Caminho aberto a novas estratégias e terapias .Uma equipa de investigadores norte--americanos identificou mais de 50 anomalias genéticas em tumores cancerígenos no pulmão, abrindo caminho à identificação das origens de uma das principais causas de morte no mundo, de acordo com um estudo publicado ontem na edição online da revista Nature..Analisando o ADN de 528 tumores, os cientistas descobriram a implicação, insuspeita até agora, do gene NKX2-1 situado sobre o cromossoma 14, numa parte significativa dos adenocarcinomas pulmonares, ou cancros glandulares do pulmão. Nos Estados Unidos, este tipo de cancro é diagnosticado em 30% dos cancros do pulmão, de acordo com os Institutos Nacionais da Saúde (INS). Em Portugal, de acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística, o cancro do pulmão ocupa o segundo lugar nas mortes por cancro (13,9%), seguido do colorrectal (14%). .Para analisar o ADN de cada tumor maligno, os investigadores localizaram centenas de milhares de variações mínimas sobre uma só "carta" ou nucleótido (dos polimorfismos simples nucleótido - SNP). A ordem na qual se sucedem, sobre o longo fio de ADN, quatro "cartas" ou motivos químicos elementares (G para guanina, A para adenina, C para cytosine, T para thymidine), determina o programa genético..Estes SNP, que servem de balizas sobre o ADN, permitiram detectar outras variações genéticas sobre o "número de cópias" de certos genes ou outras porções de ADN que os genes próprios: cópias excedentes (duplicações ou amplificações) ou, pelo contrário, ausências de certas partes do genoma nas células cancerosas..Estas análises dão-nos "uma imagem sem precedentes do genoma do cancro do pulmão", declarou um dos autores do estudo, Matthew Meyerson, do Broad Institute, dependente da Universidade de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology..O trabalho, realizado no âmbito do Projecto para a Sequenciação dos Tumores (TSP), "coloca bases essenciais, tendo já permitido destacar um gene importante que controla o crescimento das células pulmonares", afirmou Matthew Meyerson..O cientista diz-se convencido de que a identificação de 57 alterações genéticas frequentemente observadas nos doentes atingidos por um cancro do pulmão permitirá "elaborar novas estratégias para o seu diagnóstico e terapêutica"..Mais de 40 destas alterações estão ligadas a genes que não eram associados, até agora, a adenocarcinomas pulmonares. O cancro do pulmão, como a maior parte dos cancros, provém de mudanças ocorridas no ADN de uma pessoa durante a sua vida, "mas a natureza destas mudanças e as suas consequências biológicas continuam a ser desconhecidas", o que levou a estudar o cancro de uma forma mais global e sistemática, sublinham os INS..De acordo com Francis Collins, director do Instituto Nacional de Investigação sobre o Genoma Humano, (EUA), o alcance das descobertas apresentadas neste estudo "vai para além do cancro do pulmão e indica que um grande número de genes ligados ao cancro permanece por descobrir".."O mapa genético do cancro do pulmão entrega-nos uma descrição sistemática desta terrível doença, confirmando coisas que sabemos, mas que sublinham igualmente numerosas peças em falta no puzzle", observou Eric Lander, outro autor do estudo..O cancro do pulmão é a primeira causa de mortalidade por cancro no mundo, com mais de um milhão de mortes por ano.