28 anos a pregar a curta-metragem. Pregar para conquistar. O Curtas Vila do Conde arranca hoje em formato edição especial numa altura em que se consolida como um dos maiores festivais europeus. Se é verdade que descobriu a "geração Curtas", de Miguel Gomes a Sandro Aguilar, passando por Rodrigo Areias e João Nicolau, agora, sobretudo com o que se espera desta competição nacional, é lícito pensar-se numa segunda vaga, numa segunda Geração Curtas..Um festival de cinema que pôs a curta-metragem na ordem do dia, mais do que isso, colocou o nome de novos cineastas nas bocas do mundo. É devido ao Curtas que as curtas portuguesas chegaram aos cinemas e que se impuseram como um "trend" lá fora. Não deixa de ser simbólico que numa edição física imposta pelas restrições do Covid acabe por haver uma contingência física: o festival tem sessões em simultâneo noutras cidades, de Faro ao Porto, passando por Lisboa. Sempre com salas a respeitar as regras da distância física....Vimeovimeo391245095.São mais de duzentos filmes e conteúdos apenas disponibilizados para a versão "online" do festival. A organização argumenta que há temas que debatem questões de identidades, história, sentimentos de pertença, liberdades individuais e direitos adquiridos . Filmes que vão chamar espetadores também pelo nome de quem está em competição, sobretudo na nacional onde há grande expectativa para ver os novos de Carlos Conceição (Um Fio de Baba Escarlate, que chegou a estar equacionado para ser uma longa), João Rosas (Catavento), Eduardo Brito (Ursula), Cláudia Varejão (O Ofício da Ilusão), e Filipa César (Crioulo Quântico: O Algoritmo do Algodão). Dois dos filmes desta competição nacional já estiveram em festivais internacionais: Armour, de Sandro Aguilar, em Roterdão e Noite Perpétua, de Pedro Peralta, em San Sebastián. Uma competição que terá um compromisso honroso com a sala de cinema, seja em Vila do Conde ou nas outras cidades que acolhem este ano o festival...."Diria que é uma competição nacional bastante forte, uma das mais fortes dos últimos anos. Isso também se deve ao facto de termos adiado o festival - vários filmes estavam para ser terminados e assim conseguiram ser propostos a tempo. Trata-se de um conjunto de filmes muito equilibrados, mesmo que surjam de realizadores de gerações muito diferentes, o que é muito curioso", diz-nos Nuno Rodrigues, um dos diretores do festival que realça também a capacidade do Curtas para encontrar novas soluções em tempos de pandemia, entre as quais a alternativa de oferecer o festival "online": "há muita gente que ainda não está à vontade para ter a experiência em sala e nós temos alguns filmes disponíveis virtualmente. São mais de 150 filmes que funciona como nova alternativa capaz de chegar a pessoas que vivem em sítios onde o cinema não chega"..Esta tarde, o Curtas arranca oficialmente com uma longa na secção Da Curta à Longa, chama-se Casa de Antiguidades, de João Paulo Miranda Maria, cinema brasileiro que tem o carimbo de Cannes 2020. Cinema de alegorias políticas sobre um idoso negro que resiste a um ataque de um grupo de ultraconservadores. Casa de Antiguidades é um filme de abertura de luxo de um festival que termina no outro domingo com Herdeiros de Saramago - Episódio Valter Hugo Mãe, episódio da série de Carlos Vaz Marques que pretende retratar o quotidiano de onze escritores que receberam o prémio apadrinhado pelo nosso Nobel de Literatura. O Curtas aposta numa proposta televisiva que já tinha sido aposta do Indie...."Dentro desta realidade, o festival encontrou muitas soluções. Temos um programa diversificado e de aproximação a várias áreas, com destaque ao foco a Isaki Lacuesta num programa transversal à galeria Solar e à apresentação das suas longas. Trata-se de um cineasta que é uma das grandes figuras do cinema espanhol atual, autor de uma obra consistente", salienta Nuno Rodrigues..Vimeovimeo353345334.Para lá das estreias, o Curtas propõe aos festivaleiros uma nova secção: Os grandes nunca deixam as curtas, onde vai ser possível ver curtas como Nimic, de Yorgos Lanthimos, The Fall, de Jonathan Glazer, De Una Isla, de José Luis Guerin e Potemkin Steps, de João Pedro Rodrigues.