D. Quixote vai mesmo fechar o festival de cinema de Cannes

Paulo Branco provocou ontem um alvoroço com a imprensa anunciando em direto a decisão do tribunal francês. O produtor viu confirmados os direitos sobre o filme de Terry Gilliam baseado nas aventuras do cavaleiro andante
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Foi das conferências de imprensa mais improvisadas de sempre: Paulo Branco, no stand da sua produtora Alfama, em pleno circo do mercado, reagiu à carta de Amazon Studios em largar The Man Who Killed D. Quixote no mercado americano e à decisão do tribunal de Paris em autorizar a passagem em Cannes. Um momento de caos que juntou dezenas de jornalistas incrédulos com a situação e até meteu suspense à espera do momento em que o produtor que diz deter os direitos do filme recebia o telefonema do seu advogado.

Um Paulo Branco muito sorridente a falar inglês, português e francês. Mal soube a decisão que autoriza o filme de Terry Gilliam de poder passar no encerramento do festival afirmou que não se sentiu perdedor: "Para o festival esta decisão é péssima. Já viram o que é um festival ter de fazer um comunicado a afirmar que vai passar um filme cujos direitos são meus!? Esta foi a melhor decisão! Por um lado, não posso ser acusado de ser o vilão por o filme não passar em Cannes, por outro, confirma que eu tenho todos os direitos e que não podem fazer nada sem a minha autorização. Não poderia estar mais satisfeito. Se em Portugal as notícias forem as de que eu perdi esta batalha, estou a marimbar-me!"

Paulo Branco tinha interposto uma ação em tribunal em Paris contra o festival francês para impedir a exibição do filme no encerramento, em estreia mundial, no dia 19, no seguimento de uma disputa legal por causa dos direitos do filme. O festival fica autorizado a exibir a longa-metragem de Terry Gilliam, mas segundo Paulo Branco os direitos do filme continuam a pertencer-lhe e à produtora Alfama Films.

Branco voltou a garantir que esta decisão do Tribunal de Grande Instância de Paris reforça a ideia que é impossível legalmente a estreia comercial em França na data anunciada, precisamente a 19 de maio, dia em que terá a estreia em Cannes. Ainda assim, para Paulo Branco a decisão do tribunal também se deve ao facto de este festival não ser considerado comercial: "Seja como for, a Star Invest, o Terry Gilliam e Kinology, ainda vão ter de me pagar uma indemnização para que possa haver a projeção, segundo a decisão agora conhecida. O Tribunal foi claro, pode passar em Cannes mas nada tem que ver com todas as indemnizações que eu possa ter de receber."

Nesta conversa com os jornalistas internacionais que provocou o rebuliço no piso Riviera do Palais, Branco insistiu que é muito mau sinal o filme estar como sessão de encerramento. Segundo o produtor português, esta é a sessão que está destinada aos desastres da indústria, realçando ao mesmo tempo que lhe interessa que o filme seja visto.

Contente também está o distribuidor francês do filme, a Océan, que nas redes sociais garante que que o filme já está a fazer história do cinema: "O feitiço foi quebrado." Independentemente de tudo isso, The Man Who Killed D. Quixote terá também uma forte operação promocional, estando já a ser organizado um imenso plano de entrevistas com a presença de Gilliam e dos atores, entre os quais Adam Driver, Jonathan Pryce e a portuguesa Joana Ribeiro. O filme é uma adaptação livre de D. Quixote, de Cervantes, com uma narrativa que decorre nos séculos XVII e XXI. Este é um projeto antigo de Terry Gilliam, que remonta a 1989 e cuja produção sofreu sucessivos solavancos e interrupções, com problemas com elenco e com financiamento, sendo descrito pela imprensa especializada como um filme amaldiçoado.

Há muitos anos que Cannes não vivia uma novela deste género. Talvez desde 2011, o ano da famosa conferência de imprensa de Lars von Trier que o tornou persona non grata. A ironia de tudo isto é que o dinamarquês volta agora perdoado com The House That Jack Built.

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