De canto belo se faz o belcanto

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Muitos trunfos na produção de Os Capuletos e os Montéquios, de Bellini, em cena no São Carlos (últimas récitas: hoje e domingo). Antes de mais nas vozes. Sobre as protagonistas Mihaela Marcu (Giulietta) e Alessandra Volpe (Romeo): pesem as "quedas", Mihaela vale por si só (que voz, que técnica!) uma deslocação ao teatro; de Alessandra poder-se-ia desejar só um registo agudo mais penetrante, quanto ao resto foi excelente (e vocalidade melhorou no ato II) - servida por cantoras assim, esta ópera está "condenada" a triunfar. A Capellio (Luís Rodrigues) pedia-se maior projeção e definição na região grave, mas foi bem defendido; Tebaldo (Davide Giusti) podia ter um timbre mais incisivo, tem contudo assaz a crescer enquanto ator; e Lorenzo (Christian Luján) esteve vocalmente sempre muito bem. Coro com entradas assíncronas e passagens a atrasar, mas soando em geral bem, menos só no canto fúnebre do II ato.

A ideia cénica, com um museu de cujos quadros saem as personagens, é simples e boa. E igualmente a história desenrolando-se em alternância com um dia normal no museu. Mas houve vários "contras" na composição: Giulietta que cai um exagero de vezes ao chão, Capellio que atira a filha ao chão (!?), Romeo que desembainha a espada em casa de Capellio (??), Tebaldo que cambaleia de mais, Lorenzo que é médico, mas parece sempre mais um padre, coro que entra em palco quase sempre da mesma forma, figurantes que fazem coisas absurdas...

E mister é falar do maestro Giampaolo Bisanti, cujo entendimento desta linguagem roça o infalível. Mais: ele pôs a Sinfónica Portuguesa a soar de forma esplêndida, com sonoridade puramente "Itália/1830"! Com Bisanti tem sido fácil: cada visita a Lisboa, cada triunfo.

Atenção ao livro-programa: qualidade do português e das traduções, inexatidões.

Crítico

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