Deixar de agradar a gregos e a troianos
As escolas vão manter-se em funcionamento, em todas as valências, e essa é a principal novidade do novo estado de emergência e das novas regras de confinamento. Ao contrário do que aconteceu em março/abril do ano passado, desta vez os mais novos continuam a ir às aulas presencialmente. Uma medida que está a causar forte preocupação junto da comunidade científica. Porque, como afirmou o primeiro-ministro ontem, "não nos podemos anestesiar com os números de contágios e de mortos". A decisão está tomada por um período de 15 dias, ao fim dos quais se poderá rever e renovar o estado de emergência. Nada garante que daqui a 15 dias não seja necessário voltar a puxar (ainda mais) "o travão de mão" e "dar um passo atrás", alertam os especialistas. Tudo dependerá do achatamento da curva. Se se mantiver tudo como está, ou seja com mais infetados e com mais de uma centena de óbitos por dia, ao longo de seis dias consecutivos, as sirenes vão voltar a tocar e ainda mais alto.
"Não nos podemos comportar como se estivéssemos vacinados", disse ontem António Costa. Tem razão. A esperança trazida pela notícia da chegada da vacina levou os portugueses a baixar a guarda, ainda que inconscientemente, deixando para trás algumas das boas práticas que ajudam a prevenir o risco de contágio. Precisamente porque "não nos podemos comportar como se estivéssemos vacinados", temos de nos expor menos e reduzir ao máximo os contactos sociais. Uma missão praticamente impossível para quem desempenha os cargos de primeiro-ministro, como António Costa, de Presidente da República, como Marcelo Rebelo de Sousa, ou de presidente da Assembleia da República, como Ferro Rodrigues. Como tal, é difícil compreender por que razão não fazem parte do grupo prioritário a vacinar já na primeira fase. O país atravessa o pior pico da pandemia, vive um momento histórico em que o Estado e as suas altas figuras são determinantes na gestão da crise sanitária e, ainda assim, prefere deixar os altos responsáveis da nação para a etapa seguinte da vacinação, quem sabe lá para abril.
Ser "mais papista do que o Papa" pode não dar bom resultado. Vacinar as altas figuras de Estado não é um capricho ou uma brincadeira, mas uma ação de responsabilidade para com a gestão e a liderança do país e para com os portugueses, independentemente das simpatias políticas. São estes os líderes, não são outros. E por muito que uma decisão como esta fosse impopular junto da ala esquerda, o país não pode ser gerido apenas a pensar numa fação. Lá fora, Israel e Arábia Saudita decidiram vacinar altas figuras de Estado com o critério de prioridade, e nos Estados Unidos Joe Biden - que ainda não tomou posse mas é o presidente eleito -já tomou não só a primeira como a segunda dose. Por cá, temos de parar de tentar agradar a gregos e a troianos e fazer o que é certo. Até porque, diz a OMS, a imunidade vai ser impossível em 2021.