Histórias de crescimento com a manteiga barrada da nostalgia. O chamado coming of age à americana é cada mais um género próprio de cinema. The Tender Bar, nova realização de George Clooney, é um bom exemplo disso mesmo, apropriando-se da "ideia feita" do filme americano dos anos 1970. Uma adaptação das memórias do escritor J.R. Moehringer, na qual se conta a sua infância em Long Island, onde recebeu lições de vida do seu simpático tio, dono de um bar povoado por adultos com tendências paternais. Um menino a crescer numa América dos anos 1970 onde se celebrava uma ideia de tudo poder ser possível no sonho americano, entre idas ao bar, à praia e ao salão de bowling. J.R. em duas épocas: a infância e a adolescência. Na primeira, traumatizado pelo cancro da mãe e pela ausência do seu pai, um alcoólico desleixado. Na segunda, a contas com um primeiro amor que lhe dá material de coração partido para se tornar escritor..Citaçãocitacao"Senti que ele [George Clooney] confiou em mim e eu também confiei muito nele. Diverti-me muito, muitas vezes fazia apenas um take ou, no máximo, dois. Não era nada mandão!" .The Tender Bar é um filme de um ator para outros atores. Fala-se em Hollywood que Ben Affleck, na pele do tio de J.R., poderá ser um dos atores fadado para a nomeação do Óscar de melhor ator secundário. Exagero? Talvez se pensarmos que o ator era bem mais eficaz em O Ùltimo Duelo, de Ridley Scott. Mas há ainda Tye Sheridan, que interpreta J.R, na sua juventude. Porém, a surpresa é o ênfase dado a Daniel Ranieri, o menino de dez anos. Uma descoberta de George Clooney que subverte a ordem natural dos castings a crianças: Daniel nunca antes tinha atuado, não tinha experiência com câmara, ou seja, não era um wonder kid com experiência, algo que costuma ser decisivo nas escolhas dos pequenos prodígios. Numa entrevista em vídeo em exclusivo para o DN, esta criança com olhos incrivelmente expressivos conta como foi escolhido: "história maluca: a minha mãe filmou-me através do telemóvel. Era um vídeo onde refilava com o confinamento! De repente, a minha tia colocou o vídeo nas redes sociais e ficou uma coisa viral! Uns meses depois o Jimmy Kimmel viu todo esse fenómeno e convidou-me para o seu programa. Resultado, mal acabou a entrevista, um diretor de casting liga para a minha mãe e diz-lhe que o George Clooney queria-me como ator no seu próximo filme...Fiquei de boca aberta!!". O vídeo que fez rir à América tinha o menino a dizer inocentemente uma asneira e ficou conhecido como Fucking Lockdown..Inquieto na cadeira e a olhar de soslaio para o lado, onde supostamente estava a sua mãe, Daniel está com um sorriso que nem sempre demonstra no filme. Os olhos, a vivacidade do olhar, são os mesmos. É sem traquinice que se queixa de uma certa obrigação: " o que menos gostei desta experiência foi ter aulas no plateau. Para fazer o filme fui dispensado de ir à escola mas no plateau tinha sempre um tutor...Mal acabava uma cena tinha de ir logo para uma sala ter aulas com esse tutor...Depois, se tivesse mais uma cena, lá me iam chamar mais uma vez. Era assim que tudo se passava. Na verdade, não conseguia ver as cenas dos outros - queria, por exemplo, ter aprendido com o Tye Sheridan, que interpreta também a minha personagem. Enfim, queria melhorar o meu desempenho. Ainda assim, gostei da experiência". Insistimos e perguntamos se foi fácil: "tenho dito que foi na boa mas não foi assim tão fácil", confessa..Depois de O Céu da Meia-Noite, feito para a Netflix, Clooney como realizador, parece apostado em estudos de personagens. Recorde-se que ao longo da sua carreira como realizador tem ido a diversos géneros e perseguido uma ideia de um certo classicismo. Boa Noite, e Boa Sorte, em 2006, deu-lhe seis nomeações aos prémios da Academia, mas terá sido em 2011 o ano em que assinou o seu melhor filme, uma fábula política chamada Nos Idos de Março, feito como um turbo desenfreado de liberalismo. Em breve, quando se despachar dos deveres de ator em Ticket do Paradise, ao lado de Julia Roberts, tem programado um filme sobre uma equipa olímpica de remo dos Jogos Olímpicos de 1936. Chama-se The Boys in the Boat e tem Calum Turner como protagonista..Para Ranieri, Clooney é um grande realizador: "é sobretudo muito calmo a dirigir. O que se passa com o George é que consegue pôr-me sempre muito confortável. Senti que ele confiou em mim e eu também confiei muito nele. Diverti-me muito, muitas vezes fazia apenas um take ou, no máximo, dois. Não era nada mandão! Sabe como me dirigia? Bastava pedir para eu ter um pouco mais de ação ou de emoção... Tive uma grande ligação com o George, mas também com o Ben Affleck. Gosto muito deles, são os meus novos amigos". Ainda assim, o seu sonho é agora fazer um filme como Vingadores ou Homem-Aranha....dnot@dn.pt