Como é que uma orquestra poderia soar hoje em dia a tocar música popular? Esta foi uma das perguntas que os Deolinda colocaram a si próprios quando partiram para o desafio de criar um concerto com a Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML). O desafio será concretizado hoje à noite no CCB..Tudo começou há mais de um ano, quando o maestro Cesário Costa viu um dos concertos que os Deolinda deram no Coliseu de Lisboa e decidiu convidar o grupo para desenvolverem um concerto com a OML. Mais tarde surge a necessidade de ter um arranjador que estabelecesse uma ponte entre banda e orquestra. É aí que "entra em cena" o argentino Daniel Schvetz: "Esta é uma dimensão muito maior. São 60 pessoas com várias linguagens e, por isso, tivemos a necessidade de trabalhar com um arranjador e compositor que ajustasse as nossas ideias a essa linguagem, que não dominamos totalmente. E depois o Daniel Schvetz é um profundo conhecedor da nossa música popular", referiu Pedro da Silva Martins, compositor dos Deolinda, ao DN..O grupo vai aproveitar também esta oportunidade para interpretar algumas das canções do seu repertório que habitualmente não costumam tocar, como explicou o músico: "Fomos buscar canções que não tocamos tanto porque só nós os quatro não as defendíamos tão bem. Estão a ficar muito bonitas com esta grandiosidade"..Um desses exemplos é a canção A Ilha (que faz parte do álbum Dois Selos e um Carimbo): "Ela no disco passa um pouco despercebida, não só porque é o tema final, mas porque tem uma dinâmica lenta e as próprias características da gravação fazem com que ela não se destaque. Agora com este arranjo ganha uma nova dimensão"..A experiência com a OML tem assim permitido aos próprios Deolinda olhar com uma nova abordagem para o seu próprio trabalho: "São essas visões externas que nos ensinam a olhar para o que fazemos de outra forma", referiu Pedro da Silva Martins. Apesar da grande dimensão da orquestra, a experiência não foi intimidante: "O Luís [José Martins] e o Zé Pedro [Leitão] foram colegas de muitos deles no conservatório. Aliás, o Luís vem dessa escola, da música clássica, e estudou com o Daniel Schvetz. Conhecemo-nos todos há muitos anos e por isso já existia uma cumplicidade. Mas é sempre uma responsabilidade muito grande"..Entretanto, o grupo já compôs várias canções inéditas para um próximo álbum de estúdio, que será gravado no final deste ano, prevendo-se o seu lançamento em 2013. Ainda se chegou a colocar a hipótese de um desses inéditos figurar no concerto com a OML, mas com o tempo acabaram por desistir da ideia: "Já temos muitas canções para o próximo álbum e estamos agora a pensar qual será o fio condutor para o disco. Pensámos em estrear um inédito, mas o alinhamento do concerto já estava concebido e, por isso, a sua inclusão poderia perturbar o concerto", explicou..Este cruzamento da música popular portuguesa dos Deolinda com o universo erudito da Orquestra Metropolitana de Lisboa permite também abrir novos horizontes: "Muitas das pessoas que vão ver o concerto de outra forma não iriam ver um concerto puro e simples de orquestra, e vice-versa. Acaba por ser vantajoso para ambas as parte e, por isso, é um aspecto interessante"..O concerto começa às 21.00 e os bilhetes custam entre 5,33 e 23,45 euros.