O futebol abreviou para Litos o nome que os pais deram a Carlos Manuel de Oliveira Magalhães, o "capitão do título do Boavista" conquistado em 2001. Um defesa central que "adorava" marcar Mário Jardel e que fez carreira entre Portugal e Espanha até dizer adeus aos relvados em 2008. "Quando acabei para o futebol acabei mesmo", diz o ex-jogador, que hoje faz 43 anos..Vai para dez anos que trocou as negociações dos contratos pela mediação imobiliária a tempo inteiro. E há cerca de um ano investiu na restauração, em Leça da Palmeira, onde vive e ganhou o gosto pelo surf. "Agora tenho uma nova aventura, uma hamburgueria artesanal, o Aloha Burger", contou ao DN Litos, que assim conseguiu aliar a paixão pelo mar, o surf, a comida e o negócio....Normalmente está ao balcão, mas se for preciso arregaça as mangas e ajuda na cozinha "sem problemas". Afinal de contas teve formação não só na área alimentar como na de recursos humanos. "Na hamburgueria todos tivemos formação com chefes e em escolas de hotelaria, porque o cliente tem de ser exigente, bem servido, de forma eficaz e com qualidade, e isso requer muitas horas de formação e estar sempre atentos, afinal estamos a trabalhar com alimentos", explicou o novo empresário da área da restauração..E o que leva um hambúrguer à Litos? "Bom pão, boa carne e uma boa combinação de ingredientes, adoro rúcula, bacon, queijo cheddar e um bom vinho para acompanhar", respondeu o antigo campeão nacional, sem fazer uso da faca de dois gumes, "ou dois legumes, como diria o mister Jaime Pacheco"..A fase do imobiliário."Quando deixei de jogar futebol dediquei-me mais ao imobiliário. Já quando era jogador tinha uma espécie de segundo emprego, que era a compra e venda de imóveis [risos]. Era uma vocação, gostava da negociação", confessou, sem saudades dos tempos em que negociava "pessoalmente" os próprios contratos: "Não tem nada a ver...".Por isso foi com naturalidade, que as chuteiras deram lugar às pastas e aos dossiês de estudo: "O imobiliário, tanto na mediação como nos investimentos, requer instrução própria, tem de se saber negociar, seguir as leis, conhecer os estudos da reabilitação urbana, ramo a que ainda estou ligado, é preciso estar sempre atualizado.".Ao contrário de outros colegas, Litos nunca sentiu vontade de ser treinador. "Por acaso não tenho essa vocação, respeito muito os jogadores que viram treinadores, mas não é uma área que queira dominar", atirou. Mas porquê? Alguma desilusão com o futebol? "Pelo contrário, devo tudo ao futebol e ao meu trabalho, mas o que rodeia o futebol e o ambiente à volta não é para mim, não se encaixa no meu dia-a-dia", respondeu Litos. Ou fazendo uso da nova atividade... deixou de ter estômago para o futebol..O título e a marcação a Jardel.Olhando para trás, Litos sente-se "realizado e satisfeito" com a carreira que teve. Foi campeão no Boavista (2000-01), algo que apenas uns 50 jogadores conseguiram sem jogar num grande. "Um feito tremendo", em que começou a acreditar num célebre jogo na Madeira, com o Marítimo (1-1). "Sentimos que nos estavam a tentar tirar do 1.º lugar. E quando acabou o jogo, o mister Jaime Pacheco, no balneário, comunicou-nos que, a partir daquele momento, íamos assumir a candidatura ao título.".Depois, no final dessa época, mudou-se para Espanha e acabou com os rumores de que ia para o Benfica, o FC Porto ou o Sporting. Cada vez que o mercado de transferências abria era apontado a um dos três grandes. "Era, mas nunca se proporcionou. Houve conversas, mas não passou daí. Depois fomos campeões, apareceu o Málaga, e ainda bem, pois tive oportunidade de jogar num campeonato muito competitivo e muito bom.".Em dia de dérbi da Invicta, Litos recorda os duelos com o FC Porto com saudade. "Adorava marcar o Mário Jardel, um dos maiores pontas-de-lança que houve no futebol português. Tenho uma história com ele engraçada. Fomos ambos nomeados para uns prémios e cruzámo-nos no elevador, íamos ambos acompanhados e ele vira-se para mim e diz: "Pô Litos, marcação cerrada até no elevador." E toda a gente começou a rir-se.".Era central de marcação. E "adorava ganhar o jogo do gato e do rato" com os avançados. "A minha missão era não os deixar fazer golos. Eu amava a competição por causa disso", revelou Litos, antes de fazer uma confissão: "Era um pouco preguiçoso nos treinos e o Jaime no balneário usava isso para dizer que no jogo eu dava tudo e era sempre o primeiro a ir à luta. E era, eu adorava a competição e os duelos particulares.".Sabe que será para sempre "o capitão do título do Boavista" e isso fá--lo sorrir. Isso e saber que sempre suou e respeitou a camisola que vestiu. Além disso, o futebol deu-lhe bons amigos, como Nuno Piloto e o Petit. Quando se juntam falam "da vida, do dia-a-dia, e o futebol acaba sempre por vir ao de cima".