Até agora, e em pleno século XXI, a intervenção da saúde nos assuntos de saúde sexual e saúde reprodutiva estavam basicamente concentradas nas mulheres, mas é tempo de o próprio setor da Saúde encetar mudanças e começar a dar lugar aos homens como interlocutores diretos nas tarefas do cuidar..Num documento hoje lançado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), relativo ao projeto IMPEC (Iniciativa Mobilizadora da Paternidade Envolvida e Cuidadora) é sublinhado que a missão da Saúde, no que respeita ao incremento da paternidade envolvida e cuidadora, é a de desempenhar um papel catalisador e de apoio a mudanças que levem "a tomar os homens como interlocutores diretos nas tarefas do cuidar". Ou seja, "promover a complementaridade entre homens e mulheres, pais e mães, implica assegurar a equidade no apoio, entendendo os homens como sendo coprotagonistas no ato de cuidar"..Neste sentido, é preciso encetar a reformulação da lógica tradicional de intervenção de serviços e profissionais de saúde em assuntos de saúde sexual e reprodutiva, que até há pouco tempo focada básica e preferencialmente nas mulheres, antes justificadas por razões históricas. A DGS neste novo livro de orientações sobre a paternidade defende ser necessário da parte da Saúde "um apoio mais efetivo junto dos homens, o qual exige, não só uma maior consistência na promoção da literacia em saúde nestes domínios, mas também ações concretas com impacto positivo na sua ligação com os serviços e os profissionais"..O Dia do Pai 2021 é assim aproveitado pela autoridade de saúde para lançar um novo desafio que não envolve só as políticas globais de saúde, mas sobretudo uma adaptação e adequação de intervenção, com o desenvolvimento de ações concretas que tomem também os homens como foco de atenção e verdadeiros interlocutores dos profissionais de saúde..No documento explica-se que o objetivo é estes passarem a ser encarados como "sujeitos efetivos da ação da Saúde, não como simples objetos complementares na ação que é tida junto das mulheres em assuntos de reprodução e parentalidade, contrariando o pouco protagonismo que lhes tem sido atribuído até aqui", o que implica estabelecer estratégias que permitam desenvolver trabalho concertado nos diferentes setores de cada instituição de saúde e articulação entre os diferentes níveis de prestação de cuidados..A DGS refere mesmo que tanto no âmbito dos cuidados de saúde primários como no dos cuidados hospitalares, são múltiplos os cenários e as oportunidades em que tal estratégia pode ser desenvolvida e aplicada no concreto. E o contexto de intervenção vai muito além das áreas relacionadas com a saúde sexual reprodutiva e com o exercício da parentalidade, As intervenções podem e devem ser rentabilizadas no sentido do apoio e da promoção à parentalidade envolvida e cuidadora..No âmbito dos cuidados primários, os homens podem e devem ser chamados a participar em áreas como a saúde infantil, atendimento pré-concepcional, vigilância da gravidez e do puerpério, recuperação pós-parto, vigilância em saúde infantil e juvenil, medicina geral e familiar etc..Este conceito de paternidade envolvida e cuidadora é entendido como a paternidade que se "exerce de um modo afetivo, efetivo e participativo na vida quotidiana dos filhos, havendo envolvimento direto, quanto possível, nas tarefas de cuidar, proteger e zelar pela satisfação das necessidades da criança, de acordo com as etapas do seu crescimento e desenvolvimento.".Uma prática que diz respeito "a pais biológicos, pais por adoção, pais de acolhimento e padrastos, vivendo ou não no quotidiano com as crianças, e também a outras figuras de referência com identidade masculina que assumam esse papel"..Para desenvolver e incentivar este conceito em Portugal, a DGS deixa claro ser necessário da parte dos serviços e dos profissionais uma ação que permita "apoiar e melhor capacitar os homens enquanto pessoas autodeterminadas em matéria de direitos sexuais e reprodutivos e enquanto protagonistas do cuidar das crianças, em particular no decurso das duas primeiras décadas da vida, a par das mulheres e em interação com estas..A DGS sublinha ainda que a intervenção com esta finalidade pode ser concretizada através do desenvolvimento da Iniciativa Mobilizadora da Paternidade Envolvida e Cuidadora IMPEC que será levada a cabo no Serviço Nacional de Saúde..A ideia é tornar os serviços de saúde amigos dos homens/pais, melhorando a a acessibilidade destes aos cuidados em saúde sexual e reprodutiva e ao apoio na vigilância da saúde dos filhos, de diferentes formas, quer seja através de mensagens de saúde, tomando-os como destinatários diretos; quer aumentando a atratividade do espaço físico nos locais de atendimento; adequando a logística existente; procurando conciliar os horários de atendimento com as disponibilidades dos homens utentes; desenvolvendo formas de atendimento mais cativantes; fomentando o intercâmbio de experiências de paternidade; Incrementando a preparação técnica dos profissionais de saúde que permita o desenvolvimento de uma nova perspetiva de intervenção..Neste dia do Dia do Pai, a DGS lança igualmente um novo projeto que tem por base a criação de um de um modelo de Plano Nascimento com o objetivo de que este passe a constituir uma orientação para os profissionais de saúde na sua tarefa de apoio às grávidas e aos casais na elaboração de um Plano de Nascimento (PN) personalizado, à semelhança do que já acontece em outros países da Europa e nos Estados Unidos da América..Conforme explica num documento que hoje será também lançado, o objetivo é que esta nova orientação possa ser referência para que, no âmbito da sua autonomia, hospitais e maternidades estabeleçam e divulguem os respetivos Planos de Parto Institucionais, "guias de acolhimento" ou outros instrumentos informativos acerca das suas práticas relacionadas com o trabalho de parto, o parto e o pós-parto.. Além disso, e sempre que os profissionais de saúde que irão apoiar a elaboração destes Planos de Nascimento personalizados entenderem adequado, o modelo poderá ser sugerido e facultado diretamente às grávidas e aos casais, tendo em conta que um Plano de Nascimento permite exprimir desejos e preferências em relação ao modo como gostariam que decorresse o trabalho de parto, o parto e o nascimento do bebé; que este plano deve constituir um testemunho autodeterminado, da parte de uma mulher ou de um casal, quanto aos cuidados de saúde e aos procedimentos que são desejados, ou que não desejam receber antes, durante e após o parto, podendo a todo o tempo, ser alterado por vontade própria..Este Plano de Nascimento deverá ser descrito num documento assinado pela mulher ou pelo casal, devendo ser respeitado sempre que possível, estando condicionado aos recursos logísticos e humanos disponíveis no momento em que o parto ocorra..Um Plano de Nascimento que inclui igualmente o incentivo e o apoio à realização, quer da mulher quer do casal, num curso de preparação para o parto e também de um curso de recuperação pós-parto. O objetivo é levar o homem a integrar-se e a participar cada vez mais nestas ações.