Dança de grupos após saída de Fidesz do PPE
O grupo de deputados não inscritos no Parlamento Europeu tem desde quarta-feira o mesmo número de representantes que o da Esquerda Unitária/Esquerda Nórdica Verde, onde se sentam os eleitos do Bloco de Esquerda e do PCP, 39, depois de o Fidesz, partido no poder na Hungria, ter antecipado a sua expulsão do grupo do Partido Popular Europeu (PPE). A reformulação dos grupos políticos deverá continuar nos próximos tempos, com a possibilidade de mais saídas do PPE e um reforço no grupo do Partido Socialista.
O PPE aprovou por 148 deputados a favor, 28 contra e quatro abstenções uma medida que permite suspender ou expulsar uma delegação inteira de um partido nacional, ao que o líder do Fidesz e primeiro-ministro húngaro reagiu com a saída. "Informo que os eurodeputados do Fidesz renunciam à sua filiação no grupo do PPE", disse Viktor Orbán numa carta ao líder do grupo Manfred Weber. Orbán acusou o PPE de "tentar silenciar e desativar os deputados democraticamente eleitos" e chamou à votação "um movimento hostil contra o Fidesz e os seus eleitores", bem como "antidemocrático, injusto e inaceitável".
O PPE já tinha suspendido o Fidesz em 2019 devido a uma campanha com cartazes que acusavam o então presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker e o bilionário de origem húngara George Soros de conspiração para inundar a Europa de migrantes.
Orbán, que ao longo dos anos transformou o regime do seu país para um sistema iliberal, em afronta aos valores comuns da União Europeia, há muito que estava debaixo de fogo de parte da bancada do PPE devido aos ataques aos direitos humanos, à liberdade de imprensa e à independência do poder judicial no seu país, além dos ataques contra uma UE que não deixa de subsidiar a Hungria.
Estes anos de hesitação criaram divergências no seio do PPE e fizeram fraturas entre os eleitos do norte e centro da Europa e os alemães da CDU/CSU, mais compreensivos para com o homem que se identifica mais com Vladimir Putin e Recep Erdogan do que com Bruxelas. "Grande alívio" e "dia histórico", foi como o deputado finlandês Petri Sarvamaa reagiu.
No PPE poderá dar-se outra partida: a dos quatro eslovenos do partido do primeiro-ministro Janez Jansa. "Chamamos-lhe mini-Orbán, mas na realidade é pior", comentou um próximo do PPE ao Le Point. A revista francesa avança que outros dois deputados da minoria húngara na Roménia também podem arrepiar caminho.
As apostas sobre o destino dos 12 deputados recaem no grupo conservador e eurocético, que perdeu os representantes britânicos, mas onde pontificam os polacos do ultraconservador PiS, de Jaroslaw Kaczynski , ou a AfD alemã, que de pronto deu as boas-vindas a Orbán.
Se o maior grupo político perde representantes, o segundo, dos sociais-democratas e socialistas (S&D), poderá reforçar-se com outro partido não inscrito: o Movimento 5 Estrelas. O partido italiano originariamente antissistema aproxima-se do centro-esquerda e, depois de ter perdido quatro deputados para os Verdes, poderá levar os restantes 10 para o S&D, segundo o site Euractiv.