Curdos-sírios alertam que invasão militar turca vai fazer ressurgir Estado Islâmico
Os Estados Unidos anunciaram na noite de domingo que a Turquia lideraria "em breve" uma incursão militar no norte da Síria e que as tropas norte-americanas estacionadas no país deixariam a região antes desta operação contra a milícia curdo-síria das Unidades de Proteção do Povo (YPG). Os objetivos da operação são: eliminar a YPG, e o seu braço político, o Partido da União Democrática (PYD) no território sírio a leste do rio Eufrates; e ocupar este território, para depois relocalizar para o mesmo os refugiados da guerra da Síria que atravessaram a fronteira para a Turquia.
A YPG liderou a luta contra o grupo Estado Islâmico (IS), numa frente com outros aliados árabes (na Frente Democrática da Síria/SDF) com o apoio dos Estados Unidos e de outros países ocidentais, como a França.
Uma operação militar turca anularia anos de combates bem-sucedidos pelas Forças Democráticas da Síria (FDS), uma aliança de combatentes curdos e árabes, contra o Estado Islâmico, e permitiria que os líderes da organização, ainda vivos, escapassem dos seus esconderijos, explicou o FDS em comunicado.
"Há uma frase que repetimos o tempo todo: poderíamos entrar (na Síria) em qualquer noite sem aviso prévio. Está absolutamente fora de questão tolerarmos as ameaças desses grupos terroristas", disse Erdogan numa conferência de imprensa.
A Casa Branca fez este anúncio surpresa num comunicado que relatou uma conversa telefónica entre o Presidente dos EUA, Donald Trump, e Erdogan. "As forças americanas não apoiarão nem se envolverão na operação e as forças americanas, que derrotaram o Estado Islâmico (...) não estarão mais nas imediações", disse a Casa Branca.
O Presidente turco disse no sábado que "está iminente" a intervenção militar no território sírio contra a milícia curda.
"Fizemos todos os preparativos, concluímos os planos da operação. Demos as ordens necessárias", disse o chefe de Estado turco, num discurso perante membros do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), do qual é líder.
Enquanto o PKK é classificado como organização terrorista, não apenas por Ancara, mas também pelos Estados Unidos e pela União Europeia, os dois últimos não consideram terroristas nem as YPG nem o PYD. Porém a Turquia considera as YPG um grupo "terrorista" por causa de seus vínculos com o Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK), uma organização curda que realiza atentados em solo turco desde 1984.
Desde 2016, a Turquia conduziu duas grandes operações militares no nordeste da Síria para limpar a região do Estado Islâmico e das YPG.
O chefe de Estado turco confirmou na conferência de imprensa que a retirada norte-americana já havia começado no nordeste da Síria.
Erdogan também disse que, uma reunião com Trump, que foi acordada durante a conversa por telefone, "provavelmente ocorrerá na primeira metade do próximo mês em Washington".
No seu comunicado, a Casa Branca também levantou a possibilidade de confiar à Turquia a responsabilidade dos combatentes europeus do EI, atualmente detidos na Síria pelos curdos.