Das videochamadas aos carros voadores: as previsões certas e erradas de Blade Runner

Ainda não há carros voadores nem secadores de cabelo ultrarrápidos, mas os robôs estão cada vez mais inteligentes, as videochamadas são uma realidade e os detetores de mentiras também. Eis as previsões tecnológicas certas e erradas do filme de 1982 <em>Blade Runner</em>, passado em 2019<em>.</em>
Publicado a
Atualizado a

A população mundial diminuiu, emigrada para colónias no espaço, os androides feitos com técnicas de bioengenharia viraram-se contra os humanos, a poluição atingiu níveis dramáticos, os carros voam. Era assim que o filme Blade Runner, lançado em 1982, previa como seria a vida em novembro de 2019, em Los Angeles, na Califórnia. Precisamente no mês e no ano em que nos encontramos. Trinta e sete anos após o lançamento do filme de Ridley Scott, a BBC analisa as previsões tecnológicas feitas naquela altura.

Começamos pelos androides. No filme, Rick Deckard trabalha como blade runner, tendo como missão caçar e matar os estes seres sintéticos, conhecidos como replicantes. A mais avançada geração - os chamados Nexus 6 - descrevem-se como "virtualmente idênticos aos humanos" e "pelo menos iguais em inteligência aos engenheiros genéticos que os criaram". Hoje, não se encontram seres artificiais tão realistas como Zhora, Pris, Roy e Leon, nem com a mais avançada inteligência artificial.

Mesmo quando fazemos robôs com forma humana, como Sophia (da Hanson Robotics), estes ficam muito aquém daqueles que apareciam no filme a lutar pela sobrevivência e a fazer poesia com "lágrimas na chuva". Mas existem grandes progressos no campo da inteligência artificial (IA). Esta semana, por exemplo, a DeepMind anunciou que criou os seus primeiros agentes de IA capazes de chegar ao topo do videojogo Starcraft 2.

E se a personagem de Pris, em Blade Runner, é um "básico modelo para prazer", nas palavras do chefe de polícia, na vida real os robôs sexuais estão de facto a tornar-se cada vez mais atrativos, tendo já sido criados bordéis de bonecas sexuais na Europa.

No filme de ficção científica uma das formas encontradas para mostrar que se trata do futuro era a possibilidade de fazer videochamadas, algo comum nos dias que correm. Neste caso, pode dizer-se que a realidade até superou a ficção. Hoje em dia, podem ser feitas nos telemóveis com recurso FaceTime, WhatsApp, entre outras aplicações, que oferecem imagens de alta resolução, com uma qualidade bastante superior à que aparecia na cabine do filme. E as chamadas são bem mais baratas -- virtualmente gratuitas desde que com wifi -- do que se vê no Blade Runner, onde os argumentistas consideraram que este tipo de serviço teria um custo premium.

Embora a primeira videochamada tenha sido feita na década de 1920, entre o chefe do gigante de telecomunicações AT&T e o ex-presidente dos EUA Hervert Hoover - com recurso a um sinal de televisão e uma linha telefónica -, só em 2003 é que começaram a ser mais comuns, com o lançamento do Skype.

"As casas também estão mais inteligentes", diz a BBC. No filme, os assistentes virtuais desempenham um papel importante. Quando Rick Deckard chega a casa, o elevador pede-lhe identificação por voz. E ele responde "Deckard 97", enquanto marca o seu PIN num teclado.

Atualmente, o sistema Alexa, da Amazon, ou o Assistente do Google identificam os utilizadores pelos seus padrões de voz e adaptam-se, sendo possível controlar virtualmente todos sistemas de iluminação, entre outros equipamentos da casa como televisores ou máquinas de ar condicionado.

As chaves cartão, como o que Rick usa para entrar em casa, encontram-se hoje praticamente em todos os hotéis. No entanto, adianta a BBC, é provável que no futuro as fechaduras inteligentes venham a funcionar com um sinal emitido pelos telefones ou que sejam necessários dados biométricos para abrir as portas.

Dos detetores de mentiras às mudanças no planeta

No filme, a máquina Voight-Kampff é usada pelos blade runners para distinguir os humanos dos robôs, com o recurso a perguntas que provocam uma resposta emocional. Com esta tecnologia, é possível medir as funções corporais, como as contrações da íris do olho, de forma a detetar se estão ou não a mentir.

Embora sejam muito diferentes das primeiras máquinas de deteção de mentiras, os polígrafos evoluíram e ainda são usados em muitos países. Mas a sua fiabilidade é muito contestada. Na maioria dos países ocidentais, não podem ser usadas como meio de prova em tribuinal.

"O planeta está a mudar". Nesta previsão também não houve enganos. No filme, a cidade de Los Angeles em 2019 tinha sido fortemente afetada pela poluição industrial, que levou muitas pessoas a abandoná-la.

A cada ano que passa, conta a BBC, esta cidade fica mais lotada. No entanto, o medo das alterações climáticas leva a Califórnia a liderar a luta na redução das emissões de gases com efeitos de estufa. Los Angeles não está tão irrespirável quanto se vê no filme, mas também está longe de ter uma atmosfera limpa e saudável.

Mas os carros não voam e as Polaroid já não lideram

É sobretudo aqui que as previsões do realizador Ridley Scott falham. Tal como em muitos outros filmes -- o Regresso ao Futuro II vem à memória -- os carros da segunda década do século XXI são voadores. No entanto, apesar dos progressos feitos nesta área, quer no Japão quer nos EUA, ainda não existem carros aéreos em circulação.

No campo das fotografias, o filme de ficção científica também fica aquém da realidade atual. Estas têm um papel central no enredo, pois é através da análise das imagens de uma Polaroid que Deckard encontra pistas da localização dos replicantes. E é também através destas que Rachael, uma androide programada com as memórias da filha falecida do seu criador, se tenta convencer que é humana. Mas, para retratar a atualidade, Deckard estaria à procura de imagens digitais numa qualquer rede social e não em fotos em papel.

No entanto, a máquina que o blade runner usa para encontrar pistas, ampliando e aumentando a definição dos detalhes na imagem, ainda parece estar à frente no tempo.

Por fim, os secadores de cabelo não mudaram muito desde há quase quatro décadas. No filme, Zhora seca o cabelo em apenas alguns segundos numa máquina que parece um aquário virado ao contrário. Por agora, e apesar de haver equipamentos que permitem secar o cabelo com maior rapidez, este tipo de tecnologia ainda é só ficção.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt