Diana Piedade: a música tatuada na alma

Vive no equilíbrio de ser terra a terra e de sonhar acordada. Aos 24 anos, confessa sonhos e angústias. Esta é a outra Diana, a que não vemos em <em>Ídolos</em>.
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Tem a alma na voz e as asas na mão. Diana é assim. A fera que se transforma em palco e a surpreendente timidez atrás dele. Parece que foi ontem que entrou no pequeno ecrã, no casting de Ídolos (SIC). Cabelo apanhado, jeans justas e botas pretas. Cantava Mercy, de Duffy. Mera coincidência com o seu apelido (Piedade)? Diana solta uma gargalhada. "Nunca tinha pensado nisso, é uma grande coincidência", revelou.

Desde então, aprende a viver com este sabor agridoce que é ligar o sonho da música com a fama que dele advém. "Não sei se algum dia vou habituar-me, é tudo muito estranho. Não deixa de ser engraçado ver o à-vontade das pessoas na rua. Dizem que gostam de mim e dão-me conselhos", revela a concorrente de Lagos, de 24 anos. O preço da fama, indissociável neste percurso, é ainda estranho para Diana. "Não me acho extraordinária ou divinal. As pessoas olham-nos de forma especial e colocam-nos num pedestal. É estranho sentir isso, revela.

A música corre-lhe nas veias

Nos últimos meses, Diana tem ganho destaque no concurso da SIC, revelando-se agora uma das favoritas à vitória. Domingo após domingo, arrebata elogios do júri e aplausos da plateia. Mas não se enganem. Diana canta para ela e só depois para os restantes. "A música é algo de orgânico. Está-me nas veias, preciso de senti-la primeiro em mim. Abrir a boca e cantar só por cantar... não tem qualquer significado. Ao cantar para mim é mais fácil transmitir a mensagem e a alma", explica, ponderada. Antes de pisar o palco, concentra-se. "Reflicto sobre o que estou ali a fazer, como vou interpretar e tento, apesar de não ser crente, rezar à minha maneira. Penso em não desiludir o artista, principalmente", diz.

Num discurso pausado, revela uma maturidade evidente. É a mais velha dos finalistas e diz sentir-se como a "mãe" do grupo. E darão estes filhos muito trabalho? Diana solta um sorriso contagiante. "Não! Ainda por cima a família agora está mais pequena (risos). Tenho muito orgulho neles", explica. E apesar de "mãe galinha", não está preocupada com o peso do mediatismo nos "filhotes" mais novos. "Eles já têm cabecinha. A maturidade não se mede só pela idade. Há a experiência e a educação."
Atrás da garra que mostra em palco e da imagem de roqueira, Diana é reticente em relação à comunicação social. À Notícias TV abre uma excepção. "Em termos de competição talvez fosse necessário aparecer mais vezes nas revistas. Mas eu prefiro resguardar-me. O mais importante é a música. Há coisas que não há necessidade de explorar. Daqui a dez anos, dou-vos [Notícias TV] outro exclusivo", diz, divertida.

"Polémica do Manuel não me afectou"

Pouco tempo depois de saber que tinha o vídeo da sua actuação de Piece of My Heart num site internacional de tributo a Janis Joplin, a concorrente "nem quis acreditar". Mas refere: "Não costumo ler comentários online, é um pau de dois bicos. Pode influenciar-nos de uma maneira positiva ou negativa." Diana sentiu isso em fóruns e chats quando estalou a polémica de se saber que é sobrinha do jurado Manuel Moura dos Santos.

