O debate quinzenal desta quarta-feira serviu como antecâmara das negociações que o Governo socialista e os partidos à sua esquerda, que o apoiam no Parlamento, vão manter nos próximos meses com vista à elaboração do Orçamento do Estado..O comunista Jerónimo de Sousa começou por cobrar a "contradição" entre "o cumprimento das metas definidas naqueles programas de ingerência e policiamento da UE" e a necessidade de repor "rendimentos e direitos". "Como vamos resolver esta contradição", questionou o líder comunista, apontando a "política de congelamento" de salários na administração pública, "que dura há dez anos", o atraso na "reposição" de rendimentos, nos contratos precários que se mantêm ou no adiamento da "revisão de escalões" do IRS..Também a bloquista Catarina Martins sublinhou que "há uma contradição entre uma leitura escrita que o PS" fez no programa de estabilidade e "o acordo que temos [PS e BE] para parar o empobrecimento", exemplificando com os serviços públicos que estão sem dinheiro, nomeadamente escolas e hospitais. E deixou um aviso: "Cá estamos para negociar um Orçamento do Estado que seja fiel ao exercício de parar o empobrecimento do nosso país.".A estas preocupações, o primeiro-ministro, António Costa, defendeu que os resultados de 2016 são a melhor garantia para os parceiros de esquerda. Costa disse que continuará a querer "compatibilizar" as regras europeias com os compromissos que assumimos, designadamente com o BE". E apontou ao futuro: "Vamos cumprir em 2017, 2018 e 2019", notando que, no passado, foram encontradas "soluções" para questões "muito difíceis"..Para a história do debate ficou também uma resposta de António Costa à deputada ecologista Heloísa Apolónia sobre regionalização. Nesta legislatura não avançará, garantiu o chefe do Governo, dizendo que "não é oportuno nem há condições políticas" e assumindo o seu "trauma" com o chumbo à regionalização no referendo de 1998..À direita, assistiu-se ao regresso de Pedro Passos Coelho, depois de dois quinzenais em silêncio. O líder do PSD insistiu fortemente com António Costa para que explicasse o veto governamental a duas propostas (uma do Tribunal de Contas e outra do Banco de Portugal) para o elenco dirigente do Conselho de Finanças Públicas, entidade dirigida pela economista Teodora Cardoso..Costa não respondeu, dizendo que só o fará ao TC e ao BdP quando lho perguntarem. Passos concluiu que este é um ataque direto do Governo a uma instituição independente, segundo o princípio "quem se mete com o PS leva!"..Também recordou que o seu governo assinou sem perguntas as sugestões do TC e do BdP, recordando que este foi o procedimento acordado entre o PSD e o então governo do PS, em 2010, no entendimento que permitiu a viabilização do OE 2011. Para Passos, este veto governamental é só uma vingança pelo facto de o Conselho de Finanças Pública estar a "desmascarar" a "aritmética impossível" das contas públicas.Já com Assunção Cristas, o assunto principal foram as cativações que o Governo determinou em diversos serviços do Estado. O primeiro-ministro explicou demoradamente as virtualidades das cativações para efeitos de gestão orçamental. "No dia em que não existam cativações não haverá boa execução", garantiu..[liveblog:1386004]