De fio em fio, se ganha a liderança mundial

A Filkemp é uma PME com fábrica nos arredores de Lisboa, líder mundial no mercado dos fornecedores de fios técnicos para tecer as telas para as máquinas da indústria de produção de papel.
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A notícia não chegou às primeiras páginas dos jornais, mas no final de julho foi pescado um tubarão de 400 kg e quase três metros de comprimento, cinco milhas ao largo da ilha da Fuzeta, no Algarve. Entre a mordida no anzol e a captura do animal passaram quase duas horas de intenso combate, só possível graças à qualidade e alta resistência do fio usado na pescaria, produzido pela Filkemp. Uma PME portuguesa que é líder mundial no mercado de filamentos para uso industrial. Nunca ouviu falar? É normal, garante José Inglês, vice-presidente para as áreas de Vendas e Marketing da empresa. "Não é uma empresa muito visível e não nos interessa ter destaque em Portugal. Aqui o mercado é pequeno e só absorve 2% da nossa produção, explica o sócio executivo.

Os restantes 98% das quatro mil toneladas anuais produzidas na fábrica situada em Mem Martins, nos arredores de Lisboa, seguem para quase todos os países do mundo, com a Alemanha e a China a liderarem a lista de mercados externos. Em conjunto, para estes dois países a Filkemp exporta 55% da produção. Espanha é o terceiro maior mercado. A empresa conta com 167 trabalhadores, seis unidades de negócio, 19 linhas de produção em 27 mil metros quadrados, e este ano deverá faturar 19,5 milhões de euros, quase quatro vezes mais do que os cinco milhões de vendas registados em 1998, quando se deu o management buy out, separando-se do grupo Hoechst. Até esse momento, a pequena unidade industrial situada na cauda da Europa estava autorizada apenas a fabricar fio de pesca, considerado um produto menor aos olhos dos donos alemães.

"Em 2001 começámos do zero nos fios técnicos e chegámos a líderes mundiais porque fomos roubando quota de mercado às nossas concorrentes. Tínhamos o know how e éramos mais simpáticos e mais flexíveis do que os alemães. Para os clientes foi uma lufada de ar fresco. Além disso garantimos a mesma qualidade a preços mais competitivos, por causa dos salários mais baixos em Portugal", conta José Inglês, que não esconde: "A China é o nosso maior orgulho". A Filkemp rumou para o gigante asiático à boleia dos seus clientes globais que tinham fábricas na China e hoje em dia fornece também grandes clientes chineses da indústria de produção de papel. Na prática, e entre muitas outras coisas, a Filkemp produz os fios de poliéster usados nas telas de grandes dimensões das máquinas que produzem papel. Aqui o segredo do sucesso da PME é a garantia de qualidade dos filamentos: "Tudo começa no fio. Se a tela não tiver qualidade começa a saltar, a máquina tem de abrandar a velocidade e isso causa grandes perdas de produtividade."

Apesar de existirem muitas oportunidades no maior mercado do mundo, "na China não conseguimos crescer mais, por isso começámos a olhar também para a Índia, México, Canadá. Temos de estar atentos ao que vai acontecer a seguir e em que mercados".

Foi desta forma que em 2011 a Filkemp se lançou numa nova área de negócio: os fios abrasivos, com diamante, cerâmica e sílica, para fazer polimento industrial, sobretudo na indústria automóvel. Também aqui começaram do zero e hoje são número dois da Europa. "Esse é um dos nossos objetivos: qualquer área em que entramos queremos estar entre os três maiores, só isso faz sentido", explica José Inglês. Mais recentemente, em 2014, a Filkemp lançou--se na área da impressão 3D, com a produção de fio que serve como toner para as impressoras de última geração. Um negócio ainda embrionário, de apenas 15 toneladas por ano, mas que a empresa espera que no início de 2019 esteja já a valer acima de um milhão de euros. No capítulo dos investimentos, a Filkemp dedica em média 1,5 milhões de euros por ano, sobretudo em máquinas, estando prevista a compra de um novo terreno para o armazém de matérias-primas e a instalação de quatro novas linhas de produção para chegar a uma faturação recorde de 20 milhões de euros em 2018. Quanto à liderança mundial, José Inglês reconhece: "Não é um posto, conquista-se e mantém-se graças a novos investimentos e soluções. O futuro é esse: sermos sempre melhores".

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