Diálogo entre Blinken e Xi Jinping não resolve nada, mas alivia tensão

Washington e Pequim concordam na necessidade de "estabilizar" as relações. Ainda assim, secretário de Estado regressa a casa sem compromisso quanto às comunicações militares.
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A relação entre os EUA e a China nos últimos anos tem sido marcada por picos de tensão, cada vez mais extremos, que são acalmados com telefonemas ou encontros de alto nível. A reunião do presidente chinês, Xi Jinping, com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, esta segunda-feira, em Pequim, serviu mais uma vez para lembrar que ambos os países ganham em manter o diálogo aberto. Mas sem passos concretos para atacar os temas que alimentam a tensão, os dois lados estão a um incidente - como foi a visita a Taiwan da então líder da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi ou o caso do "balão espião" - de abrir mais a brecha que os separa.

"A relação estava num ponto de instabilidade e ambos os lados reconhecem a necessidade de trabalhar para a estabilizar", disse Blinken antes de deixar a China, uma viagem que tinha sido adiada em fevereiro precisamente por causa do "balão espião". Foi a primeira visita de um secretário de Estado norte-americano a Pequim desde 2018. "O envolvimento direto e a comunicação sustentada a alto nível são as melhores formas de gerir responsavelmente as diferenças e garantir que a concorrência não se transforma em conflito", acrescentou aos jornalistas.

Já Xi Jinping, há uma década no poder, reiterou que o mundo precisa de uma relação "estável" entre a China e os EUA, considerando que em causa está "o futuro e o destino da humanidade", segundo a agência oficial chinesa Xinhua. O mundo, indicou o líder chinês, "não quer ver um conflito ou confronto entre a China e os EUA ou escolher um lado entre ambos, e espera que os dois países coexistam em paz e tenham relações de amizade e cooperação". E reiterou: "Nenhum dos lados deve tentar moldar o outro à sua vontade e ainda menos privar o outro lado do seu direito legítimo ao desenvolvimento".

Apesar das palavras de ambos, o encontro terá terminado sem medidas concretas a não ser a decisão de retomar o diálogo diplomático - o chefe da diplomacia chinesa, Qin Qang, aceitou visitar Washington. Mas Blinken não conseguiu reabrir as vias de comunicação entre os militares de ambos os países, naquele que era considerado um passo essencial para evitar o degradar da situação no estreito de Taiwan. "Fizemos progressos e estamos a avançar, disse o responsável norte-americano. "Nada disto se resolve com uma visita", acrescentou.

O secretário de Estado norte-americano reiterou que os EUA não apoiam a independência de Taiwan, mas garantiu que mantêm o compromisso de defender a ilha de qualquer ameaça por parte da China - que considera o território uma província rebelde, cuja soberania não exclui recuperar pela força. "Continuamos a opor-nos a qualquer mudança unilateral do status quo por qualquer uma das partes. E continuamos a desejar a resolução pacífica das nossas diferenças", indicou Blinken. A China tem respondido aos gestos norte-americanos em relação a Taiwan com o aumento dos exercícios militares - os últimos com munições reais -, atitudes que Washington considera "provocadoras".

Além de Taiwan, a relação entre os dois países é marcada por tensão em questões comerciais - estamos a falar das duas maiores economias mundiais - e tecnológicas - onde os EUA procuram recuperar terreno face à China e evitar as transferências de tecnologia. Há depois as diferenças em questões de direitos humanos e da guerra da Ucrânia, tendo Blinken dito que Xi renovou a sua promessa de não fornecer armas à Rússia.

20 janeiro 2021 Joe Biden toma posse como presidente dos EUA, sem pressa de reverter a política de sanções e guerra comercial do antecessor em relação à China.

10 fevereiro 2021 Biden e Xi Jinping revelam posições opostas em comércio ou direitos humanos no seu primeiro telefonema. Líder chinês, no poder desde 2013, avisa que confronto seria um "desastre" para os dois países.

18 março 2021 Alasca acolhe primeira reunião de alto nível entre o secretário de Estado, Antony Blinken, e os principais diplomatas chineses, Yang Jiechi e Wang Yi. Tensões ficam patentes e o encontro termina sem comunicado conjunto.

14 junho 2021 A NATO declara que a China representa um "risco sistémico" para a segurança global.

15 novembro 2021 Primeira cimeira virtual entre Biden e Xi. Norte-americano fala de um diálogo "sincero, construtivo, substancial e eficaz".

6 dezembro 2021 Devido a preocupações com os direitos humanos, EUA anunciam um boicote diplomático aos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim.

18 março 2022 Primeiro contacto telefónico entre Biden e Xi Jinping desde o início da guerra na Ucrânia. Washington reforça a necessidade de Pequim não ajudar Moscovo no conflito.

24 maio 2022 Biden mostra-se disponível para defender Taiwan militarmente, mas após protestos da China, Washington diz que não há mudança na política em relação à ilha.

28 julho 2022 Xi avisa Biden que os EUA não devem "brincar com o fogo", num telefonema que a Casa Branca diz fazer parte dos esforços de manter "linhas de comunicação" abertas.

2 agosto 2022 Líder da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, visita Taiwan. China responde com exercícios militares.

15 novembro 2022 Primeiro encontro frente a frente entre Biden e Xi, à margem da cimeira do G20 em Bali. Um diálogo "profundo, sincero e construtivo".

3 fevereiro 2023 Blinken cancela a visita prevista a Pequim por causa do "balão espião" chinês que é detetado a sobrevoar os EUA e é depois abatido. A China diz que era um balão civil que perdeu o rumo e lamenta o caso.

19 junho 2023 Quatro meses após o inicialmente previsto, Blinken encontra-se com Xi em Pequim.

susana.f.salvador@dn.pt

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