Dia da Bastilha: Homem voador, assobios a Macron e confrontos com coletes amarelos

O tradicional desfile do 14 de Julho ficou marcado pelo voo da <em>flyboard</em>, inventada e pilotada pelo campeão do mundo de <em>jet-ski</em>, o francês Franky Zapata. Mas também pelos protestos contra o presidente francês.
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Nos Campos Elísios desfilaram mais de quatro mil militares franceses e europeus, a pé, a bordo de 196 veículos ou montados em 237 cavalos, e pelos céus passaram 69 aviões e 39 helicópteros. Mas a estrela do desfile deste Dia da Bastilha foi o antigo campeão do mundo de jet-ski, o francês Franky Zapata, que sobrevoou na sua flyboard o espaço frente à tribuna onde estava o presidente Emmanuel Macron e os convidados - entre eles Marcelo Rebelo de Sousa. Mais cedo, Macron tinha sido assobiado e, no final do desfile, houve confrontos entre os coletes amarelos e a polícia.

O homem voador foi uma das invenções futuristas que estiveram presentes no desfile do Dia Nacional, tendo marcado presença também um robô multitarefas Stamina, que funciona sem recorrer ao sistema de GPS, o robô Colossus usado pelos bombeiros de Paris no incêndio de Notre-Dame ou o minidrone Black Hornet, dotado de uma câmara de alta resolução.

Mas foi a flyboard, inventada pelo próprio Zapata, a estrela do desfile. Esta plataforma voadora impulsionada por cinco motores a jato, capaz de se deslocar a 190 quilómetros por hora, "permitirá testar diferentes usos, por exemplo, uma plataforma logística voadora ou uma plataforma de assalto" para os militares, tinha dito mais cedo a ministra das Forças Armadas, Florence Parly, aos microfones da France Inter.

Cooperação europeia

O desfile militar teve neste ano como tema "Agir em conjunto", numa referência à cooperação militar do exército francês com outros países europeus, e à Iniciativa Europeia de Intervenção, uma ideia de Macron que nasceu em junho de 2018 e reúne dez nações europeias - além de França, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Estónia, Finlândia, Holanda, Portugal e Reino Unido.

O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, esteve na tribuna sentado entre o presidente Macron e a chanceler alemã Angela Merkel. As Forças Armadas participaram no desfile com 15 fuzileiros da Marinha, sete paraquedistas do Exército e uma aeronave C-295 da Força Aérea.

"É um prazer chefiar a delegação que vai estar aqui com o símbolo da pátria, o estandarte nacional", disse o tenente-coronel Óscar Fontoura em declarações à agência Lusa antes do início do cortejo. O responsável destacou dois aspetos importantes: "Mostrar que os países europeus, nomeadamente os seus exércitos, têm grandes relações de amizade e respeito uns com os outros e que estão empenhados e conseguem desenvolver ações em conjunto, sendo que unidos somos mais fortes."

Assobios a Macron e confrontos

Antes de se juntar aos convidados na tribuna, o presidente francês desceu os Campos Elísios num carro militar, sendo recebido por aplausos, mas também por assobios.

As autoridades, depois de meses de marchas dos coletes amarelos contra a política do presidente e diante da possibilidade de degeneração de uma manifestação durante o evento, proibiram os protestos nos Campos Elísios neste domingo. Mas isso não os impediu de estarem presentes.

Dezenas de manifestantes, que não usavam os coletes amarelos, ocuparam a parte de cima dos Campos Elísios, depois de a avenida ter sido reaberta ao tráfego no final do desfile - e quando Macron já tinha seguido com os convidados para um almoço no Palácio do Eliseu. Deitaram ao chão as barreiras de metal que foram usadas para impedir a passagem durante o desfile, puseram-nas no meio da estrada, e incendiaram caixotes do lixo.

A polícia respondeu com gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes, alguns deles de rosto tapado. Ouviram-se estrondos e os manifestantes atiraram objetos contra a polícia, que os empurraram para ruas adjacentes onde eles se reagruparam e levaram as autoridades e usar mais gás lacrimogéneo.

Foi a primeira vez desde 16 de março que houve confrontos nos Campos Elísios. O restaurante Fouquet's, que tinha sido vandalizado nesse mesmo dia pelos coletes amarelos, reabriu neste domingo ao público e teve de ser protegido pela polícia.

Um lusodescendente entre os 175 detidos

Pelas 17.00 locais, as autoridades diziam ter recuperado o controlo e anunciavam que a calma tinha regressado aos Campos Elísios. Foram detidas pelo menos 175 pessoas.

"A ordem foi restabelecida. Nesta noite seremos dinâmicos na nossa reação como fomos nesta tarde. Aqueles que pensam que podem quebrar e destruir enfrentarão um grande dispositivo e serão postos à disposição da justiça, sem hesitação", disse o responsável da polícia de Paris, Didier Lallement. Durante a noite há o habitual fogo-de-artifício.

Entre os detidos por "organização de manifestações não autorizadas", "degradação de bens públicos" ou "porte de arma proibida" está o lusodescendente Jérôme Rodrigues, uma das figuras principais do movimento dos coletes amarelos. Outras duas figuras do movimento, Maxime Nicolle, e Eric Drouet, também foram identificados e detidos, ainda antes do desfile militar.

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