O Diálogo Quadrilateral de Segurança, abreviado para Quad, reúne hoje em Washington os seus chefes de Estado ou de governo pela primeira vez numa cimeira, depois de uma reunião virtual entre o presidente dos Estados Unidos e os primeiros-ministros da Austrália (Scott Morrison), da Índia (Narendra Modi) e do Japão (Yoshihide Suga) há seis meses."É um encontro histórico e penso que estamos todos ansiosos por ele", antecipou Joe Biden na segunda-feira. De acordo com a agência de notícias Kyodo, a declaração final do encontro, que era ainda objeto de negociação, previa um endurecimento da linguagem em relação às pretensões de Pequim no Mar do Sul da China e no Mar da China Oriental..Segundo as fontes ouvidas pela agência japonesa, o rascunho da declaração conjunta dos líderes utiliza uma linguagem mais dura do que no passado sobre a situação nas águas em que a China está a intensificar as suas reivindicações territoriais, dizendo que os membros do Quad "se opõem aos desafios à ordem marítima baseada em regras", em especial nos mares do Leste e do Sul da China. Para o primeiro-ministro japonês cessante, "a mudança no equilíbrio de poder trazida pela ascensão da China no Indo-Pacífico, juntamente com o crescente foco interno estimulado pela pandemia, aumentaram a incerteza"..O Quad nasceu na ressaca do tsunami de 2004 no Oceano Índico, quando estas quatro nações coordenaram as ações de ajuda humanitária. Três anos depois o líder japonês Shinzo Abe impulsionou a transformação para um grupo formal, tendo decorrido uma reunião à margem da cimeira do Fórum Ásia-Pacífico. Nesse mesmo ano, o Japão e a Austrália participaram pela primeira vez no Malabar, o exercício naval conjunto da Índia e Estados Unidos, associação que passou a ter caráter permanente desde 2014 no caso nipónico e desde 2020 no caso austrálio..Fora esta colaboração militar, todavia, o Quad não passou de letra morta. O ressurgimento deve-se à administração Trump que, no ímpeto para aplacar a China, resolveu dar nova vida a este grupo, embora as reuniões não tenham passado do nível ministerial. A guerra comercial entre Pequim e Washington foi só mais uma peça a juntar ao despertar do gigante asiático..A juntar às pretensões em relação a Taiwan, juntaram-se outras, caso das Spratly ou das Senkaku (controladas por Tóquio), e a construção de ilhas artificiais, o que tornou a vasta região do Indo-Pacífico, rota essencial de navios, um ponto quente. A batalha sem armas de fogo ocorrida em agosto do ano passado entre tropas indianas e chinesas na fronteira dos Himalaias, ou a guerra comercial imposta por Pequim a Camberra após o governo australiano ter pedido uma investigação à origem do novo coronavírus vieram dar mais ânimo a um realinhamento de forças..Na cimeira de há meio ano, Biden, Modi, Morrison e Suga prometeram um "Indo-Pacífico livre, aberto, inclusivo e resiliente" e também responder a desafios como a pandemia, as alterações climáticas e o contraterrorismo. Também mencionaram o "investimento em infraestruturas de qualidade", o que indicia uma resposta à iniciativa Cinturão e Rota do presidente chinês Xi Jinping. Agora é de esperar o anúncio de medidas mais concretas, como a produção de mil milhões de doses de vacinas na Índia até 2022, ou avanços no acesso ao 5G através da interoperabilidade das tecnologias..Os observadores notam que no texto conjunto que precedeu a cimeira virtual, assinado no Washington Post, os quatro mostravam-se unidos nos "alicerces democráticos e no compromisso" - um tema sensível tendo em conta a deriva autoritária de Modi..A cimeira junta Estados Unidos e Austrália, responsáveis pelas ondas de choque criadas na semana passada com a criação de uma aliança para o Indo-Pacífico que inclui o Reino Unido e que irá fornecer pelo menos oito submarinos de propulsão nuclear a Camberra, em detrimento de um contrato com a França. Além de Paris, parte interessada não só pelo negócio mas também pelos seus interesses na região, casa de dois milhões de franceses em várias ilhas, também Nova Deli estará a seguir com muita atenção o pacto AUKUS..França digere ondas de choque do AUKUS.Além das relações encrespadas com Pequim, a Índia foi o país que mais ficou a perder (exceto talvez o próprio Afeganistão) com a chegada ao poder dos talibãs, o grupo extremista apoiado pelo seu rival paquistanês. Oficialmente, o governo indiano diz ter recebido "de forma entusiástica" o caminho do Quad, menos virado para a segurança e para a cooperação militar que se antevê face ao AUKUS. O diplomata indiano Rajiv Bhatia reconhece, em artigo no Indian Express, que os peritos compatriotas se dividem quanto ao impacto da trilateral..A cimeira em Washington marca a despedida de Yoshihide Suga, de 72 anos, enquanto primeiro-ministro do Japão. É a última visita oficial do homem que foi braço direito do ex-chefe de governo Shinzo Abe e que, ao contrário deste, um recordista em longevidade no cargo, voltou à tradição de alta rotatividade no topo do executivo. A chegada de Suga ao poder coincidiu com um escândalo de grandes proporções no Partido Liberal Democrata, além da pandemia e dos Jogos Olímpicos de Tóquio, que acabaram por se realizar contra a vontade popular..Mudança de chip para Joe Biden e o japonês Yoshihide Suga.Líder impopular e com incapacidade para se relacionar com o povo e meios de comunicação, não se recandidatou à liderança do partido. No domingo o seu sucessor é escolhido entre quatro candidatos e este toma as rédeas do poder até às eleições parlamentares, que deverão realizar-se na primeira quinzena de novembro..cesar.avo@dn.pt
