O PS promove hoje, na sede do partido, um debate sobre a morte medicamente assistida, no que será um primeiro passo dos socialistas na discussão de um tema que está prestes a entrar na agenda política. No Parlamento está já, em fase final de elaboração do relatório, uma petição para a despenalização da morte assistida. Ainda não tem data para discussão, mas é garantido que, quando subir ao plenário da Assembleia da República, será acompanhada de projetos de lei do Bloco de Esquerda e do PAN..Maria Antónia Almeida Santos, deputada que levou ao último congresso do PS uma moção em defesa da legalização da morte assistida, será hoje a moderadora do debate . Ao DN diz que o objetivo da iniciativa passa por "criar um espaço em que as pessoas possam falar e fazer perguntas": "É um debate aberto, queremos ajudar a esclarecer dúvidas que muitos possamos ter." A deputada admite que este é um tema "difícil, que causa muita incomodidade", por isso é um "segundo passo para abrir as portas à discussão"..O primeiro foi dado na última reunião magna dos socialistas, em junho, precisamente com a apresentação da moção "Eutanásia: um debate sobre a vida". O documento não chegou a ser discutido no congresso, ficando remetido para uma reunião da Comissão Nacional (um destino habitual das moções setoriais). A discussão das moções está agora prevista para o mês de dezembro..Quando acontecer, será a primeira vez que o tema da eutanásia será levado a votação no PS. O tema já motivou uma moção anterior, ainda no executivo de Sócrates, apresentada pelo então deputado Marcos Sá, que também ficou remetida para a Comissão Nacional, acabando por nunca ser discutida. "Não sabemos qual é a expressão" maioritária entre os socialistas, diz Maria Antónia Almeida Santos, que mantém todos os cenários em cima da mesa para o debate parlamentar que será aberto pela petição (que conta aliás com a assinatura de vários dirigentes do PS)..A vice-presidente da comissão parlamentar de Saúde sublinha que "está em aberto" que um grupo de parlamentares do PS possa vir a apresentar uma iniciativa legislativa - "Ainda não avançámos para essa fase. Mas muitos de nós gostariam de que existisse." E, referindo que esse é um cenário "difícil", não fecha a porta a que a bancada possa avançar nesse sentido. A moção que levou ao congresso deixava esse desafio, exortando o PS a avançar com a "adoção das medidas legislativas adequadas para dar mais um passo na garantia do princípio da autonomia individual e na afirmação dos direitos dos doentes em fase de fim de vida"..A deputada sublinha que a discussão é tanto mais importante quanto "alguns movimentos deturpam estas questões, dizendo que é uma cultura de morte". "Não tem nada que ver com isso", sublinha, destacando outra distinção: "Uma coisa são cuidados paliativos, que queremos que se desenvolvam. Outra coisa é a possibilidade de uma pessoa ter ajuda para abreviar a morte, obviamente em casos muito extremos que os cuidados paliativos já não resolvem.".O debate de hoje na sede do PS, no Largo do Rato, contará com intervenções de Isabel Moreira, do médico (e candidato a bastonário) Jorge Torgal, de Manuel Silvério Marques, médico e investigador em filosofia, e de Miguel Vale de Almeida, antropólogo e ex-deputado do PS.