Funcionários do Estado, apoiados por uma retroescavadora e protegidos por efetivos policiais, destruíram a estrutura de metal que tinha sido construída no passeio em frente ao edifício da antiga Associação Comercial, Agrícola e Industrial de Timor (ACAIT), que nasceu em 1953 e que o Estado timorense considera ter sido extinta em 1974..A embaixada transferiu-se para novas instalações no ano passado e grande parte do edifício continua desocupado, tendo o restaurante continuado a operar até ao despejo agora executado..Uma decisão fortemente contestada pela proprietária do restaurante, Kathleen Gonçalves, que recorreu, sem sucesso, ao primeiro-ministro para tentar reverter a ordem de despejo emitida pelo ministro da Justiça..Em causa está uma disputa sobre a propriedade do espaço que o Estado timorense considera seu e que é reivindicada por um grupo de timorenses - que diz liderar a antiga Associação Comercial, Agrícola e Industrial de Timor (ACAIT)..O edifício foi construído pelos sócios fundadores da ACAIT num terreno cedido, em grande parte pela administração colonial portuguesa e por um proprietário privado, segundo explicou à Lusa Álvaro Antunes, genro de Manuel Viegas Carrascalão, um dos fundadores da ACAIT..João Gonçalves, marido da proprietária despejada e filho de outro dos fundadores da ACAIT, diz que o edifício foi construído com dinheiro dos sócios e o terreno cedido pelo Estado à associação, facto comprovado no Boletim Oficial de Timor de 06 de abril de 1957, consultado pela Lusa..A portaria da cedência foi assinada pelo então governador da Província de Timor, César da Serpa Rosa..O processo mais recente começou em julho deste ano quando a proprietária do restaurante, Kathleen Gonçalves (nora de um dos fundadores do ACAIT) solicita ao Ministério da Justiça um espaço que tinha sido usado pelo Camões, para expandir o seu negócio..Manuel Cáceres da Costa, ministro da Justiça, respondeu a 25 de setembro - num despacho obtido pela Lusa -, considerando que "com o fim do Estado Novo e a Revolução dos Cravos que culminou na saída da Administração Colonial portuguesa, a ACAIT deixou de existir".."Conclui-se que a ACAIT é uma pessoa coletiva pública extinta e o seu acervo patrimonial passou a integrar o património do Estado timorense", pelo que se considera "nulo o contrato de locação" assinado pela proprietária com Jaime Santos, presidente da associação em 2009..O despacho termina com uma ordem para no prazo de 45 dias "deixar o referido espaço completamente devoluto de pessoas e bens"..O contrato em causa, a que a Lusa também teve acesso, prevê o pagamento de uma renda mensal de mil dólares à ACAIT..Kathleen Gonçalves recorreu da decisão para o primeiro-ministro que indeferiu o pedido, a 07 de novembro..Álvaro Antunes, cunhado de Manuel Carrascalão - filho de um dos fundadores da ACAIT - recordou à Lusa o processo em torno ao edifício logo nos primeiros anos depois do referendo, em que ficou instalada a missão portuguesa..A missão portuguesa solicitou o uso do edifício à então administração da ONU (UNTAET), tendo solicitado depois ao Governo a confirmação do estatuto da utilização..No tempo da ocupação indonésia, a ACAIT "simplesmente deixou de funcionar", recorda Álvaro Antunes, salientando que o espaço foi ocupado pela administração ocupante..Foi já com o impulso da missão portuguesa, depois do referendo, que "se tentou estimular o reavivar da ACAIT", tendo o seu cunhado, Manuel Carrascalão, liderado o processo.."A embaixada falou com o Governo e foi informada de que aquilo era do Estado e que a embaixada poderia continuar a utilizar as instalações sem pagar renda", disse Antunes..Opinião contestada por vários timorenses que garantem que a ACAIT continua a funcionar, entre eles Leandro Isaac, presidente da Assembleia Geral, a última das quais há apenas 4 dias, que garante que a associação não foi extinta.."A ACAIT continua a trabalhar e não foi extinta. O terreno foi cedido à ACAIT, que continua a existir e a operar", disse o responsável. .No entanto, as atas da associação indicam um hiato de tempo entre 2001 e dezembro de 2018.