De dia ou de noite, museus tiram histórias da penumbra

A Noite dos Museus, que se comemorou ontem, teve como mote revelar o controverso e dizer o indizível. Entre duas centenas de atividades, houve visitas guiadas, espetáculos e oficinas. Para todos os gostos
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"Isto é muito prático." O comentário, do subdiretor da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), referia-se a um espartilho munido de duas carteiras, da autoria do estilista Armando Gabriel, em exposição no Museu do Traje. A diretora do Museu do Traje, Clara Vaz Silva, estava a fazer uma visita guiada ao público enquanto outras atividades decorriam, entre um concerto da Academia do Lumiar, uma visita ao jardim botânico e outra sobre o espartilho. Pouco passava das 18.00, e o início de mais uma Noite dos Museus já oferecia aos visitantes uma série de opções. Um pouco por todo o país, de São Roque do Pico a Guimarães, do Funchal a Viseu, os museus registaram cerca de 200 atividades.

Neste ano, o Conselho Internacional de Museus (ICOM, a entidade que instituiu o Dia Internacional dos Museus) lançou o mote "museus e histórias controversas - dizer o indizível nos museus". "A maior parte dos museus aderiu muito bem a este tema, porque mexe com a história e a construção de significados na própria identificação dos museus e das suas coleções. É um tema muito diferente, que desafiava mais as direções dos museus", comenta o subdiretor da DGPC. "Sob o chapéu deste tema algumas peças de coleção foram trazidas das reservas pela primeira vez. Por exemplo, no Palácio Nacional da Ajuda fizeram-se visitas guiadas com a temática dos trabalhadores que fizeram o palácio. Foram buscar um tema que nem os visitantes nem o museu procuram, os trabalhadores, porque nós o identificamos como o último palácio real e esquecemos que aquela monumentalidade foi construída por homens que ficaram na penumbra."

Do Museu do Traje para o Museu do Azulejo, numa carrinha que, durante a noite, fez o percurso entre estes espaços e ainda o Museu da Música, a Casa-Museu Anastácio Gonçalves e o Museu do Teatro e da Dança. É a rota 2 que a Volkswagen assegurou na Noite dos Museus, em Lisboa. Já a rota 1 funcionou nos museus de Belém e Ajuda, num total de 19 veículos que serviram os visitantes de forma gratuita. "A ideia surgiu quando estava numa noite dos museus no estrangeiro e deparei-me com a dificuldade em circular entre os museus", contou João Carrilho, da SIVA. Que propôs à DGPC esta parceria iniciada no ano passado.

Feita a viagem, damos com o início de um workshop de pintura de azulejos. Sara aguarda sentada, paciente, enquanto ouve as explicações e os conselhos da instrutora. "Gosto muito de azulejos, então queria tentar pintar um", diz a estudante italiana, que acorre pela primeira vez a este evento cultural . "Os museus são também isto, experiências", comenta a diretora do museu, Maria Pinto de Matos, que mostra satisfação pelo facto de a maioria dos visitantes ser portuguesa, num museu em que os estrangeiros são quem mais o procura.

A Noite dos Museus nasceu em França, por iniciativa do Ministério da Cultura. Primeiro como Primavera dos Museus, em 2001. Quatro anos depois, a ideia foi reformulada e as visitas gratuitas aos espaços museológicos passaram para a noite, com o objetivo de captar outros públicos. No ano seguinte, o Conselho da Europa adotou a iniciativa e hoje esta manifestação cultural, que se celebra no sábado posterior ao Dia Internacional dos Museus (18 deste mês), decorre um pouco por toda a Europa - e além da União Europeia, uma vez que o Conselho tem 47 Estados membros.

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