural, distribuídos de igual modo pelo fim-de-semana (25+25), entre 20 e 22 de Abril. Ou seja, sensivelmente metade do número de espectáculos da última edição da Festa da Música. O número de bilhetes postos à venda, esse, deverá fixar-se entre os 25 mil e os 27500.

Do ponto de vista conceptual, haverá também alterações: "Os Dias da Música vão continuar a ter como eixo a música clássica, mas um conceito diferente. Não será nem sobre compositores, períodos ou escolas na história da música ocidental, mas um tema mais aberto." A primeira edição, que será dedicada ao piano (com extensões ao cravo e ao pianoforte), cruzará também o jazz e a música improvisada, pelo que a alguns instrumentistas "será dada carta branca" para, num mesmo recital, mudarem de registo se e quando o desejarem.

Em matéria de participações, dez pianistas estrangeiros estão já confirmados (ver caixa), bem como três pianistas portugueses, de um conjunto de "oito a dez" que a equipa gostaria de convidar. Quanto a nomes (nacionais), Mega Ferreira disse preferir divulgá-los numa fase posterior, dado que os contactos estão ainda a decorrer. A par da orquestra residente do CCB , a Orquestra Metropolitana de Lisboa confirmou já a sua participação.

Entre as actividades paralelas, foram salientadas a "apresentação de DVD comentados sobre grandes pianistas" e a realização de "um pequeno ciclo de cinema à volta do tema", acompanhado de sessões de divulgação sobre o instrumento-anfitrião desta edição e de um reforço da programação do serviço educativo. O público encontrará também o que Mega Ferreira definiu como "uma sementeira de pianos ou, se quisermos, um piano-bar aberto": pianos verticais espalhados pelo recinto, à disposição de "quem quiser sentar-se e tocar".

Em matéria de custos, a fasquia de 400 mil euros - um terço do que custou a Festa da Música em 2006 - não poderá, disse, ser ultrapassada. Cem mil euros (por parte da Câmara de Lisboa) encontram-se garantidos, a par de 60 mil euros provenientes de outros apoios, prosseguindo os contactos com os patrocinadores habituais do evento agora substituído. Relativamente à poupança de 900 mil euros apontada pela ministra da Cultura como resultantes da cedência do módulo 3 do Centro de Exposições ao Museu/Colecção Berardo, Mega Ferreira afirmou desconhecer a raiz desses valores: as suas contas apontam, tão-só, para "uma economia de 250 mil euros" para o CCB .

Poderá a Festa da Música voltar um dia? "Com o enquadramento financeiro que existe no País", considerou Mega Ferreira, "não creio que seja realista dizer que, dentro de dois, três anos, ela possa ser reatada com a dimensão que tinha".

Dias da Música em Belém'2007 em breves traços

CALENDÁRIO Dias da Música em Belém decorrerão no CCB entre 20 e 22 de Abril de 2007, com um total de 51 concertos (1+25+25), em cinco salas. Primeira edição do evento será dedicada ao Piano.

HORÁRIOS Os espectáculos iniciar-se-ão todos à mesma hora: 14.00, 16.00, 18.00, 20.00 e 22.00. Cada um terá cerca de 45 minutos de duração.

PREÇOS
Os mesmos que foram praticados na edição deste ano da Festa da Música: seis euros (recitais); dez euros (concertos com orquestra no Grande Auditório); no dia de abertura (excepção feita ao concerto inaugural, a realizar à noite), a entrada será livre.

PARTICIPAÇÕES
Até à passada segunda-feira, dez pianistas estrangeiros haviam confirmado a sua participação no novo festival: Alexandre Tharaud, Edna Stern, Elena Rozanova, Eve Egoyan, Hüseyin Sermet, Oleg Marshev, Pascal Rogé, Sergio Tiempo, Till Fellner e Uri Caine.

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