De Jordan, a mãe que deu a vida para salvar o bebé, a Leslie, a funcionária que tirou os clientes do Walmart

Em El Paso e em Dayton, dois homens armados geraram o terror e a morte. Os relatos de quem viveu as tragédias e perdeu familiares e amigos.
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São testemunhos de terror, pânico e também de atitudes heroicas, de pessoas que viveram os dois massacres que ocorreram sábado nos Estados Unidos. Do tiroteio no bar de Dayton, em que morreram nove pessoas, chega o relato de quem estava com pessoas e minutos depois as via estendidas no chão. Em El Paso, onde um jovem de Dallas, de 21 anos, matou 20 pessoas a tiro, uma mulher morreu ao dar o corpo às balas para proteger o filho bebé.

A mulher de 25 anos foi uma das vítimas quando aparentemente protegia o filho de 2 meses de idade. Leta Jamrowski, 19 anos, de El Paso, soube na tarde de sábado que a sua irmã Jordan Anchondo havia sido morta a tiro no Walmart enquanto fazia compras. Jamrowski falou à Associated Press enquanto andava de um lado para o outro na sala de espera do Centro Médico Universitário de El Paso, onde o sobrinho de dois meses estava a ser tratado, com ossos partidos, em resultado da queda da mãe.

"Das lesões do bebé, disseram que mais do que provavelmente a minha irmã estava a tentar protegê-lo", disse. "Quando ela levou um tiro, estava a segurar nele e caiu sobre ele. Por isso o bebé partiu alguns ossos. Ele vive porque a mãe deu a vida dela."

Glen Oakley estava numa loja de artigos desportivos em El Paso no sábado, quando uma criança correu gritando que havia um atirador ativo no Walmart. Oakley não acreditou e continuou as compras. Mas ouviu tiros, sacou da sua arma, legalmente permitida, e começou a correr para o estacionamento quando notou que havia crianças desacompanhadas em redor dele.

"Era um monte de crianças lá dentro, sem ninguém com elas", disse Oakley em entrevista à KTSM. Tentou agarrar as crianças para as levar para segurança, mas elas estavam tão ansiosas que se colocaram fora do seu alcance.

Ao mesmo tempo, Adriana Quezada estava na secção de roupa feminina do Walmart com os dois filhos quando ouviu tiros. "Mas eu achei que fossem marteladas, como na construção de telhados", disse Quezada, de 39 anos, sobre os tiros. A filha de 19 anos e o filho de 16 atiraram-se para o chão e depois saíram a correr da loja por uma saída de emergência. Não ficaram feridos, disse Quezada.

Leslie, uma funcionária do Walmart, diz que ouviu o que ela achava ser o barulho de caixas grandes a serem pousadas com estrondo. Eram os tiros. "Agarrei todas as pessoas que pude, até encontrei uma menina que estava separada dos seus pais, e também a agarrei. Tentei retirar o máximo de pessoas que podia", contou Leslie.

Muitas das pessoas que estavam no centro comercial fugiram de onde estavam no momento e esconderam-se até que a situação normalizasse. O casal Kianna e Kendall Long estava a fazer compras quando soaram os tiros. Esconderam-se numa zona do armazém, num contentor.

Tiros, empurrões e caos

No bar Ned Peppers, em Dayton, no Oregon District, Ohio, onde morreram nove pessoas e 26 ficaram feridas, os relatos das testemunhas no local são de grande medo e de confusão com as pessoas a fugirem sem saber o que estava a acontecer em concreto. Muitos fugiram a correr, no meio de empurrões e quedas.

"Ouvimos tiros enquanto estávamos no pátio. Corri para dentro mas acabei por ser empurrada para fora porque os tiros vinham do interior. Corremos por nossas vidas e saltamos uma cerca, esbarrando em várias pessoas. Era esconder em qualquer lugar", relatou no Twitter a fotógrafa Hannah Ray, que estava no bar Ned Peppers.

Outra pessoa que estava no bar relata que o som dos tiros fazia parecer que existiam dois atiradores. "Soava como se fossem dois atiradores com armas de fogo, apenas a julgar pelo som e número de tiros disparados. Atirador estava na frente do bar, eu estava na parte de trás. Não vi nada, mas foi o caos", contou Dave.

James Witworth filmou-se no exterior do bar Ned Peppers e descreveu ter visto o atirador chegar com uma AR-15, vestindo um colete e protetores nas orelhas. Relatou que o homem "começou a cravar balas em todos os lugares", acrescentando que "nunca tinha visto nada assim". "Cheguei a casa, nem consigo fechar os olhos para dormir vendo todas aquelas vítimas", postou mais tarde no Facebook, citado pela imprensa do Oregon. "Obrigado, Jesus. Cinco minutos antes, onde eu estava sentado no pátio, todos foram atingidos", recordou.

Na CNN, duas mulheres contaram como viram vítimas caídas no chão. "Estava a falar com a rapariga no bar. Passados uns minutos ela estava lá fora, deitada no chão...", disse, enquanto outra testemunha explicou com o caos instalado, com os disparos as pessoas no bar começaram a empurrar-se. Queriam sair pela porta principal mas não era possível. "Fomos empurradas para as traseiras. Não sabíamos o que estava a acontecer, ou onde estava o atirador. Estávamos no primeiro andar, e com a música alta, não ouvimos os tiros."

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