Indiferente, seguiu caminho rumo ao sonho que é fazer das cantorias carreira. "Não me afectou. Não me senti prejudicada ou enclausurada. Estou nos cinco melhores, isso quer dizer alguma coisa." A relação com o tio, refere, é normal. "Não o vejo mais nem menos do que qualquer namorado de outra tia", diz.
Especulações à parte, é notável a amizade que une os aspirantes a Ídolo, uma das melhores coisas que leva do programa. Mas se Diana lhes dá sugestões, os mais novos ficam reticentes em aconselhar a mais velha. "Eles não me dizem, tenho de ir eu perguntar. Tenho tendência a não acreditar quando as pessoas dizem que a actuação é boa. Gosto de insistir", ri-se a jovem. Agora que Ídolos se aproxima da recta final, Diana não esconde sentir-se algo "assustada". "Quando soube do prémio final [curso de seis meses em Londres] entrei em pânico. É assustador saber que o meu sonho está nas mãos de tanta gente."

Em Paris sem falar francês

Lutadora e genuína, a melodia corre-lhe nas veias. Tradição, aliás, no seio familiar. Senão vejamos: um avô fadista, três tias cantoras, um padrasto produtor e um tio manager. Um disco familiar é impensável, ri-se Diana. Assim como descarta a hipótese de gravar com Luís Jardim, o seu padrasto, que já manifestou o desejo de o fazer. "É melhor não misturar as coisas. Sempre tentei dar passos por mim. É importante bater com a cabeça na porta. Preciso de crescer por mim e ir à luta."
Saiu de Lagos com 17 anos, sozinha. Primeiro para Lisboa, depois para Paris. Já lá vão sete anos. "Vim fazer um curso de actores, na NBP (actual Plural). Foi engraçado. O primeiro ano foi a loucura. Lembro-me de que andava feita barata tonta", confessa, pensativa. Foi nessa altura que participou em Cabeças no Ar, o musical de homenagem aos Xutos & Pontapés e a sua estreia profissional. Adorou a experiência, mas sabia que a sede de querer mais falaria mais alto. E por isso, no ano seguinte vai para Paris. Sem conhecer ninguém e sem falar uma única palavra em francês, tirou o curso de sonoplastia. "Fez-me crescer imenso. Apercebi-me de coisas da vida e de mim... dos outros", revela, entre sorrisos. Entrou no Ídolos francês e ficou nos 70 melhores. "Acabou da pior forma, fui para o hospital e tive de desistir. Agora estou a vingar-me!", diz, soltando um estrondoso riso.

O mar é seu confidente

Tem família em todo o mundo (Portugal, Brasil, Estados Unidos, Angola, Alemanha...) e uma educação enriquecida por esta multiplicidade de culturas. Tem uma ligação "espiritual" a África, respira Europa, mas sabe que Lagos, onde nasceu, continua a ser o recanto de eleição. "Sinto falta da paz da cidade, de ter o meu cantinho." E do mar, paixão assumida. "É meu confidente. Dá-me música. Às vezes tenho a sensação de que quando estou a ouvir o mar  ele me responde", revela.

Foi uma infância solitária a que passou em Lagos. Era bem-comportada, brincava sozinha, mas já era musical. "Comecei a cantar aos três anos. Não cantamos todos nessa idade? Sempre soube que o caminho passaria pela música, mas tentei mentir-me muitas vezes. A música é efémera", relembra, nostálgica. Hoje, Diana vive nos entretantos de ser "terra-a-terra", característica conferida pelo seu signo, Touro, e de fantasiar  demasiado. "Sonho imenso acordada." É esse o principal defeito que se aponta, mas não só. "Tenho muitos e ainda bem. Só se atinge a perfeição com imperfeições." E segue o seu caminho, noutra contradição que a arrebata. "O ser humano fascina-me e gosto de me alimentar dele. Mas é também o que me repugna. Ai, que contradição!", ri-se. Faz uma pausa e continua. "Tudo tem o seu ying e yang. É um paradoxo gramatical, mas na realidade é possível", explica.

Orgulha-se de nunca se ter arrependido e confessa que não gosta de ouvir a voz quente e rouca que a caracteriza. "Não acho que tenha uma voz distinta. É uma grande frustração." Pouco optimista por natureza, será que para ela o copo está meio cheio ou meio vazio? Pensa. "Existe uma resposta filosófica para isso, mas não me lembro." Depois sorri e responde. "Já sei! Depende de se for água ou vinho!"

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