De Carlos Paredes ao cão de Ulisses. Esta é a odisseia de Luísa Amaro
"Tive e não tive mestre" lança Luísa Amaro a páginas tantas, ao percorrer a sua vida até que cheguemos a ARGVS, disco que torna a levar ao palco amanhã. Mas voltemos atrás. O mestre, esse, chamava-se Carlos Paredes. E se Luísa diz que tanto o teve como não teve foi porque, quando passou da guitarra clássica - com a qual durante dez anos acompanhou o mestre da guitarra portuguesa - para o instrumento dele, em 1993, já Paredes havia adoecido e deixado de tocar.
"Bom dia, dona Luísa." Sentada num café da avenida de Roma, em Lisboa, onde todos a conhecem, o enorme sorriso que devolve faz perguntar se aqueles se lembram dela com o ar grave dos vinte e poucos anos - cabelo curto (que mantém), uma concentração que parecia absoluta e o pé esquerdo elevado (que também mantém) - no palco, ao lado de Paredes. Na passagem para a guitarra portuguesa, o calo de que os dedos da mão esquerda precisam para tocar, já ela, que se tornaria na primeira mulher a gravar com aquele instrumento, tinha. E, depois, há uma característica comum às guitarras portuguesa e clássica: "É estarem muito chegadas ao coração."