Desmond Tutu quer opção de morte assistida

"Deixei claro que não desejo ser mantido vivo a qualquer custo", escreveu num artigo de opinião hoje publicado
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O arcebispo anglicano emérito sul-africano e ícone anti-apartheid Desmond Tutu celebrou hoje o seu 85.º aniversário dizendo que gostaria que lhe fosse permitida a opção de morte assistida com dignidade.

"Hoje, eu mesmo estou mais perto da sala das partidas do que da das chegadas, por assim dizer, e os meus pensamentos centram-se em como eu gostaria de ser tratado quando chegar o momento", escreveu Tutu num artigo de opinião publicado no diário norte-americano The Washington Post.

"Preparei-me para a minha morte e deixei claro que não desejo ser mantido vivo a qualquer custo", disse o religioso, que teve alta do hospital no final de setembro.

"Espero ser tratado com compaixão e que me seja permitido partir para a próxima fase da jornada da vida da forma que eu escolher", frisou.

Tutu, a quem chamam carinhosamente "the Arch" (abreviatura de arcebispo), esteve várias vezes hospitalizado desde o ano passado devido a uma infeção persistente, resultante do tratamento para o cancro da próstata que faz há quase 20 anos.

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"Agora mais que nunca, sinto-me impelido a dar voz a esta causa: para aqueles que sofrem insuportavelmente ao chegarem ao fim das suas vidas, apenas saber que uma morte assistida está ao seu alcance pode dar um incomensurável conforto", argumentou.

O suicídio medicamente assistido ou eutanásia voluntária é ilegal na África do Sul, mas nos últimos anos tem havido apelos crescentes para que seja legalizado.

[citacao:Preparei-me para a minha morte e deixei claro que não desejo ser mantido vivo a qualquer custo]

Hoje de manhã, Desmond Tutu presidiu à eucaristia na igreja da sua paróquia na Cidade do Cabo e prestou um comovente tributo à catedral de St. George antes de deitar a cabeça na mesa da comunhão e chorar por uns momentos.

"Dei indicação de que, quando chegar o momento, quero repousar aqui, permanentemente, convosco", disse aos fiéis.

Tutu, que se tornou o primeiro arcebispo anglicano negro da Cidade do Cabo, em 1986, tomou uma chávena de chá com os fiéis após o serviço religioso da manhã.

No dia do seu aniversário, o Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e o último líder do apartheid, F.W. de Klerk, prestaram-lhe homenagem.

Em comunicado, Zuma disse que Tutu "contribuiu imensamente para a liberdade e o sistema democrático" da África do Sul.

"Ele continua a inspirar a nação e o mundo ao promover os direitos humanos, a justiça e o bem-estar de todos, especialmente dos pobres", disse Zuma.

De Klerk e a sua fundação desejaram a Tutu "a melhor saúde no próximo ano" e reconheceram "o seu valioso papel como pacificador, bem como o seu contributo para a boa vontade entre todos os sul-africanos e para a democracia constitucional da África do Sul".

Ordenado sacerdote aos 30 anos e nomeado arcebispo em 1986, Desmond Tutu usou a sua posição para defender a adoção de sanções internacionais contra o poder da minoria branca na África do Sul e, mais tarde, para lutar por direitos, de forma global. Recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1984.

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