Abanca portuguesa tem um problema grave, uma vez que a economia nacional estagnou num estádio intermédio de desenvolvimento, do qual não consegue sair há cerca de duas décadas. É um problema de falta de crescimento. É um problema de fraca produtividade e, por consequência, de baixa rentabilidade média dos negócios. É isto que explica a fraca performance dos empréstimos que a banca concede às empresas, e, em muitos casos, o seu crédito malparado..Nas últimas décadas houve casos evidentes de má gestão (de polícia...) nos bancos nacionais, privados e públicos. Só que isso explica apenas parte do problema: e, na minha opinião, não explica o problema principal - a falta de capital, a falta de investimento, do qual a banca portuguesa é em parte responsável, mas do qual é, sobretudo, vítima..Para além da estagnação europeia, só a falta de investimento explica um desempenho tão fraco da economia portuguesa e, por consequência, a fragilidade em que se encontra hoje a sua banca. Portugal tem agora uma juventude com ótima formação universitária, infraestruturas de nível mundial, um ambiente de negócios melhor do que a Suíça ou a França, segundo o ranking "Doing Business" do Banco Mundial..O que é que nos falta então? Investimento! Falta investimento para aumentar o stock de capital por trabalhador e aumentar a produtividade. É a falta de investimento que faz que em média o stock de capital por trabalhador (máquinas, ferramentas informáticas, infraestruturas, etc.) seja tão baixo em Portugal: é cerca de 30% da Alemanha, 60% da Espanha. Com estas condições, não admira que a produtividade em Portugal tenha registado crescimentos tão lentos..A culpa não é dos trabalhadores portugueses: estes, quando trabalham em projetos de investimento intensivo - na Alemanha ou no Dubai, na AutoEuropa ou na indústria do papel -, têm das maiores produtividades do mundo. O problema é que em Portugal é muito raro trabalharem em projetos que tenham o nível de investimento adequado..E aqui voltamos à banca portuguesa, à necessidade de ter uma banca com capacidade para financiar um nível de investimento adequado no país. O problema está muito longe de ser fácil, como se viu agora com a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos: para seduzir os mercados internacionais, a Caixa teve de prometer uns elevados 11% de juros ao ano....É possível que este recurso a investidores especulativos seja, neste momento, a solução para a CGD, mas é óbvio que a capitalização efetiva do conjunto do sistema financeiro português tem de ser conseguida com a entrada de novos acionistas. E estes devem ser preferencialmente portugueses e lusófonos..É fundamental que a banca em Portugal tenha uma estrutura acionista diversificada, não estando dependente de nenhum país estrangeiro, nomeadamente de Espanha, ou da China. Sem uma banca portuguesa - pública ou privada - não teremos autonomia estratégica futura. A evolução do país não depende de palavras ou de retórica: depende de ter capacidade financeira para orientar a sua estratégia económica..Hoje, a independência nacional define-se pela força económica, a qual assenta em quatro pilares: os recursos naturais, nos quais Portugal é débil, à exceção do mar; a força cultural, onde somos fortes - o português é a quinta língua mais falada e a maior no hemisfério sul; a qualidade dos quadros, que hoje é competitiva; e a disponibilidade de capital, o calcanhar de Aquiles de Portugal..É deste calcanhar que é preciso tratar. Ajudando os investidores portugueses a entrar no capital dos bancos, mas abrindo também condições a que investidores de Angola, Moçambique, Brasil, Macau, Goa ou Timor apliquem o seu capital nos bancos deste país. Portugal está no euro e é, por vocação, uma plataforma entre a Europa, o Atlântico e o Oriente - somos um entreposto global. E os investidores desses países comportam--se em relação em Portugal de forma diferente, uma vez que têm cá outros investimentos e aplicações, para além de casas, famílias, contactos....Haja visão estratégica!.Professor de Imuno-hemoterapia, membro do PS