Da Ásia às Américas, lá fora as famílias também chegam ao poder juntas

Muito antes de acontecer com a família Vieira da Silva em Portugal, já os Kennedy, os Nehru-Gandhi e os gémeos Kaczynski na Polónia escreviam juntos a história política dos seus países.
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O líder do PSD, Rui Rio, não deixou a observação para terceiros. "Pela primeira vez na história de Portugal senta-se marido e mulher, e agora pai e filha no Conselho de Ministros", começou por dizer, esta segunda-feira, a propósito da remodelação do Governo. Falava da nova ministra da Presidência e da Modernização Administrativa e filha do ministro do Trabalho, Mariana Vieira da Silva. Mas também do atual ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, casado com a Ministra do Mar, Ana Paula Vitorino.

Em Portugal, as gerações que se seguem umas atrás das outras na política é notícia, mas não é novidade no mundo. Na verdade, desde a América dos Kennedy à Índia dos Nehru-Gandhi, a esfera política é escrita por dinastias. E a história parece continuar a escrever-se assim mesmo.

Nos anos 60, dava-se início a uma das mais populares dinastias dos Estados Unidos da América. Em 1961, os irmãos John Fitzgerald Kennedy (mais popularmente conhecido por JFK) e ​​​​​​​Robert Kennedy inauguram o histórico político na família. JFK como o 35.º Presidente dos EUA, entre 1961 e 1963, tornando-se numa das maiores personalidades do século XX. Já Robert (também conhecido como Bobby e também RFK) foi procurador-geral dos EUA entre 1961 e 1964 e um dos primeiros e maiores rostos no combate à Máfia. Ambos tiveram o mesmo destino: foram assassinados. Hoje, é o neto de Bobby, Joseph P. Kennedy III, quem continua a escrever a história política da família democrata, como membro da câmara dos Representantes, eleito pelo estado de Massachusetts.

Mais tarde, a família republicana Bush leva dois homens até à Casa Branca: George H. W. Bush, entre 1989 e 1993, e o filho George W. Bush (filho), entre 2001 e 2009. Já bem antes, entre os anos 50 e 60, o pai e avô Prescott S. Bush dava cartas na política como senador dos EUA.

Os Clinton não são exceção à regra. Marido e mulher concorreram para a presidência do país, mas apenas um conseguiu lá chegar. Bill Clinton foi eleito o 42.º presidente norte-americano, tendo servido dois mandatos, entre 1993 e 2001. Hillary, por outro lado, já leva consigo duas candidaturas sem sucesso - a primeira em 2008 e a segunda em 2016, nesta última derrotada pelo atual presidente Donald Trump. Entre 2001 e 2013, Hillary exerceu funções como senadora de Nova Iorque e, depois, como secretária de Estado dos EUA.

Também a Cuba de Fidel Castro ganhou um terreno fértil para sucessões familiares, com o seu irmão mais novo, Raul, que se manteve na liderança de 2008 até ao ano passado. E, na Europa, até a família Le Pen se repete à frente da extrema-direita em França - o pai Jean-Marie fundou o partido, depois liderado pela filha Marine. E não falta quem veja na neta/sobrinha Marion uma possível sucessora.

Na Ásia, a dinastia Nehru-Gandhi dominou a política indiana desde a independência da Grã-Bretanha em 1947. Começou com Jawaharlal Nehru, como primeiro-ministro da Índia pós-independência, seguido pela filha Indira Gandhi, a primeira mulher primeira-ministra no país e assassinada em 1984, quando ainda exercia o cargo. O filho Rajiv foi o sucessor, mas acabou por ter o mesmo destino que a mãe, em 1991. Hoje, o Partido do Congresso é ainda liderado por Sonia, a viúva de Rajiv, e o seu filho, Rahul foi o candidato às últimas eleições.

E nem a Coreia do Norte foge à tradição. A família Kim está no poder desde 1948, quando o país passou a ser governado pelo líder comunista Kim Il-sung, considerado o "eterno líder" do país. É Kim Jong-un, seu neto, quem hoje governa esta Coreia, tendo sucedido ao pai, Kim Jong-il.

Desde sempre, contar a história política do mundo é contá-la por gerações. Mais raros são os casos em que estas gerações se cruzaram no poder, exercendo ao mesmo tempo um cargo de autoridade num determinado país. Raros, mas não inexistentes. Na Polónia e no Sri Lanka encontramos dois exemplos

Primeira no mundo e ao lado da própria filha

Sirimavo Bandaranaike foi a primeira mulher no mundo a chefiar um governo e exerceu este mesmo cargo em três diferentes períodos da história (de 1960 a 1965, de 1970 a 1977 e, por fim, de 1994 a 2000). O último mandato, executado até ao ano da sua morte, em 2000, partilhou-o ao lado da filha, presidente do país até 2005.

Um pouco por toda a Ásia, a sucessão dinástica permitiu que muitas mulheres se tornassem presidentes - e porque era mais comum os chefes de governo terem filhas e não filhos. A história de Sirimavo Bandaranaike corrobora a regra, embora não tenha chegado a primeira-ministra pela mão de um pai, mas do marido, primeiro-ministro e assassinado em 1959 por um monge budista. Antes disso, já era conhecida pela esfera política, quando acompanhava Solomon para os eventos públicos e, assim que morreu, aceitou o apelo dos membros do Partido da Liberdade para o substituir.

No terceiro dos seus mandatos, a filha Chandrika Bandaranaike Kumaratunga chega a presidente do Sri Lanka. Mas nem por serem mãe e filha esta relação foi pacífica.

Mesmo no romper do milénio, o país ficou de luto com a morte de Sirimavo, em dia de eleições legislativas, vítima de ataque cardíaco aos 84 anos. Tinha abdicado das suas funções havia apenas dois meses.

Os gémeos que conquistaram a Polónia

Se a política corre nas veias de alguma família, a destes dois irmãos é uma delas.

Juntos formaram o partido Lei e Justiça na Polónia, em 2001, e são caso raro em todo o mundo: os gémeos Jarosław Kaczynski e Lech Kaczynski assumiram de mãos dadas a governação de um país.

Lech começou o legado um ano antes do irmão, como presidente do seu país de 2005 até 2010, ano da sua morte, num acidente aéreo. Em 2006, no seguimento da demissão do primeiro-ministro Kazimierz Marcinkiewicz, Lech decide nomear o seu irmão para o cargo. Contudo, Jaroslaw decide não avançar, receando prejudicar a campanha eleitoral do próprio irmão.

Mas Jaroslaw chegaria mesmo a primeiro-ministro da Polónia, entre julho de 2006 a setembro de 2007, depois de se tornar líder do seu partido no parlamento e ser considerado o mais poderoso político polaco.

Contudo, na história das dinastias pelo mundo, nem sempre partilhar o sangue significa concordância política. E a família Nguema, da Guiné Equatorial na África Ocidental, é exemplo disso mesmo. Francisco Macias Nguema, eleito presidente em 1968, foi derrubado pelo próprio sobrinho, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo em 1979.

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