Detidos familiares que levaram idosa viva para o próprio velório

Cerimónias fúnebres foram interrompidas por amigas da mulher de 69 anos que repararam que ela estava viva
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Três pessoas foram detidas por organizarem o velório de uma mulher de 69 anos que ainda estava viva, em La Paz, na Bolívia. Os familiares retiraram Carmen del Pilar Chacón do hospital e levaram-na para uma funerária a 1 de agosto. Lá, a mulher passou cerca de 18 horas deitada numa mesa e coberta por um lençol.

As cerimónias fúnebres apenas foram interrompidas porque duas amigas se foram despedir de Chacón e repararam que ela estava a chorar.

"Aproximei-me para ver a minha amiga e vi que ela estava viva numa mesa, coberta por uma manta", escreveu Escarly Ticona no Facebook, segundo a BBC. As amigas pediram à família que parasse o velório e levasse Chacón para casa e a família recusou. As mulheres chamaram então a polícia.

Chacón estava internada no hospital com um quadro grave de pneumonia, diabetes, hipertensão e anemia e foi retirada do mesmo pelos familiares enquanto estava inconsciente. Após a intervenção da polícia, Carmen Chacón regressou ao hospital em coma e com um diagnóstico reservado.

Esta segunda-feira, Escarly Ticona, uma das amigas, revelou no Facebook que Carmen Chacón morreu no hospital.

A "mulher foi vítima de violência e submetida a atos degradantes como ser humano", disse o procurador Edwin Blanco, segundo o jornal local La Razon. "Até um cadáver é tratado com respeito. Uma pessoa viva não pode ser tratada assim".

A filha, o genro e uma prima de Chacón foram detidos e acusados de tentativa de feminicídio, um crime de homicídio que tem por base o ódio pelas mulheres.

"Evidentemente levaram-na para a funerária à espera que morresse", afirmou Edwin Blanco.

Quando foram detidos, os familiares disseram que tinham recebido a notícia de que Chacón iria morrer em breve e decidiram "deixá-la à espera da morte", já que não tinham tempo para cuidar dela em suas casas.

A princípio, a procuradoria acusava os familiares de homicídio piedoso, um quadro legal semelhante ao da eutanásia em Portugal. Contudo as autoridades agravaram a acusação quando descobriram que os familiares forçaram a alta hospitalar de Chacón e pagaram o equivalente a 304 euros à funerária para deixarem lá a idosa.

Os médicos negaram ter dito à família que Carmen Chacón iria morrer em breve. "Em nenhum momento ela foi desenganada nem indicamos que ela tinha poucas horas de vida, mas os parentes consideraram que ela provavelmente não melhoraria e pediram a alta médica de forma voluntária", disse Humberto Ticona, da equipe de terapia intensiva do Instituto Nacional do Tórax de La Paz, segundo a BBC.

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