Krasimir Balakov, médio búlgaro que representou o Sporting entre 1990 e 1995 (168 jogos/67 golos), é o grande ídolo para a geração de adeptos leoninos que na altura era criança e adolescente. A residir na Bulgária, continua a acompanhar o clube de Alvalade com toda a atenção. Nesta entrevista ao DN, destaca os momentos mais marcantes que viveu em Portugal e expressa o desejo de ver o Sporting conquistar o título de campeão nacional esta temporada. Um objetivo que não conseguiu alcançar nos seus tempos de jogador, apesar de ter feito parte de equipas que contavam com outros grandes futebolistas, casos de Luís Figo, Stan Valckx, Paulo Sousa e Cherbakov. Tem acompanhado o Sporting esta época? Estão em primeiro lugar na classificação, acredita que o clube vai ser campeão nacional? Sim, claro, acompanho sempre o Sporting, embora não tanto como gostaria, uma vez que estou longe, na Bulgária. Acredito que o Sporting pode ser campeão nacional, devido à grande qualidade do Rúben Amorim, da sua equipa técnica e do plantel. Na minha opinião, o Sporting pode surpreender a concorrência de Benfica e FC Porto e, no final da época, voltar a festejar, como há três anos..Qual é o jogador que mais aprecia no atual plantel? A força deste Sporting é o seu coletivo, pela forma como todos se unem dentro de campo. Não quero destacar nomes..É impossível não lhe perguntarmos o que acha de Gyökeres, que já é um ídolo dos adeptos... Já sabia que me ias perguntar sobre ele... Todas as grandes equipas têm de ter um homem na frente que conclua o trabalho efetuado pelo resto da equipa. Acontece isso nesta equipa do Sporting, como acontece com o Haaland no Manchester City ou com o Harry Kane no Bayern Munique. Felizmente o Sporting encontrou esse tipo de jogador, que pode fazer a diferença e vir a sagrar-se o melhor jogador e o melhor marcador do campeonato..Pensa que faltou um grande ponta de lança como Gyökeres para que o Sporting se tivesse sagrado campeão nacional nos seus tempos de jogador? Pois, é incrível, mas não fomos campeões apesar de termos tido grandes jogadores, como Figo, Paulo Sousa, Cadete, Oceano, Carlos Xavier, entre outros. Se faltou um ponta de lança? Foram tempos diferentes, era muito difícil bater a organização do FC Porto, da responsabilidade de Pinto da Costa. E, por outro lado, o FC Porto tinha sempre grandes equipas, a maior parte dos jogadores da seleção portuguesa jogavam lá. Na verdade, Sporting, FC Porto e Benfica tinham sempre grandes equipas, com capacidade para ir muito longe na Taça dos Campeões Europeus e nas outras competições europeias. E qualquer uma das três podia ser campeã nacional. Mas havia sempre pequenas coisas em desfavor do Sporting..Está a referir-se a questões relacionadas com a arbitragem? Arbitragem? Não disse isso (risos), mas aconteciam frequentemente coisas ao Sporting que nos perguntávamos "como é possível?". Na verdade, nesses tempos podiam-se fazer coisas que hoje em dia já não é possível fazer..Considera a passagem pelo Sporting a melhor fase da sua carreira? A minha carreira foi muito tranquila, sempre feita de baixo para cima, não posso dizer que a melhor fase foi no Sporting ou no Estugarda. Cresci do 0 para o 100 e terminei, com 38 anos, no segundo lugar da Liga alemã e na Liga dos Campeões..Sente saudades dos adeptos do Sporting, que tanto o apoiavam? Muitas, muitas saudades. Há dois anos fui convidado do Sporting para assistir ao jogo da Liga dos Campeões com o Borussia Dortmund. Estive no almoço das direções dos clubes, pois conheço os dois presidentes, e depois vi o jogo no estádio. Durante o intervalo apareceu a minha imagem nos ecrãs gigantes e todo o estádio se levantou a aplaudir. É um momento que nunca esquecerei! Saí do Sporting em 1995 e saber que os adeptos ainda se lembram de mim desta forma é muito bom. Esta relação mostra que o meu trabalho foi bem feito, não só dentro de campo, mas também pela forma como comunicava com os adeptos. Também tenho vários amigos do Benfica, o que mostra que os adeptos em Portugal conseguem apreciar a qualidade dos jogadores, independentemente do clube..Mantém contacto com antigos colegas no Sporting ou com pessoas que atualmente trabalham no clube? Não é um contacto diário ou mensal, mas por vezes falo com o Carlos Xavier, com o presidente [Frederico Varandas] e com o diretor desportivo [Hugo Viana]. O treinador [Rúben Amorim] conheci-o quando estive em Portugal há dois anos e posso dizer que é uma pessoa espectacular, um treinador muito moderno, como se percebe pela forma como coloca a equipa a jogar..E o Paulinho, o roupeiro do Sporting? O grande Paulinho! Ele começou a trabalhar com a equipa de futebol do Sporting em 1989 ou 1990 e eu apanhei-o nessa fase inicial. Ele agora é