Para todos os que andam na política com a ambição de ajudar a fazer a diferença, não há melhor recompensa do que ver um projeto no qual nos envolvemos desde a sua nascença dar bons frutos. Sobretudo quando esses frutos são avanços nunca antes atingidos, com potenciais benefícios para milhões de pessoas..Tive essa sensação quando, no dia 6 deste mês, a Organização Mundial da Saúde anunciou que, na sequência de projetos-piloto muito bem-sucedidos no Quénia, Gana e Malawi, tinha decidido recomendar o uso generalizado da primeira vacina de sempre contra a malária em crianças da África Subsariana e outras regiões com índices moderados a elevados de transmissão do parasita Plasmodium falciparum, causador desta doença..A história desta vitória na luta contra uma das piores pragas do nosso planeta, que atinge com particular gravidade as populações mais desfavorecidas, teve muitos atores e protagonistas. Mas um dos principais, talvez aquele que pela primeira vez demonstrou ser possível agregar vontades num projeto de cooperação transcontinental, foi a parceria entre a União Europeia e países africanos em desenvolvimento na área dos ensaios clínicos (EDCTP, na sigla em inglês), mais conhecida pelos nomes das três doenças que ambicionava combater: sida, malária e tuberculose..E esta parceria, vale a pena lembrá-lo, nasceu em 2003, na sequência de uma iniciativa de Portugal e de Moçambique junto do Conselho Europeu, na qual esteve envolvido o então primeiro-ministro moçambicano e eu própria, na qualidade de ministra da Ciência e Ensino Superior de Portugal. Mais tarde, na minha primeira passagem pelo Parlamento Europeu, fui relatora-sombra da sua segunda geração. E mais recentemente, de regresso a às funções de eurodeputada, fui encarregue do relatório relativo a um conjunto de nove parcerias do programa quadro Horizonte Europa, entre as quais se encontrava a EDCTP, agora chamada de Saúde Global..Um relatório que foi discutido esta terça-feira à noite no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, e que acredito, face ao consenso obtido junto dos diferentes grupos políticos, será aprovado com ampla margem na votação final marcada para esta quinta-feira..Mais do que um ciclo concluído com sucesso, esta coincidência da discussão e votação da nova geração de parcerias, e o anúncio de um avanço decisivo conseguido graças ao envolvimento de uma delas, tem para mim o significado de uma validação. Fica demonstrado que é através da aposta na investigação científica e na inovação, em colaboração alargada, envolvendo diferentes países e atores públicos e privados, que se conseguem dar saltos quânticos que mudam as nossas vidas..No que respeita às nove parcerias agora debatidas, isto é válido no caso da Saúde Global e é válido, ainda na área da saúde, em relação à Iniciativa Saúde Inovadora, que ambiciona desenvolver a nova geração de medicamentos para tratarem as doenças que mais afetam os europeus, como o cancro e as doenças cardiovasculares..E é válido nas diversas parcerias com a indústria que procuram soluções tecnológicas que nos permitam descarbonizar a nossa economia ao mesmo tempo que preservamos e melhoramos a qualidade de vida das nossas populações e das nossas empresas. Criando mais empregos e mais riqueza, dando à nossa indústria europeia a liderança em diversos setores-chaves..Iniciativas na área da mobilidade, como a Aviação Limpa, que visa desenvolver o avião comercial do futuro, com baixos níveis de emissão de C02, mas também na energia, concretamente no hidrogénio, na economia circular, no digital, incluindo no 5G e 6G, bem como na produção de microprocessadores..O caminho para superarmos os enormes desafios que enfrentamos passa pelas ideias, pelo conhecimento e pela nossa capacidade de os transformar em soluções concretas. Não é ficção científica. É, apenas e só, ciência..Eurodeputada