Isabel Díaz Ayuso, de 40 anos, foi eleita nesta quarta-feira presidente da Comunidade de Madrid. Vai liderar um governo de coligação com o Ciudadanos, tendo contado com o apoio da extrema-direita do Vox na investidura. Uma situação semelhante à que aconteceu na Andaluzia. A tomada de posse será na próxima segunda-feira..A divisão nacional que tem impedido que haja um novo governo em Espanha confirmou-se também a nível regional em Madrid na noite eleitoral de 26 de maio e, pela primeira vez desde 1991, o PP não foi o partido mais votado na comunidade madrilena. Só conseguiu 30 lugares na Assembleia, contra os 37 dos socialistas liderados por Ángel Gabilondo..Mas as contas eram suficientes para uma aliança à direita, visto o Ciudadanos ter eleito 26 representantes e o Vox, 12. O pacto à Andaluza foi difícil de confirmar na prática, especialmente para garantir o apoio do Vox, com muitas negociações até à eleição desta quarta-feira..Díaz Ayuso recusou desde sempre considerar o Vox como um partido radical. "Estou ao lado do Vox, não contra", afirmou. "Quem decide que Vox é extremo? [A estação de televisão] La Sexta e o [partido] Podemos?" A nova líder da Comunidade de Madrid trabalhou como voluntária na campanha de María San Gil no País Basco e nessa época conheceu Santiago Abascal, o líder do Vox..No debate de investidura, prometeu "a maior queda de impostos da história" e, para garantir o apoio dos seus sócios mais radicais, quer que as escolas e os centros educativos que têm o apoio dos fundos públicos anunciem a sua programação anual - a ideia é que as famílias optem por não levar os filhos à escola quando estiverem previstas matérias que vão contra a sua convicção religiosa ou moral..Também para agradar ao Vox vai haver uma pasta da Família no governo regional, para incentivar a natalidade, mas o partido de extrema-direita foi obrigado a recuar na revogação das leis LGBTI. "Sou uma mulher sensata, moderada e liberal", disse..Mas, tal como o Vox, Díaz Ayuso tem defendido "romper a ditadura das feministas radicais", criticando a demonização de todos os elementos do sexo masculino. "Sou contra o machismo, não contra os homens. Não quero sentir discriminação ou injustiças por ser mulher, mas também não quero vantagens nem privilégios", afirmou, não indo tão longe como o Vox, que defende a derrogação da lei da violência de género.."Ao Ciudadanos e ao Vox digo que tanto um projeto como o outro vão cumprir-se", disse Díaz Ayuso durante o debate. "O documento de Vox assumo-o na sua totalidade, e vou cumpri-lo, o mesmo que o acordo de 155 pontos com o Ciudadanos", acrescentou. O pacto não é baseado em nenhum acordo assinado, pelo que o partido de Abascal, liderado em Madrid por Rocío Monasterio, defendia que fizesse uma declaração pública para que ficasse em ata. O Ciudadanos, liderado na região por Ignacio Aguado, recusou sempre negociar diretamente com o Vox..Negócios de família polémicos.A eleição de Díaz Ayuso está envolta em polémica, por causa dos negócios de família, usados pela esquerda para tentar fragilizar a nova presidente. A Avalmadrid, uma empresa semipública, deu em 2011 um crédito de 400 mil euros a uma empresa do pai de Díaz Ayuso, apesar de alegadamente os técnicos terem sido contra, visto que as contrapartidas no caso de incumprimento não chegavam para cobrir essa dívida..A empresa acabaria por deixar de pagar aos trabalhadores e entrar em incumprimento, não tendo o dinheiro sido devolvido até agora. O pai de Díaz Ayuso faleceu em 2014, vítima de Alzheimer, e há e-mails que mostram que ela sabia dos problemas de dívidas que havia já em 2011.."O que estão a fazer com a minha família não tem nome. Arruinou-se, mas criou muitos empregos", defendeu a candidata no final do debate, emocionada, dirigindo-se à esquerda, alegando que os media telefonaram para casa de ex-trabalhadores da empresa da família para tentar arranjar histórias contra ela. "Vocês não contam que o meu pai estava há anos de baixa médica, doente, que a minha mãe estava reformada. Falam de empresas, não sabem nada, não sabem que percentagem tinha a minha família, nem contam que nunca tive nenhum vínculo laboral com a minha família porque me tornei independente muito jovem. E estou orgulhosa de o ter feito assim", indicou no debate..No meio dos problemas com dívidas, a agora presidente da Comunidade de Madrid é proprietária de um apartamento em Chamerí, que foi uma doação dos pais. Ao doarem o imóvel à filha, puseram o apartamento a salvo de uma penhora por parte dos credores da operação da Avalmadrid - ambos os pais eram fiadores do negócio e, à falta de bens da empresa do pai, a entidade pública podia recorrer aos bens próprios para pagar a dívida..Díaz Ayuso viu também o seu nome envolvido na rede de corrupção Púnica, que terá adjudicado serviços públicos no valor de 250 milhões de euros em dois anos, com vários políticos e funcionários a receber comissões ilegais. Entre os atingidos esteve o antigo número dois do PP na Comunidade de Madrid, Francisco Granados..Segundo os jornais espanhóis, Díaz Ayuso terá servido de interlocutora no PP nos trabalhos de melhoria da reputação de Esperanza Aguirre, ex-presidente da comunidade, mas ela alega que a ligação que teve foi "por questões técnicas". Nunca foi acusada nem chamada a declarar pelo juiz que investiga a rede..De desconhecida a presidente da Assembleia.Díaz Ayuso era praticamente uma desconhecida até Pablo Casado apostar nela como candidata à Comunidade de Madrid. Foi deputada na Assembleia de Madrid durante dois mandatos, de 2011 a 2017, tendo trabalhado na campanha de Aguirre de 2011 e liderado a estratégia digital de Cristina Cifuentes quatro anos depois. Foi ainda vice-conselheira da Justiça desta última. Dentro do partido, passou pela área de transformação digital e é atualmente vice-secretária de Comunicação.."Sou outra pessoa, tenho outro perfil", disse, demarcando-se das antecessoras quando a justiça foi atrás delas por causa do alegado financiamento ilegal do Partido Popular na Comunidade de Madrid..Nascida em Madrid a 17 de outubro de 1978, Díaz Ayuso cresceu no bairro central de Chamberí, vivendo agora no de Malasaña. Ainda na infância, com apenas 8 anos, tinha escrito uma carta ao primeiro-ministro Felipe González, angustiada pela crise planetária, tendo recebido uma resposta tranquilizadora do líder socialista, que entretanto já perdeu..Quis ser jornalista e estudou na Faculdade de Ciências de Informação da Universidade Complutense, tendo um mestrado em Comunicação Política e Protocolo. Chegou a trabalhar em vários meios de comunicação em Espanha, Irlanda e Equador, passando pela Rádio Marca. Mas o seu caminho acabaria por ser na política, na qual se envolveu nos tempos da universidade, segundo o seu site oficial de campanha, filiando-se no PP aos 25 anos..Tem duas tatuagens (Cifuentes tinha sete), uma é no braço e é a rosa que aparece na capa do disco Violator (1990), dos Depeche Mode, que foi desenhada pelo artista holandês Anton Corbjn. "Recorda-me a época de verão, a minha adolescência, os meus amigos", disse numa entrevista a Vanitatis . Já foi casada e atualmente mantém uma relação com Jairo Alonso, empresário da área de comunicação e marketing em várias empresas de beleza.