O Diálogo Quadrilateral de Segurança, abreviado para Quad, reúne hoje em Washington os seus chefes de Estado ou de governo pela primeira vez numa cimeira, depois de uma reunião virtual entre o presidente dos Estados Unidos e os primeiros-ministros da Austrália (Scott Morrison), da Índia (Narendra Modi) e do Japão (Yoshihide Suga) há seis meses."É um encontro histórico e penso que estamos todos ansiosos por ele", antecipou Joe Biden na segunda-feira. De acordo com a agência de notícias Kyodo, a declaração final do encontro, que era ainda objeto de negociação, previa um endurecimento da linguagem em relação às pretensões de Pequim no Mar do Sul da China e no Mar da China Oriental..Segundo as fontes ouvidas pela agência japonesa, o rascunho da declaração conjunta dos líderes utiliza uma linguagem mais dura do que no passado sobre a situação nas águas em que a China está a intensificar as suas reivindicações territoriais, dizendo que os membros do Quad "se opõem aos desafios à ordem marítima baseada em regras", em especial nos mares do Leste e do Sul da China. Para o primeiro-ministro japonês cessante, "a mudança no equilíbrio de poder trazida pela ascensão da China no Indo-Pacífico, juntamente com o crescente foco interno estimulado pela pandemia, aumentaram a incerteza"..O Quad nasceu na ressaca do tsunami de 2004 no Oceano Índico, quando estas quatro nações coordenaram as ações de ajuda humanitária. Três anos depois o líder japonês Shinzo Abe impulsionou a transformação para um grupo formal, tendo decorrido uma reunião à margem da cimeira do Fórum Ásia-Pacífico. Nesse mesmo ano, o Japão e a Austrália participaram pela primeira vez no Malabar, o exercício naval conjunto da Índia e Estados Unidos, associação que passou a ter caráter permanente desde 2014 no caso nipónico e desde 2020 no caso austrálio..Fora esta colaboração militar, todavia, o Quad não passou de letra morta. O ressurgimento deve-se à administração Trump que, no ímpeto para aplacar a China, resolveu dar nova vida a este grupo, embora as reuniões não tenham passado do nível ministerial. A guerra comercial entre Pequim e Washington foi só mais uma peça a juntar ao despertar do gigante asiático..A juntar às pretensões em relação a Taiwan, juntaram-se outras, caso das Spratly ou das Senkaku (controladas por Tóquio), e a construção de ilhas artificiais, o que tornou a vasta região do Indo-Pacífico, rota essencial de navios, um ponto quente. A batalha sem armas de fogo ocorrida em agosto do ano passado entre tropas indianas e chinesas na fronteira dos Himalaias, ou a guerra comercial imposta por Pequim a Camberra após o governo australiano ter pedido uma investigação à origem do novo coronavírus vieram dar mais ânimo a um realinhamento de forças..Na cimeira de há meio ano, Biden, Modi, Morrison e Suga prometeram um "Indo-Pacífico livre, aberto, inclusivo e resiliente" e também responder a desafios como a pandemia, as alterações climáticas e o contraterrorismo. Também mencionaram o "investimento em infraestruturas de qualidade", o que indicia uma resposta à iniciativa Cinturão e Rota do presidente chinês Xi Jinping. Agora é de esperar o anúncio de medidas mais concretas, como a produção de mil milhões de doses de vacinas na Índia até 2022, ou avanços no acesso ao 5G através da interoperabilidade das tecnologias..Os observadores notam que no texto conjunto que precedeu a cimeira virtual, assinado no Washington Post, os quatro mostravam-se unidos nos "alicerces democráticos e no compromisso" - um tema sensível tendo em conta a deriva autoritária de Modi..A cimeira junta Estados Unidos e Austrália, responsáveis pelas ondas de choque criadas na semana passada com a criação de uma aliança para o Indo-Pacífico que inclui o Reino Unido e que irá fornecer pelo menos oito submarinos de propulsão nuclear a Camberra, em detrimento de um contrato com a França. Além de Paris, parte interessada não só pelo negócio mas também pelos seus interesses na região, casa de dois milhões de franceses em várias ilhas, também Nova Deli estará a seguir com muita atenção o pacto AUKUS..França digere ondas de choque do AUKUS.Além das relações encrespadas com Pequim, a Índia foi o país que mais ficou a perder (exceto talvez o próprio Afeganistão) com a chegada ao poder dos talibãs, o grupo extremista apoiado pelo seu rival paquistanês. Oficialmente, o governo indiano diz ter recebido "de forma entusiástica" o caminho do Quad, menos virado para a segurança e para a cooperação militar que se antevê face ao AUKUS. O diplomata indiano Rajiv Bhatia reconhece, em artigo no Indian Express, que os peritos compatriotas se dividem quanto ao impacto da trilateral..A cimeira em Washington marca a despedida de Yoshihide Suga, de 72 anos, enquanto primeiro-ministro do Japão. É a última visita oficial do homem que foi braço direito do ex-chefe de governo Shinzo Abe e que, ao contrário deste, um recordista em longevidade no cargo, voltou à tradição de alta rotatividade no topo do executivo. A chegada de Suga ao poder coincidiu com um escândalo de grandes proporções no Partido Liberal Democrata, além da pandemia e dos Jogos Olímpicos de Tóquio, que acabaram por se realizar contra a vontade popular..Mudança de chip para Joe Biden e o japonês Yoshihide Suga.Líder impopular e com incapacidade para se relacionar com o povo e meios de comunicação, não se recandidatou à liderança do partido. No domingo o seu sucessor é escolhido entre quatro candidatos e este toma as rédeas do poder até às eleições parlamentares, que deverão realizar-se na primeira quinzena de novembro..cesar.avo@dn.pt