Os conservadores da União Social Cristã (CSU), partido irmão da formação da chanceler alemã Angela Merkel, perdeu a maioria absoluta nas eleições regionais na Baviera, sul do país, alcançando o pior resultado desde 1950. É o segundo revés para Merkel no espaço de um mês, com a chanceler a ter pela frente ainda as eleições regionais de Hesse, no final deste mês, antes de enfrentar os militantes da União Democrata Cristã (CDU) para um novo mandato à frente do partido..A CSU, liderada pelo ministro do Interior Horst Seehofer, tem 37,4% das intenções de voto na Baviera segundo as projeções com base em duas sondagens à boca das urnas da ARD e da ZDF. É uma queda de mais de dez pontos percentuais em relação às eleições regionais de 2013, nas quais conseguiu 47,7% dos votos. É o pior resultado da CSU desde 1950, altura em que não foi além dos 28% dos votos..Os Verdes surgem em segundo com 17,9%, seguidos dos Eleitores Livres da Baviera com 11,7%, um partido que engloba várias associações e organizações independentes. Em quarto lugar surge a extrema-direita da Alternativa para a Alemanha (AfD), com 10,6%, que assim se estreia neste parlamento regional. A SPD tem 9,6%, segundo as projeções. Há cinco anos tinha tido 20,6% e era a segunda força política. Os liberais do FDP surgem com 5%..A confirmar-se estes valores (os resultados oficiais devem ser conhecidos apenas nesta segunda-feira), a CSU consegue entre 74 e 79 dos 192 lugares no parlamento regional (Landtag). Tinha até agora 101. Os Verdes terão 40 (tinham 17), os Eleitores Livres podem ter 24 ou 25 (em vez dos 17 atuais), a AfD 23 ou 24 (estreando-se neste parlamento), o SPD terá 21 (uma queda dos 42 que tinha) e o FDP fica com 11 (só tinha um até agora)..A participação terá sido a mais elevada desde 1982, rondando os 72%..Revés para Merkel.O perda da maioria absoluta da CSU na Baviera é mais um revés para a chanceler Angela Merkel, que no mês passado viu Volker Kauder, um dos seus grandes aliados no Bundestag, perder uma votação interna e ser afastado de líder da bancada parlamentar dos conservadores. Um cargo que ocupava há 13 anos..Merkel tem pela frente um desafio ainda maior do que a Baviera: as eleições regionais em Hesse, no próximo dia 28 de outubro. As últimas sondagens dão uma vantagem de apenas seis pontos percentuais à CDU, com o SPD em segundo com 23% e os Verdes em terceiro, com 18%. Atualmente, os conservadores governam em aliança com os ecologistas. A AfD entrará pela primeira vez para o parlamento regional, prevendo-se que consiga 13% dos votos.."Estas duas eleições afetarão a política nacional e, consequentemente, a reputação da chanceler", avisou na sexta-feira o presidente do Bundestag e veterano da CDU, Wolfgang Schäuble..Em dezembro, Merkel enfrenta a corrida à reeleição como líder da CDU. Há 18 anos à frente do partido, com os últimos 13 também à frente dos destinos da Alemanha, a chanceler não tem tido um caminho fácil desde que decidiu, em 2015, abrir as portas do país a mais de um milhão de refugiados..Tal decisão teve como consequência um aumento da força da extrema-direita nas legislativas de setembro de 2017. Merkel levou seis meses para conseguir formar governo, acabando por se aliar aos sociais-democratas..Problemas com a CSU.Quando o problema da formação do governo ficou resolvido, a chanceler enfrentou outro: a dos seus aliados da CSU. O ministro do Interior, Horst Seehofer, ameaçou em duas ocasiões fazer cair o governo, tentando forçar o governo federal a tomar posições mais de direita para fazer face ao AfD (numa tentativa de não perder eleitores a nível regional). Primeiro, insistindo num teto máximo no número de requerentes de asilo que a Alemanha deve receber e depois insistindo nos planos para recusar a entrada de pessoas nas fronteiras..Mas a estratégia não teve impacto nas sondagens ou nas urnas - os eleitores aliciados pela extrema-direita votaram na AfD sem se deixarem convencer pela CDU. Já os mais moderados optaram pelos Verdes..Há quem diga que o mau resultado pode, no final, até beneficiar Merkel. Isto caso Seehofer ou o atual líder do governo bávaro, Markus Söder, as duas principais figuras da CSU, acabem por se demitir dos respetivos cargos. Tal afastaria dois dos maiores críticos da chanceler dentro da coligação governamental..Contudo, segundo uma análise da Deutsche Welle, grandes demissões dentro da CSU poderiam levar o partido numa direção mais volátil e abrasiva que antagonizaria ainda mais o SPD, o parceiro de coligação de Merkel que também procuram uma nova direção - e que na Baviera também sofreram uma forte derrota, caindo de segundo partido mais votado para quinto. Num cenário extremo, isso poderia acabar numa rutura da aliança histórica entre CSU e CDU e acabar por fazer cair a grande coligação..Governo na Baviera."Obviamente que não é fácil separar-nos do que está a acontecer a nível nacional", disse Söder, de forma sóbria, após o anúncio das projeções. "A principal prioridade é formar um governo estável na Baviera o mais rapidamente possível e aceitarmos essa tarefa", acrescentou, reconhecendo os resultados com "humildade" e dizendo que é necessário "tirar conclusões"..Mas a formação de governo não deve ser fácil. A primeira escolha para parceiro de coligação seriam os Verdes, mas na realidade ambos os lados já expressaram reserva em chegar a acordo - com os ecologistas a referir, nomeadamente, as diferenças ao nível da política migratória. No outro extremo, a CSU já rejeitou qualquer parceria com a AfD..Uma terceira opção passa por um acordo com os Eleitores Livres da Baviera e, talvez, os liberais do FDP. Uma aliança com os Eleitores Livres é a favorita do líder da CSU, Horst Seehofer. Contudo, mostrou-se aberto a falar "com todas as forças democráticas" - excluindo, na teoria, o AfD.