"Dei-lhe murros e quando caiu dei-lhe pontapés com ele no chão"

Haider e Ridha pediram "desculpas" ao rapaz internado mas lembram que o grupo de Rúben já causara problemas antes
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Os dois filhos do embaixador do Iraque em Portugal pediram desculpas à família de Rúben pelo sucedido, garantiram que "rezam" pelo rapaz que deixaram entre a vida e a morte depois das agressões mas justificaram a "perda de controlo" com a alegada provocação feita pelo grupo de rapazes da terra onde estava o jovem de 15 anos.

Haider, o estudante de aviação em Ponte de Sor, admitiu que o irmão "estava alcoolizado" e ele próprio tinha 0,58g/litro de álcool no sangue na noite em que agrediram Rúben até o deixarem com múltiplas fraturas.

Mas o filho do embaixador não isentou a vítima de 15 anos de responsabilidades no que aconteceu. Na entrevista de ontem ao Jornal da Noite da SIC alegou que "este grupo de adolescentes já tinha causado problemas em Ponte de Sor, tendo agredido alunos da minha academia". E realçou: "O Rúben é muito influenciado pelas pessoas com quem estava". Para logo a seguir ressalvar que não estava com aquilo a dizer que o Rúben era "boa ou má pessoa".

Haider estava em Ponte de Sor apenas há duas semanas para concluir a formação prática do curso de aviação. Rhida, o irmão estudante de Gestão, foi ter com ele há uma semana. Contaram como na noite de quarta-feira passada, depois de uma saída ao Koppus Bar, em Ponte de Sor, foram "humilhados e insultados" até, alegadamente, perderem o controlo. Num inglês perfeito de quem nasceu nos Estados Unidos e sempre viveu no Ocidente, Haider recordou os factos na sua versão: "Eu estava com colegas do curso de aviação e usava uma camisa de manga curta como esta. Duas das minhas tatuagens eram visíveis. A brincar, despi a perna direita para mostrar a tatuagem que tenho na coxa". Depois dessa brincadeira, terão começado as provocações do outro lado, alegou. "Rúben estava com cinco amigos e, em português, disseram-me obscenidades. Um dos rapazes agarrou-me a mão e um dos meus colegas interveio para os acalmar".

Os dois irmãos decidiram sair do Koppus. "Quando saímos, dirigi-me para o carro e entrei. Infelizmente, o meu irmão não teve tempo de entrar no carro. Um grupo de rapazes, incluindo o Rúben, cercou o meu irmão", explicou Rhida. "Um deles em particular queria atacá-lo e eu estava a tentar acalmá-lo, fazendo uma barreira com as mãos para ele não avançar e atacar o meu irmão", continuou. "Quando dei por mim, estava a ser atacado por seis pessoas. Estavam a passar-me entre eles como se eu fosse uma bola". Os dois irmãos acrescentaram ainda que, na ocasião, estavam a "tentar dar luta", mas que nada podiam fazer, já que "estavam em minoria."

Segundo contaram os gémeos à SIC, regressaram a casa depois de uma primeira rixa, mas foram obrigados a voltar ao local do confronto para "ir buscar as coisas" que tinham perdido. Rúben, que ainda estaria no mesmo lugar, terá então voltado a provocar os filhos do embaixador, tentando "começar outra briga". O jovem, que acabaria por sofrer traumatismos cranianos e ficar facialmente desfigurado, terá dito "mais coisas em português" e, nesse momento, voltou a agredir "a cara e o ombro" de Ridha, antes de desatar a correr. "Senti-me extremamente insultado. Não pude tolerar mais", justificou o estudante de Gestão. "Por isso, corri atrás dele e comecei a agredi-lo. Dei-lhe murros e, quando dei por isso, o meu irmão também tinha vindo e estava a ajudar-me", contou Ridha. "Um minuto depois, ele estava no chão, dei-lhe pontapés com ele no chão. Depois, o meu irmão disse-me para parar porque ele estava no chão e não havia mais nada a fazer", termina.

Os gémeos garantem não ter atropelado Rúben e que o primeiro contacto com a GNR foi a seguir à rixa de grupos e antes de terem perseguido Rúben. Um primeiro momento onde viram a Guarda e testemunhas do que se passou e em que também deram a sua versão. "Na altura a cara do meu irmão ainda estava lesionado e tinha fraturado o nariz. Explicámos tudo à polícia", contou Rhida.

Embaixador chamado ao Iraque

O pai embaixador "está destroçado"e a mãe também, garantiram os dois rapazes. Saad Mohammad Ridha foi chamado a Bagdade, de urgência, pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros iraquiano, avançou a Nina News, uma agência noticiosa iraquiana. Um porta-voz daquele ministério informou, em comunicado, que "o ministro chamou o embaixador iraquiano em Portugal para o consultar sobre o incidente com os seus dois filhos".

Um dia antes, o embaixador tinha sido recebido no MNE em Lisboa, a seu pedido, pelo embaixador chefe do protocolo, que tem a competência das imunidades diplomáticas.

O DN confirmou com fonte judicial que tem de ser o Ministério Público a pedir o levantamento da imunidade diplomática, baseando-se nos elementos de prova recolhidos no inquérito. E que só depois de o MP agir é que o Ministério dos Negócios Estrangeiros pode fazer pressão diplomática junto do Iraque. A nível político ,os Negócios Estrangeiros podem apenas, por sua iniciativa, declarar o embaixador persona non grata e expulsá-lo do país.

"O Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) intervirá se e quando as autoridades judiciárias entenderem necessário solicitar ao Iraque o levantamento da imunidade diplomática, para que o processo possa prosseguir", confirmou o gabinete do ministro. Até ao momento, o Ministério Público ainda não o fez. "O MNE tem transmitido ao Ministério Público todos os elementos de que tem conhecimento e que possam ter relevância para o processo".

Mãe de Ruben não sai do hospital

O jovem internado no hospital de Santa Maria deixou ontem dos Cuidados Intensivos por decisão dos médicos, depois de ter reagido bem a ter saído do coma induzido. O advogado da família, Santana-Maia Leonardo, explicou ao DN que Ruben vai passar agora por uma "avaliação neurológica" extensa para perceber se sofreu lesões cerebrais. A mãe "não tem saído do hospital,dia e noite a acompanhá-lo. Tem ficado em Lisboa". O pai, que está separado da mãe, também tem sido presença assídua no Santa Maria. Ruben tem ainda irmãos. O padrasto de Rúben, Marco Silva, contou à SIC que um terceiro envolvido no caso terá filmado as agressões e já foi interroga do pela PJ.

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