Pelo menos dez pessoas morreram no domingo em confrontos entre a polícia e manifestantes durante um referendo constitucional na Guiné-Conacri, que a oposição boicotou por considerar que é uma tentativa do presidente Alpha Condé de se perpetuar no poder..Forças anti-governamentais ficaram debaixo de fogo das forças de segurança que "efetuaram detenções massivas, dispararam cegamente e mataram pelo menos 10 pessoas", segundo o FNDC (que abarca vários partidos e forças de oposição). O grupo apelou a novos protestos esta segunda e terça-feira..Inicialmente previsto para 1 de março, mas adiado após severas críticas de organizações internacionais à insegurança, o referendo constitucional decorreu no domingo debaixo de grande tensão..Em alguns locais, por exemplo no centro de Conacri, a capital da Guiné-Conacri (oficialmente República da Guiné), a votação arrancou à hora prevista (08:00 locais, a mesma em Lisboa), mas noutros, como em Ratoma, que fica nos subúrbios, registaram-se atrasos devido aos atos de violência..De acordo com a imprensa local, logo nas primeiras horas de votação, houve material eleitoral queimado, confrontos com a polícia e locais de voto vandalizados, em locais como Cosa, Hamdallaye, Dar-es-salam e Lambanyi, nos subúrbios de Conacri, embora noutras regiões o processo tenha prosseguido sem perturbações..Ao votar pela manhã em Conacri, o presidente Alpha Condé pediu calma aos cidadãos, apesar da agitação social e dos receios à volta da pandemia do covid-19, que já infetou duas pessoas no país.."Lavem as mãos e distanciem-se das pessoas", recomendou Condé à população..Os 5,3 milhões de eleitores recenseados na Guiné-Conacri foram chamados às urnas para eleger o parlamento e decidir sobre uma nova Constituição que poderá permitir a renovação do mandato de Alpha Condé..Ensino obrigatório até aos 16 anos, fixação da idade legal para contração de matrimónio nos 18 anos, proibição da mutilação genital, proibição do trabalho escravo e infantil, garantia de direitos iguais às mulheres em caso de divórcio, atribuição às mulheres de, pelo menos, um terço dos lugares parlamentares, abolição da pena de morte e limitação de mandatos presidenciais a um máximo de dois períodos de sete anos (contra os atuais cinco anos) são algumas das alterações ao texto fundamental do país..No entanto, oposição e críticos do presidente temem que a nova versão da Constituição possa oferecer ao chefe de Estado, 82 anos, a possibilidade de recomeçar a contagem do número de mandatos presidenciais, algo que é atualmente proibido por lei..A União Europeia advertiu na sexta-feira que não estão reunidas as condições para uma "votação transparente e pacífica" nas eleições legislativas e referendo constitucional, sublinhando a "extrema polarização" do país..A Guiné-Conacri enfrenta uma crise política desde outubro, com manifestações e protestos violentos contra a intenção anunciada do presidente de disputar um terceiro mandato como chefe de Estado em 2020. Mais de 30 civis e um polícia morreram desde o início dos protestos.