Detectada avaria 48 horas antes de queda em Barajas
O aparelho da Spanair que se despenhou a 20 de Agosto no aeroporto de Barajas, em Madrid, tinha apresentado dois dias antes duas avarias no sistema de apoio à descolagem num intervalo de poucas horas, segundo registo no livro de manutenção ontem divulgado pelo diário El Mundo.
O piloto que dirigiu o McDonnell Douglas-82 no dia 18 de Agosto registou naquele manual que o sistema dos slats "falhou" durante uma manobra. O sistema é activado quando o avião aterra ou levanta voo, permitindo a sua estabilização e impedindo que perca impulso.
A avaria foi detectada em Barajas. Revisto e testado o sistema, este revelou-se operacional, de acordo com o registo no livro de manutenção. O mais grave, porém, é que, a 9 de Agosto, no aeroporto de Las Palmas, ocorrera idêntico problema.
Quando ocorre uma deficiência no funcionamento destes elementos, os pilotos são avisados através de um alarme sonoro na cabina.
Nem a Spanair nem elementos ligados à investigação, assim como os construtores do avião e dos motores, declinaram qualquer comentário sobre a notícia do El Mundo.
Não é a primeira vez que surgem pistas apontando para a tese de que na origem do trágico acidente esteve uma falha nos sistema de apoio à descolagem e aterragem. No início de Setembro, fora revelado que tinham sido os flaps - que realizam uma manobra complementar da acção dos slats - a não operarem correctamente.
A comprovarem-se os factos revelados ontem pelo diário espanhol, aquela tese ganha maior consistência. Tanto mais que as equipas de investigação, segundo várias fontes, consideram que os ambos os motores do McDonnell Douglas-82 estavam a funcionar sem problema. Segundo fontes ligadas ao inquérito em curso, no dia da tragédia de Barajas, os motores continuaram a funcionar durante algum tempo após a queda do aparelho. O voo JK5022 realizava nesse dia a sua segunda tentativa de descolagem, após ter falhado a inicial, devido a uma avaria num instrumento de medição da temperatura na cabina, segundo a explicação oficial da Spanair.
Um outro diário espanhol, o El País, divulgava na edição de ontem mais elementos sobre o sucedido a bordo do avião McDonnell Douglas-82, segundos antes do impacto final. Os sons gravados numa das caixas negras revelam um ambiente de caos, mal se ouvindo a voz do piloto e co-piloto, que se perdem sob o ruído dos avisos sonoros. Nos segundos finais ouve-se nitidamente um grito masculino, sons de embates sucessivos, seguidos do absoluto silêncio.
Os técnicos consideram que as informações daqueles momentos contidas nas caixas negras do voo KJ5022 podem esclarecer as causas do acidente na origem da morte de 154 das 172 pessoas a bordo.