Curto circuito, avaria, gritos e um ferido no depoimento de médium brasileiro

Polícia intrigada com imprevistos em série durante interrogatório ao medium brasileiro de fama internacional acusado de assédio por 500 mulheres de seis países diferentes
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O primeiro interrogatório policial a João de Deus, médium brasileiro denunciado por assédio sexual por 500 mulheres, incluindo crianças e adolescentes, foi marcado por um conjunto de imprevistos que deixou intrigados os investigadores da delegacia de Aparecida de Goiânia, nos arredores da capital do estado de Goiás. Houve um curto-circuito na sala, uma avaria insólita no computador, muitos gritos, excesso invulgar de calor e até o atropelamento de um agente, num cenário que sugeria influências paranormais, segundo os presentes.

Marcado para a delegacia de Anápolis, cidade também nas imediações de Goiânia, o interrogatório acabou por ter de ser transferido para Aparecida porque o agente que à partida recolheria o depoimento do médium partiu um braço ao ser atingido por uma viatura, num local onde raramente se verificam acidentes desse tipo. Já na sala de interrogatório definitiva, um calor incomum levou a que se ligasse um aparelho de ar condicionado através de uma extensão elétrica que imediatamente provocou um curto-circuito e destruiu o mini frigorífico ao lado, provocando gritos e susto. Em seguida, o computador onde o escrivão recolhia o depoimento do médium avariou. "Parecia ter vida própria, você apertava uma tecla qualquer e só escrevia 'OOOOOOO', em letra maiúscula, estamos diante de uma situação que envolve crenças e energias", descreveu a delegada Karla Fernandes´, que coordena a task force que se dedica ao caso.

João de Deus, médium com fama mundial, objeto de programa especial da apresentadora norte-americana Oprah Winfrey, guru espiritual de artistas da televisão brasileira, como Giovanna Antonelli, Reynaldo Gianecchini, Fábio Assunção, Juliana Paes ou Xuxa, e americana, como Shirley MacLaine, além de políticos como Lula da Silva, Dilma Rousseff ou Bill Clinton, desmentiu todas as acusações de que é alvo, ao longo de duas horas.

O espiritualista de 76 anos arrisca condenação por violação sexual mediante fraude, por usar a fé das vítimas para cometer atos libidinosos, e nalguns casos violação de vulnerável, por se ter aproveitado das doenças das vítimas para assediá-las. No primeiro caso a pena é de até seis anos, no segundo de 10 anos. No entanto, a maioria das mais de cinco centenas de denúncias, de mulheres de seis países diferentes, já expirou porque a lei prevê um prazo de seis meses para elas serem apresentadas - essa lei foi alterada em setembro, tornando este tipo de crimes imprescritível, mas sem efeitos retroativos. São apenas 15 as denúncias, todas dos últimos seis meses, pelas quais João de Deus terá de responder.

O médium entregou-se às autoridades no domingo e passou as primeiras noites numa cela com mais três detidos de nível superior. "Ele está abatido mas está bem", afirmou o seu advogado Alberto Toron.

João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, ou John of God, no estrangeiro, fundou em 1976 a Casa Santo Inácio de Loyola, em alusão ao padre jesuíta do século XVI cujo espírito diz incorporar. No local, atende pacientes, sem cobrar dinheiro mas comercializando medicamentos naturais.

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