Intimidade com a letargia dos corpos. É neste gesto que a câmara de João Salaviza se define em Montanha.
Relegando, desde o princípio, o nó da história para uma situação abstrata, de que só ouvimos falar - um avô que está no hospital com uma doença grave - o filme parece adormecer nessa ausência. Seguimos então os dias de David (David Mourato) e a sua necessidade de crescer, que busca o adiamento na vivência da amizade, sempre num movimento desligado da intenção de se "contar" algo.
Importa ao realizador "mostrar", retratar momentos desses dias, ligados ao tema que o deslumbra: a adolescência.
Veja aqui o Trailer:
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Há, de facto, um apuramento estético que avassala o espectador, uma doutrina de sombras tirada dos quadros de Caravaggio (a fotografia, premiada, é de Vasco Viana) onde se descobre, nomeadamente, as costas nuas do protagonista como uma espécie de vale...
Reside aqui o simbolismo do título? Salaviza parece chamar-nos à concretização dessa metáfora, e fá-lo com grande estímulo visual. Falta apenas uma porta de entrada para a realidade emocional das personagens, que nos oferecem tão ricas composições.
Classificação: ***