Dia de Protesto em Cuba, com EUA a denunciar "táticas intimidatórias"

Forças de segurança cercaram ontem a casa de um opositor que se preparava para iniciar uma marcha a solo contra o governo.
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Enquanto as forças de segurança cubanas cercavam a casa do opositor Yunior García Aguilera, em véspera do Dia de Protesto marcado para esta segunda-feira, os EUA acusavam o regime de Havana de "táticas intimidatórias " e apelavam ao governo do presidente Miguel Díaz-Canel para retirar a proibição de se manifestarem.

"Apelamos ao governo cubano para que respeite os direitos dos cubanos, permitindo que se reúnam pacificamente e ergam as suas vozes sem medo de violência e represálias por parte do Executivo", afirmou o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, em comunicado. Este denunciou as "táticas intimidatórias do regime de Havana, que proíbe os protestos, persegue os apoiantes da oposição e ameaça-os com a prisão".

A oposição cubana convocou para hoje manifestações em Havana e seis outras províncias, exigindo a libertação de centenas de pessoas detidas nas históricas manifestações de julho, que resultaram na detenção de 1270 pessoas, mais de 650 ainda estando presas.

Com a pressão a subir por parte da comunidade internacional, as forças de segurança cubanas cercaram a casa de Yunior García Aguilera, uma das figuras da oposição, enquanto este se preparava para dar início a uma marcha a solo contra o governo. O opositor planeava desfilar pelas ruas de Havana sozinho, vestido de branco e com uma rosa branca na mão, em sinal das intenções não-violentas dos manifestantes. "Acordei esta manhã com a minha casa cercada", explicou à AFP o opositor, de 39 anos. Os jornalistas no local, incluindo os da AFP, deram conta da presença de vários agentes estatais à paisana que bloqueavam a rua onde García vive e colocados nos telhados em redor da sua casa.

Descrito nos media oficiais como o "inimigo público número um", García explicou que os agentes já lhe tinham dito antes que não permitiriam que realizasse o seu protesto e "até me disseram para que prisão me iriam mandar".

Pelo menos seis outros coordenadores do Archipielago, um grupo de Facebook criado por García, já tinham sido impedidos de sair de casa. Já Guillermo Fariñas, outro opositor conhecido pelas 26 greves de fome que já protagonizou contra o governo cubano, foi detido três dias antes do protesto desta segunda-feira. Segundo a mãe do jornalista independente e Prémio Sakharov 2010, este foi detido e levado pela polícia. "Uma ambulância e duas patrulhas vieram e levaram-no", explicou à AFP Alicia Hernandez, afirmando que o filho, de 59 anos, está atualmente a ser tratado com antibióticos a uma infeção urinária.

Ontem também, num esforço aparente para minimizar a cobertura internacional dos protestos, as autoridades cubanas retiraram as credenciais a seis jornalistas da agência espanhola EFE . Depois de fortes protestos de Madrid e dos Repórteres sem Fronteiras, que denunciaram a intenção do governo de Díaz-Canel de "impedir que haja testemunhas dos movimentos pró-mudança que emergem" em Cuba, os jornalistas acabaram por receber as credenciais de volta.

Apesar da pressão das autoridades, o Archipielago, que tem 30 mil seguidores em Cuba e no estrangeiro, manteve o protesto para hoje. Havana acusa Washington de estar a apoiar os manifestantes para desestabilizar o governo cubano.

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