David Rosa vai ser, com Tiago Ferreira, um dos últimos portugueses a entrar em competição no Rio 2016, onde vai correr hoje (16.30 em Portugal) a prova de cross country olímpico (XCO), em BTT, pela segunda vez em Jogos Olímpicos. Natural de Fátima, e ainda familiar dos pastorinhos - um avô é sobrinho direto de Francisco e Jacinta -, o ciclista português encontrou na China a possibilidade de se converter num profissional de uma modalidade cujo número de praticantes amadores em Portugal disparou de há uma década para cá. David Rosa diz que o país tem as condições ideais para pedalar graças ao clima e aos vários tipos de terreno que possui. Desafiado pelo DN a escolher os três melhores spots nacionais, teve a resposta na ponta da língua. "Serra de Sintra, que tem sítios espetaculares, com muita técnica, que apesar de serem trilhos feitos à mão são mesmo muito bem construídos e que ficam mais abrigados no inverno devido à vegetação; o Gerês, pela beleza natural; e a serra de Aire, que é de onde venho, e que apesar de ter muita pedra tem vistas deslumbrantes.".A Serra de Aire terá sido um dos primeiros sítios que explorou numa bicicleta de montanha. O atual campeão nacional de XCO, título conquistado em julho à frente de Tiago Ferreira, tinha 4 anos quando o pai o ensinou a andar de bicicleta em frente à loja da família, em Fátima. "Uma bike azul, com punhos brancos, pequenina, com rodinhas. A minha segunda bicicleta já foi uma BMX", recordou, antes de revelar o significado que a bicicleta tinha para ele: "Era um sinónimo de liberdade. Era o que eu e os meus amigos usávamos para conhecer a nossa terra. Andávamos de bicicleta durante a tarde toda, a explorar caminhos. Cheguei a deixar a minha mãe a chorar, a pensar que me tinham roubado, porque saí de bicicleta para ir a casa dos meus avós, na periferia de Fátima, e esqueci-me de avisar. Nessa altura, os telemóveis ainda eram uma raridade. Quando cheguei a casa já era noite e estava lá a minha tia a confortar a minha mãe.".A tentação de chegar cada vez mais longe de bicicleta cresceu, mas foi então que o pai estabeleceu uma regra: "Em vez de fazer uma volta de 100 quilómetros, podia fazer duas de 50." A BTT só apareceu mais tarde. "Quando andava no 6.º ano, através dos meus primos mais velhos soube que existiam competições de BTT e quis logo experimentar, mas o meu pai achou que era cedo demais. Por isso, só comecei a competir quando tinha 15 anos.".Durante esta fase conciliou sempre o estudo e a modalidade, tendo conseguido entrar na Faculdade de Motricidade Humana, onde concluiu um mestrado em Educação Física e Desporto. Entre 2010 e 2012 ainda tentou dar aulas, mas o máximo que conseguiu foi algumas horas de atividades extracurriculares, em Ourém e na Atouguia. A situação profissional precária e o crescente entusiasmo pelo BTT foram medidos e David Rosa apostou no desporto. "Em 2012 deixei o ensino porque continuava a recibos verdes. Tinha poucas horas semanais e precisava de passar muito tempo fora para somar os pontos necessários para a qualificação de Portugal para o Rio (as vagas são atribuídas ao país e não aos atletas). Fiz as contas e vi que não ia valer a pena. Regressar ao ensino pode não estar nos meus planos para já, mas sem dúvida que tenho ali um plano B e isso é sempre bom", conta..Para já, aos 29 anos, o plano A passa por continuar a dedicar-se ao desporto de alta-competição. O contrato assinado com a Tropix, por uma temporada, no início deste ano, deu-lhe o suporte de que precisava. "É uma equipa pequena. Mas que me deu a estabilidade financeira que me permite dedicar de corpo e alma à modalidade, coisa que não acontecia até então. Já tenho há quatro anos o apoio da Liberty Seguros, e só isso é que me permitiu chegar até aqui, mas com este contrato as coisas estão melhores", garante o corredor, que só se deslocou ao gigante asiático para assinar o vínculo. Para hoje, o objetivo que estabeleceu é melhorar o 23.º lugar de Londres 2012. "Penso que é possível. A minha evolução desde então é notória, os meus resultados melhoraram (10.º nos I Jogos Europeus em 2015 e 12.º na prova de Elite do Europeu no mesmo ano). Espero é que esteja um dia bom e, fundamentalmente, que a pista esteja seca.".Enviado ao Rio de Janeiro