Debate entre Nóvoa e Neto carregado de regressos ao passado
Um debate sem história, com poucas ideias e várias acusações de Henrique Neto a António Sampaio da Nóvoa. Assim poderia ser resumido o frente-a-frente deste sábado entre os dois candidatos à Presidência da República, que decorreu na RTP 1. O antigo deputado do PS acusou o ex-reitor da Universidade de Lisboa de "não ter saído da universidade", dizendo que "o país está cansado de académicos" e sugeriu, insistentemente, que faltam ideias para Portugal a Sampaio da Nóvoa.
Logo a abrir a discussão, moderada por José Rodrigues dos Santos, Nóvoa atirou que os "portugueses estão cansados das pessoas que vêm sempre das mesmas lógicas partidárias" - e Neto acusou o toque -, e salientou que teve uma vida "dedicada ao combate pelas liberdade e de intervenção cívica". Por isso, resumiu: "Sim, sou político."
De caminho, observou que as regras da zona euro e do Tratado Orçamental são compatíveis com políticas de esquerda, que devolvam os rendimentos às pessoas, palavras que mereceram uma dura reação de Henrique Neto. "Sendo académico espanta-me que tenha tão pouco sentido crítico em relação àquilo que o rodeia" e "tão poucas ideias concretas para a governação do país", atirou, para depois frisar as contigências orçamentais que a troika impôs ao Governo de Pedro Passos Coelho e colar o ex-reitor à governação de José Sócrates. A qual, explicou o empresário, só a terá criticado uma vez por uma questão "corporativa", quando o então ministro da Ciência e do Ensino Superior, Mariano Gago, terá cortado verbas dos apoios às ciências sociais.
Nóvoa refutou ambas as acusações e puxou dos galões. Recordou a sua experiência como professor, o papel que teve na fusão entre a Universidade de Lisboa e a Universidade Técnica de Lisboa, falou recorrentemente da importância da educação e do conhecimento e lá confessou que se sente "mais próximo" das políticas de um Executivo de esquerda - Henrique Neto disse ter mais afinidade com Passos do que com Sócrates -, apontando também o dedo à austeridade que "empurrou os jovens para a emigração". As políticas de ajustamento, reforçou, foram "estruturalmente erradas". "Experimentalismo da troika", acrescentou.
Neto discordava. Foram "inevitáveis", assinalou. E não desistiu da tese de que Nóvoa é "um vazio de ideias e de propostas". Mais a mais, acusou o candidato apoiado pelo Livre e pelos ex-chefes do Estado Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio de ter um "posicionamento relativamente a [certas] figuras políticas" que são "incompreensíveis". E apontou as visitas de Mário Soares a Sócrates no Estabelecimento Prisional de Évora - que Nóvoa recusou na altura comentar - como exemplo: "Porquê? Ele é Deus?"
Sampaio da Nóvoa foi chamando Neto para a discussão sobre o papel do Presidente da República e procurando recentrar o debate, mas tal já não foi possível. Os 30 minutos de frente-a-frente tinham sido atingidos e José Rodrigues dos Santos deu o apito final.