Demolição da torre não afastou tráfico nem moradores

Visitar o bairro do Aleixo, no Porto, pelas 10:00 de um dia da semana, é constatar que o tráfico de droga não esmoreceu com a demolição de uma das torres, a 16 de dezembro de 2011.
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Volvido quase um ano, as filas de condutores que vão trocando dinheiro por estupefacientes é constante e imperturbada pela circulação de moradores, que à agência Lusa desvalorizam o tráfico, "porque há em todo o lado", enquanto asseveram que preferem ficar nas imediações do bairro, caso o prédio em que vivem acabe por ser demolido também.

Fonte do gabinete da Câmara do Porto disse à Lusa que o bairro do Aleixo não deverá ser demolido até ao fim do mandato de Rui Rio, o que, para Maria Silva, mãe solteira e desempregada, residente na terceira torre do bairro, é "indiferente", desde que lhe "deem uma casa em condições" na mesma área.

"O tráfico continua na mesma, não diminuiu nada", diz à Lusa Maria Silva, num intervalo do pequeno-almoço que toma com um dos dois filhos. "Na primeira torre continua e ele [Rui Rio, presidente da Câmara do Porto] quis deitar a quinta torre abaixo mesmo por mal, para dizer que teve a vitória dele", considerou.

"Só ficou o bairro mais vazio", disse, "porque a quinta torre tinha muita população que vinha para a rua".

Maria Silva exige uma "casa em condições" na vizinhança do Aleixo e teme que lhe aconteça como às "pessoas que foram à câmara e lhes deram chaves para ir para casas [nos bairros] da Pasteleira Velha, Ramalde ou para o Viso".

"Se também tivéssemos posses (...), ele não brincava assim, como brinca com as pessoas", conclui Maria Silva, alegando que "o Aleixo agora é para ricos e eles querem demolir isto por causa do dinheiro".

Também Maria das Dores Monteiro, reformada de 77 anos e residente na torre 4, gostava de ficar a morar ali "pertinho", até porque já vive no Aleixo "há 37 anos". No que diz respeito ao tráfico, a moradora admite que "continua sempre a haver" e presume que caso a torre 1 vá abaixo, a consequência será a de que os traficantes "vão espalhar-se".

Muitos dos moradores da quinta torre do bairro do Aleixo, "espalharam-se" para os bairros contíguos, da Pasteleira e de Pinheiro Torres, após a sua demolição. Anabela Andrade, 38 anos, saiu do Aleixo aos 27 anos quando se casou, mas vai lá diariamente para visitar os pais que ainda residem na terceira torre.

"Sinceramente, não vejo mal nenhum nisso", considerou Anabela Andrade, questionada quanto à distribuição dos desalojados do Aleixo pelos bairros circundantes, "porque cada qual é que faz o sítio onde vive."

Segundo esta funcionária do Centro de Dia de Pinheiro Torres, onde, entre outras tarefas, administra insulina aos idosos do bairro, seria "preferível" que os pais fossem transferidos para o bairro da Mouteira, onde reside, também nas imediações do Aleixo.

"De qualquer maneira, é uma opção do senhor Rui Rio, porque ele é que manda, não somos nós", disse à agência Lusa.

Até ao fim de 2013 está prevista a entrega da obra de requalificação de dois "empreendimentos" para realojamento dos moradores do Aleixo na Baixa da cidade, informou à Lusa o gabinete de comunicação da autarquia portuense.

Anabela Andrade disse à Lusa já ter "ouvido falar" dos alojamentos na Baixa, como já ouviu falar das "rendas de 500 euros" que os pais "não podem pagar nunca".

"Preferia que ficassem aqui à beira, onde posso tratar deles", disse à Lusa, referindo que a mãe também preferia ficar na zona, porque "gosta muito do local" e até porque "foi lá que os filhos foram criados todos juntos".

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