o dono da casa, é uma marca do Sporting, aliás, não há Sporting sem o Paulinho..E que recordações tem de Sousa Cintra, o seu único presidente no Sporting, com exceção dos oito dias finais com Santana Lopes, curiosamente já o líder do clube quando Balakov conquistou a Taça de Portugal em 1995, o seu único troféu em Alvalade? Sousa Cintra foi o meu presidente e vivemos muitos momentos bonitos juntos, mas também chorámos juntos algumas vezes, pois não tivemos sorte. Era um grande sportinguista, que tudo fez para sermos campeões nacionais e que teve um único erro, que foi mandar Bobby Robson embora depois daquele jogo na Áustria [derrota com o Casino Salzburgo por 0-3 em dezembro de 1993, que ditou a eliminação do Sporting na Taça UEFA]. Com Bobby Robson teríamos de certeza sido campeões..O sucessor do inglês foi Carlos Queiroz, com quem chegou a ter um desentendimento público... Olhando para trás, só me posso rir do que fiz. Era muito novo e tinha a grande ambição de ganhar tudo e de me tornar no melhor jogador do Mundo. Disse ao professor Carlos Queiroz que não aceitava voltar a jogar descaído para o lado direito do meio campo e ele disse-me "OK, não queres jogar, não há problema". Na palestra antes de um jogo com o Salgueiros, ele disse-nos o onze e eu não estava. Os meus colegas começaram todos a olhar para a esquerda e para a direita... "tchi, o Balakov ficou de fora". O jogo estava complicado, o professor Carlos Queiroz fez uma substituição e só depois me colocou em campo, a uns 20 minutos do fim. Marquei o único golo do jogo e soube-me como se tivesse sido campeão do mundo! No fim do jogo, o presidente Sousa Cintra juntou-me a mim e ao professor Carlos Queiroz, sentámo-nos e ficou tudo esclarecido..Se o Sporting for campeão nacional esta época virá a Portugal festejar? Desta vez não falho, se o Sporting for campeão vou aí a Portugal para festejar com os adeptos. Se tudo estiver a correr bem e o clube poder ser campeão à entrada para a última jornada, vou falar com o presidente e com o treinador para estar presente nesse jogo. A verdade é que eu nunca tive a possibilidade de estar em Portugal numa altura em que o Sporting fosse campeão. Sou sócio do Sporting desde 1990 e o meu filho é sócio desde que nasceu, em 1995. Há dois anos, quando estivemos em Portugal, ele e eu recebemos as medalhas pelos 25 anos de sócio..É possível escolher o seu melhor golo ao serviço do Sporting? Há aquele no dérbi com o Benfica nos primeiros segundos de jogo, o chapéu a Preud"homme noutro jogo com o Benfica, ao Vitória de Setúbal em que fintou meia equipa desde o meio campo... Sim, esses três golos não consigo esquecer, mas também me lembro de um chapéu ao Boavista e de um grande golo com o Salgueiros. É também por causa de golos como estes que os adeptos não me esqueceram (risos)..Era um exímio marcador de livres diretos. Não lhe parece que faz falta alguém que saiba bater livres no atual plantel do Sporting e, de uma forma geral, na maioria das equipas? O futebol mudou muito. Não que, na altura, não fosse importante, mas hoje em dia o essencial é o treino tático e coletivo. Eu passava meia hora a treinar a marcação de livres no final dos treinos, todos os dias e agora não há tempo para isso..Quase 30 anos depois já consegue perceber o que se passou com a equipa do Sporting na derrota caseira com o Benfica por 3-6, que custou o título de campeão, entregando-o ao Benfica? O que se passou foi que o João [Vieira] Pinto devia ter jogado o Totoloto nesse dia e depois não precisaria mais de trabalhar o resto da vida. Nessa noite, tudo o que ele queria fazer, conseguiu. Sem dúvida que realizou uma grande exibição e, por isso, chapeau para ele! Foi pena para o Sporting e até começámos muito bem esse jogo. Enfim, são coisas que por vezes acontecem....Considera o trágico acidente que colocou Cherbakov numa carreira de rodas o seu pior momento em Portugal? Sem dúvida. Eu falava russo e por isso fui a primeira pessoa a quem ele telefonou no hospital, logo depois da operação a que foi submetido. Lembro-me como se fosse hoje, ele liga-me e diz "Bala, traz-me uma cerveja". Bem, fiquei aliviado, pois para ele me dizer aquilo, significava que nada de grave se tinha passado. No entanto, quando cheguei ao hospital, um médico diz-me o que aconteceu... chorei, porque o Cherbakov podia ter sido um dos melhores jogadores da Europa e não o conseguiu por causa de uma estupidez..O que faz atualmente? Comecei esta época a treinar o Septemvri Sofia, equipa da segunda divisão da Bulgária, mas saí há algumas semanas. Ficou acordado que iria apenas ajudar durante algum tempo e deixei a equipa no primeiro lugar do campeonato. Agora, estou à espera de um clube que me ofereça boas perspetivas..dnot@dn.pt