Da banca à Casa Branca, The Mooch chegou, viu e já venceu o principal rival

Ex-banqueiro de investimento, Anthony Scaramucci foi nomeado há uma semana. Mas nem sempre foi apoiante do presidente Trump.
Publicado a
Atualizado a

Quando Donald Trump nomeou Anthony Scaramucci para diretor de comunicação, levando à demissão do porta-voz da Casa Branca Sean Spicer, não faltaram as piadas com muitos a cantarolar: "Scaramouche, Scaramouche, will you do the fandango?" Alusão à canção Bohemian Rapsody dos Queen. Na sua primeira conferência de imprensa, o ex-banqueiro mandou beijinhos com a ponta dos dedos e mais tarde comentou a maquilhagem da nova porta-voz, Sarah Huckabee Sanders. Mas passada uma semana, o homem que os amigos tratam por The Mooch já provou que não está para brincadeiras. E que o seu poder é inegável, tendo conseguido que o presidente afastasse Reince Priebus, seu chefe de gabinete, que Scaramucci culpou pelas fugas de informação para a imprensa.

Uma das poucas pontes entre a Casa Branca e o Partido Republicano, de que fora presidente, Priebus foi substituído pelo general John Kelly, até agora secretário para a Segurança Interna e responsável, entre outros, pela gestão da proibição de entrada nos EUA de cidadãos oriundos de alguns países de maioria muçulmana. "O presidente queria ir numa direção diferente", explicou Priebus na CNN, acrescentando que Kelly é "uma escolha brilhante". No Twitter, Trump considerara o general como "um grande americano" e uma "verdadeira estrela da minha administração".

Se Priebus sempre foi discreto desde que chegou à Casa Branca e se a relação entre este homem do sistema e um presidente que se orgulha de vir de fora desses sistema e até de o querer destruir não seria fácil, poucos duvidam que o seu afastamento terá sido acelerado pela chegada de Scaramucci.

Afinal, este avisou que ia acabar com as fugas de informação nem que tivesse de "despedir todos os funcionários da Casa Branca". Garantindo ter uma relação de "irmãos" com Priebus, Scaramucci chamou-lhe contudo "esquizofrénico paranoico". Mas o ex-chefe de gabinete não foi o seu único alvo. Sobre Steve Bannon, o até agora há pouco poderoso estratega da Casa Branca, afirmou numa chamada para o repórter da New Yorker, Ryan Lizza: "Não sou o Steve Bannon. Não estou a tentar chupar a minha própria pila. Não estou a tentar criar a minha marca à custa do presidente. Estou aqui para servir o país".

Nascido em Long Island há 53 anos, este neto de um imigrante italiano criado numa família de classe média católica formou-se em Economia na Tufts University antes de tirar Direito em Harvard. Foi no banco de investimento Goldman Sachs que a sua carreira começou em 1989, tendo lá passado sete anos. Depois de uma passagem pelo Lehman Brothers, em 2005, fundou a SkyBridge Capital, uma empresa de investimento global que vendeu em janeiro passado, quando se preparava para assumir um cargo na Administração que não se chegou a concretizar.

Dono de uma fortuna de 64 milhões de dólares, que amealhou em Wall Street, Gucci Scaramucci, como lhe chamava o ex-presidente George W. Bush devido ao seu gosto pelos fatos de marca, chegou a ter o seu próprio programa de televisão - The Wall Street Week, na Fox Business. Autor de três livros - todos eles em torno da ideia de como conquistar uma fortuna -, Scaramucci nem sempre foi um apoiante de Trump. Em 2008 chegou a recolher fundos para a campanha de Barack Obama, mesmo se mais tarde criticou o presidente democrata pela sua gestão da crise financeira. E na última campanha eleitoral, não só começou por apoiar Scott Walker e mais tarde Jeb Bush na corrida à nomeação republicana, como considerou Trump um "artista da política" que por ser "desbocado" assustava os políticos. E na Fox News desafiou: "Eu não sou político. Tu és um tipo de Queens que herdou o dinheiro. Vamos lá, Donald!"

Nem estas críticas, nem o facto de ter considerado Hillary Clinton, a rival democrata de Trump nas presidenciais de novembro de 2016, "extremamente competente" - num dos vários tweets que apagou quando foi escolhido por Trump para diretor de comunicação - impediram o republicano de colocar Scaramucci na comissão encarregue da sua tomada de posse. Um papel em que The Mooch voltou a dar que falar, quando anunciou que Elton John iria atuar em Washington, informação categoricamente desmentida pelo cantor.

Em processo de divórcio de Deirdre Ball, 38 anos e mãe dos seus dois filhos mais novo (tem uma terceira, Amelia, do primeiro casamento), Scaramucci diz agora "adorar" Trump. Amigo do filho mais velho do presidente, Donald Jr, e próximo da filha deste, Ivanka, e do genro e conselheiro Jared Kushner, The Mooch já provou ser uma figura temível dentro de uma Casa Branca minada por guerras internas. Resta saber se vai conseguir impor a sua vontade ou se para isso vai ter de afastar mais rivais.

[artigo:8671576]

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt